segunda-feira, 4 de setembro de 2017

OS PEITOS DE JAYNE MANSFIELD...

Ygor da Silva Coelho

Imagem relacionadaNão vou dizer que é confortável andar de ônibus todos os dias. Mas andar de buzu vez por outra, por esporte, ajuda a conhecer melhor a cidade, gente e comportamentos. Assim pensando, de vez em quando pego um buzu. Apesar dos apelos quando saio de casa:
- Vá de táxi! Pegue um Uber! Deixe de ser casquinha!
É um pessoal insensível este de minha casa. Por isto é que eu tenho fatos para contar e eles ficam remoendo sobre as novidades que viram no Shopping Barra... Que coisa mais desinteressante!
Interessante foi, sim, a viagem que fiz até Itapuã num destes dias em que a mídia só falava de homens encostando em mulheres nos ônibus. Foi uma viagem que me deixou cheio de interrogações...
Peguei o buzu na Barra. Cheio, lotado! Um jovem me ofereceu o lugar, eu agradeci e recusei. Sinto-me forte o suficiente para seguir em pé. E assim vejo melhor as praias.
O ônibus seguiria até a Lagoa do Abaeté e eu ia passar uma tarde em Itapuã. Já dizia Vinícius como é bom passar uma tarde em Itapuã!
Mas foi no meio do percurso, ainda no Rio Vermelho que eu ouvi - melhor dizendo - eu senti um disk disk macio que não brotava dos coqueirais. Uma vez, duas, três... Uma morena do meu lado, com a cor de Sofia Loren e os seios de Jayne Mansfield, passando os seus atributos no meu braço. Desconfiei que era o balanço do "trem". Mas o "trem" foi esvaziando a cada ponto... Rio Vermelho, Amaralina, Pituba. E Jayne Mansfield do meu lado. Seus atributos, também.
O cobrador olhava, não sei se pra mim ou pra Jayne Mansfield. O motorista, distante, lá na frente, fiscalizava o interior do veículo, passando os olhos pelo retrovisor interno.
Comecei a temer o pior. Não vou negar que estava gostando de Jayne Mansfield, "furando" meu braço, mas... e se ela fosse uma desequilibrada? E se ela gritasse que eu estava me encostando nas suas virtudes?
Naquela hora senti falta de meu pai e de meu avô João Amaro Coelho, ótimos conselheiros para essas situações. Recordei dos meus velhos, que não perdiam chance. Mas também lembrei da mídia que só fala neste assunto atualmente. O tema chegou ao ponto de fazer a rede Globo esquecer o PIB brasileiro, esquecer Joesley, Temer e a Amazônia. Só trata de assédio em ônibus. São análises jurídicas, matéria no Globo Repórter, Globo News Em Pauta, entrevistas no Estúdio I e no programa Cidades & Soluções. Com tanto destaque na TV, fiquei preocupado com Jayne Mansfield encostando em mim!
Eu só planejava dar um passeio de ônibus, ver a orla, tomar uma cachaça de rolha em Itapuã e poderia me enrolar com aquela situação. Foi quando surgiu uma cadeira. Um cara saltou no Jardim de Alá e ligeiro, com receio, tomei o assento, fugi daquele seio!
Eu sei que Mário Piroca vai dizer que fui frouxo, meu avô iria me recriminar, dizer que eu devia ter saltado com Jayne Mansfield nas dunas do Abaeté. E eu teria que lhe explicar:
- Meu avô, são outros tempos! Se ela me denúncia pego cana! Não estamos mais na época do Tabaris. A boate de Pureza, que o senhor frequentava já fechou! O senhor sentava para um drinque no Cacique, chamava a primeira morena que passava e oferecia um sorvete dusty miller. Hoje a morena nem sabe o que é dusty miller! O que muitas sabem é aplicar um golpe chamado Boa Noite Cinderela. Vivesse hoje, o senhor, com sua saliência, ia dormir na mesa de um bar e a sua carteira ia sumir.
Confesso que não foi com medo de perder a carteira que sentei longe de Jayne Mansfield. O receio foi imaginar minha foto no Jornal A Tarde do dia seguinte com a manchete: "Aposentado apalpa morena em ônibus!"
E vou dizer outra coisa, meu avô: Olhar seu neto aqui olhou. Mas, de olho na praia e checando Jayne Mansfield, percebi que aqueles seios eram mares arriscados para navegar.
Poderia dar escândalo e ia pegar mal. Afinal, eu só queria mesmo passar uma tarde em Itapuã! Ouvir o disk disk macio que brota... dos coqueirais!

4 comentários:

  1. Caro Dmitri, parabéns pelo novo blog! Foi uma satisfação conhecê-lo pessoalmente, eu que só o conhecia por seus textos e artigos! Você faz muito bem à nossa Bahia!
    E grato por publicar minha recente crônica!É para mim uma honra!

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  2. Uma crônica ambientada na cidade de São Salvador! Obrigado por nos lembrar de Itapuã!

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