quinta-feira, 1 de junho de 2017

EDWARD SNOWDEN EM PORTUGAL

EDWARD SNOWDEN VEIO A PORTUGAL E ISTO FOI O QUE NOS DISSE

DIVULGOU UM DOS MAIORES PROGRAMAS DE ESPIONAGEM DO MUNDO. PARTICIPOU ESTA SEMANA NAS CONFERÊNCIAS DO ESTORIL.



Para quem viu o filme e o documentário, a história de Snowden não deverá ser desconhecida. Norte-americano de nascimento e de coração, trabalhou na CIA e na NSA porque acreditava que o trabalho destas agências era bom para o seu país. Mas depressa se apercebeu dos programas de vigilância massiva dos cidadãos, que em vez de “salvarem vidas” (palavras do próprio), respondiam a interesses políticos e económicos.

Foi então que decidiu arriscar e quebrar até as regras mais inquebráveis – pegou em informações até então confidenciais do Governo norte-americano e passou-as aos jornalistas do The Guardian. Deixou nas mãos de Gleen Greenwald e da sua equipa o trabalho de analisar toda a documentação sobre os programas secretos da NSA e de definir o que divulgar, tendo por base o interesse público.
O caso resultou num dos maiores leaks da história política mundial. Snowden teve de se proteger, refugiando-se em Moscovo, capital da Rússia, país que lhe ofereceu asilo depois de os Estados Unidos o considerarem um traidor e o acusarem de espionagem, querendo detê-lo e fazer-lhe coisas das quais ainda hoje não temos ideia concreta. Desde 2013, Snowden escreve regularmente no Twitter, tendo-se tornado um activista dos direitos humanos, cuja voz é ouvida por milhões de pessoas em todo o mundo. Faz algumas raras aparições públicas através da Internet, participando em conferências e debates como esta terça-feira, nas Conferências do Estoril. Em baixo podes conferir alguns dos momentos mais marcantes do seu discurso.

“Somos nós, enquanto sociedade, que temos de resolver os problemas”

“Todos podemos ver o caminho que nos delinearam, pavimentado com medo”, mas, nas palavras de Edward Snowden, temos a capacidade para mudarmos de rumo. Só precisamos de “ser corajosos” e de “não ficar à espera de um político que nos salve”.
“Somos nós, enquanto sociedade, que temos de resolver os problemas. É preciso metermos mãos à obra, agirmos e mudarmos o mundo”, disse Snowden. “O Governo não vai agir de acordo com o interesse do público, a não ser que tenha de o fazer.” Na sua visão, temos agora novas tecnologias para defendermos os direitos humanos e podermos liderar e não ser liderados. “Se criarmos mecanismos, laços de fraternidade entre países e comunidades, de forma política e justa, podemos criar um ambiente mais justo para nós e para as nossas crianças.”
Edward Snowden diz que as revelações sobre a operação da NSA foram uma “acção necessária” e voltou a explicar o porquê de ter entregue essa tarefa a jornalistas: eram eles que, melhor que ninguém, sabiam o que era de interesse público, conseguindo fazer o filtro adequado de toda a informação que lhes passou.

“Está mais próximo a cada ano que passa”

Snowden mostrou que já esperava o não-perdão de Obama, apesar de ter sido montada uma campanha no final do seu mandato. Recordou que “Obama foi um dos mais embaraçados com as revelações” e referiu ainda: “Em segredo, em vez de terminar estes programas, estendeu-os e expandiu-os. Tornou o seu uso mais comum, normalizou o que tinha sido um programa impopular e ilegítimo da administração de George Bush”, que deixou de ser uma “cena republicana” e passou também a ser uma “cena democrata”.
Ainda assim, Edward Snowden acredita que o regresso aos EUA “está mais próximo a cada ano que passa”. Deu como exemplo um antigo delator norte-americano que também foi fortemente criticado em praça pública, mas que com o passar do tempo a população começou a perceber que não tinha agido contra a pátria, mas que o que fez foi um favor a todos.
Snowden, recorde-se, já se disponibilizou a comparecer perante a justiça norte-americana, só com uma única condição – poder explicar o motivo pelo qual fez as revelações. Os Estados Unidos nunca aceitaram e o delator então está asilado na Rússia.
Símbolo da luta não só pela privacidade mas também pelos direitos humanos, pela liberdade de expressão e pela democracia, Edward Snowden respondeu a algumas questões da audiência. Foi notório o entusiasmo nas caras da meia dúzia de pessoas com quem tive a oportunidade de falar, com o homem responsável pela divulgação dos maiores programas de espionagem do mundo. Snowden foi tratado como um “um verdadeiro herói”, elogio ao qual o próprio sempre fugiu. Preferiu colocar o heroísmo – se é que existe algum – do lado dos jornalistas.

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