sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

WILLIAN, O CARA...

Camilo De Oliveira Aggio


Resultado de imagem para FOTOS DE TATUAGEM DE HENNEWillian, o cara que (eu acho) trouxe a 
henna pra Salvador
Era meados de 1999. Nessa época, trabalhava ao longo do dia e estudava à noite. Morava no Trobogy. Durante a semana chegava em casa tarde, por volta de 23h. Em um desses dias, ainda de fora da casa, ouço o telefone tocar. Abro a porta correndo e atendo.
- E aí, Camilo, beleza? Tá lembrado de mim?
Penso logo em trote.
- Como assim lembro de você? Quem diabos é você?
- Willian, mano! De Juquitiba.

(Conheci Willian por volta de 1994 nessa cidade interiorana de São Paulo onde minha tia Claudete Chaves mora.)
- Claro, cara!! Tudo bem contigo? Há quanto tempo....
- Tudo bem, mano! Então....tô aqui na rodoviária de Salvador.
- Acuma?
Bem, o resto infere-se. Não o via há mais de cinco anos e o cara de repente aparece num telefonema, na rodoviária de Salvador e, lógico, fica hospedado lá em casa por uns dois meses.
Willian chegou em Salvador sem o dinheiro de volta, mas muito tranquilo e confiante. A razão para tanto se assentava na segurança de que faria essa grana fácil, visto que tinha o mapa da mina: dizia que fazia muita grana em Sampa com a tal da tatuagem de henna.
Devido à minha rotina, Willian acabou se incorporando rapidamente ao meu círculo de amigos. Como não poderia deixar de ser, na Bahia, Willian foi rebatizado. Virou o "Paulista".
Nós lá da Rua Mocambo, num primeiro momento, desconfiávamos dessa conversa de henna, mas não demorou muito para descobrirmos que a coisa era mais real do que imaginávamos. O já Paulista, seguindo nossas orientações, descia para a Avenida Paralela andando e tomava o Praia do Flamengo. Do fim de linha, corria para a areia da praia e descia andando, pelo menos, até Jaguaribe.
E voltava com uma grana ótima. A gente ficava espantado e não demorou para convocarmos uma praia coletiva para atestarmos a veracidade da coisa. Acabamos fazendo isso milhares de vezes. O Paulista era um exímio imitador de galinhas. Com sua imitação, ele conseguia enganar até galinhas e galos. Ou seja, até o caminho para a praia, nos divertíamos muito fazendo motorista, cobrador e passageiros acharem que estávamos carregando algum frango nas nossas mochilas.
Divagações à parte, eu frequentava muito as praias de Salvador com os amigos naquela época. Nunca, jamais, havia visto alguém fazendo tatuagem de henna na cidade. O Paulista chegava com seu desodorante stick, seu catálogo de desenhos e outros materiais e abordava os banhistas. O cabra conseguia uma média de 85% de aproveitamento nas abordagens. E ali estava a prova da grana que fazia. O negócio era um sucesso.
William foi embora uns dois meses depois, como disse acima. Voltou para o lugar de onde veio: do nada. Nunca mais recebi notícias. Nunca mais nos falamos.
Claudio Barata, um dos grandes amigos do Trobogy e vizinho de porta, foi quem mais acolheu e andou com o Paulista. Sempre teve talento para o desenho e não demorou para aprender as técnicas. Percorreu as praias de Salvador fazendo henna e viu o monopólio desaparecer gradativamente. Henna virou uma febre nas praias de Salvador.
O Paulista, é uma daquelas figuras quase-fantasmagóricas cuja a função parece ser o de se materializar em algum lugar para mudar as coisas. Aparece na vida de alguém de repente e de repente some, deixando para trás a missão cumprida.
Tenho convicção de que esse cara trouxe a henna para Salvador. E também fez um cara mudar completamente suas aspirações e planos de vida. O camarada que queria virar um cientista social, viu uma grande oportunidade para dar vazão e forma às suas aspirações artísticas. Claudio Barata é um dos tatuadores mais talentosos que existem hoje, por certo. Acho que foi para isso que Willian, o Paulista, surgiu em Salvador e evaporou poucos meses depois.
Ah, e não apenas comprou a passagem de volta como fez uma boa poupança. :)

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