Editorial jornal A TARDE
09/01/2017
Os recursos destinados à saúde e à educação ainda são escassos para garantir um mínimo de qualidade em duas áreas vitais para o desenvolvimento do País. No entanto boa parte deles continua se perdendo no trajeto entre os gabinetes oficiais e os hospitais e escolas. Quase 70% dos esquemas de corrupção com verbas federais descobertos nas prefeituras brasileiras desviaram recursos destinados a estes dois setores.
É
o que mostra levantamento feito com base em 247 investigações federais,
realizadas nos últimos 13 anos e apontadas pelo Ministério da Transparência,
Fiscalização e Controladoria-Geral da União (CGU), em parceria com a Polícia
Federal e o Ministério Público Federal. Ao todo foram reveladas fraudes em 729
municípios, ou 13% das cidades do País. O governo estima que desde 2003 o
prejuízo nessas cidades seja de pelo menos R$4 bilhões.
Os
investigadores identificaram organizações que tiravam recursos públicos de quem
mais precisava para alimentar esquemas criminosos milionários e luxos
particulares. Em um dos casos mais estarrecedores, em Alagoas, o dinheiro da
União repassado para a merenda escolar de 14 municípios, foi usado para comprar
uísque 12 anos e vinho importado.
As
deformações nos usos previtos em lei vão desde gastos incompatíveis até
contratos irregulares, e confirmam a continuidade de velhas práticas que além
de envolver servidores de carreira ou em cargos de confiança têm o agravante de
incluir políticos como vereadores, secretários municipais e até prefeitos –
justamente aqueles que deveriam estar mais preocupados com o rigor na
destinação do dinheiro público.
Áreas
extremamente visadas para fraude e corrupção por conta do grande volume de
recursos que movimentam, a saúde pública e a educação deveriam contar com
fiscalização mais rigorosa e até mesmo específica. Desvios nestes setores na
maioria das vezes provocam consequências irreparáveis e devastadoras, que vão
bem além do aspecto financeiro. É preciso adotar ações arrojadas de reforço aos
sistemas de controle. Já passou da hora de se mudar este cenário com medidas
adequadas de combate à fraude gerada pela permissividade.
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