NOTA PÚBLICA DO ICOMOS-BRASIL EM APOIO AO IPHAN


A decisão da Presidente do Iphan de anular a autorização para construção do empreendimento, anteriormente concedida pela Superintendência do Iphan na Bahia, teve como objetivo evitar o indiscutível impacto paisagístico negativo que a construção de uma torre com aproximadamente 100 metros de altura promoveria na ambiência do sítio tombado, caracterizada por edificações de até 40 metros. Seu criterioso posicionamento fundamenta-se no conceito de vizinhança do bem tombado, previsto no artigo 18 do Decreto-Lei 25/1937, cuja interpretação foi ampliada e consolidada pela jurisprudência dos Tribunais brasileiros.
Os desdobramentos do fato, como a imprensa divulgou, levaram o Ministro da Cultura, Marcelo Calero, a demitir-se do cargo e a declarar em entrevista à Folha de São Paulo ter sofrido pressões de um influente ministro do atual Governo para desconsiderar a posição do Iphan e aprovar o empreendimento, em clara sobreposição de interesses pessoais ao interesse público.
Tal situação é representativa das constantes tentativas de interferência praticadas contra a autonomia do Iphan nos últimos tempos, que vêm sendo denunciadas pelo ICOMOS-BRASIL a exemplo das substituições de especialistas experientes no campo da preservação do patrimônio cultural por indicações políticas sem formação ou qualquer experiência prévia ocorridas em algumas Superintendências do órgão.
Prestes a completar 80 anos de intensa e reconhecida atuação na preservação do patrimônio cultural brasileiro, o Iphan deve ter sua autonomia garantida e nas suas decisões devem prevalecer obrigatoriamente os critérios técnicos e os interesses coletivos.
Por tais razões, o ICOMOS-BRASIL corrobora integralmente o entendimento do Iphan quanto ao inaceitável prejuízo que a construção do empreendimento residencial La Vue causaria à paisagem do bem cultural tombado e apóia firmemente a decisão de anular a autorização do dirigente estadual. Ao mesmo tempo parabeniza e expressa solidariedade aos servidores do Instituto e, em especial, ao Diretor de Patrimônio Material, Andrey Schlee, e à Presidente Katia Bógea.
Belo Horizonte, 22 de novembro de 2016.
Nenhum comentário:
Postar um comentário