quarta-feira, 6 de setembro de 2017

UMA NEGRA SE QUEIXA

"Homens negros, em sua gigante maioria, relegam mulheres negras assim que a primeira branca passa por eles. Nos usam para iniciarem suas vidas sexuais e o amor por nós nunca chega. 

Gritam o discurso de que o amor não tem cor, mas a parceira ao lado deles é sempre a branca. E quando assumem uma relação conosco, imprimem uma lógica de subalternização, não nos apoiam, nos desqualificam. Alguns a minha volta com um belo discurso afro-centrado, nunca os vi com uma preta ao lado, se não no discurso da mesa de bar de que, coitados, o racismo é muito internalizado neles.

Mas ai de nós se ousamos ser felizes e dizemos basta a este ciclo de rebaixamento. E pior! Se decidimos tentar esta felicidade com um homem branco! Ah... Vamos pagar caro por isso. 

Eles, pelo contrário. 
Eles podem nos largar pela branca mais horrorosa que aparecer, mas é branca, assim que alcancem qualquer status social (e aqui inclui-se cultural) melhor. 
Mas nós, não! 
Nós temos que viver cuidando dos filhos, que eles abandonaram, sozinhas. Se estivermos com um homem branco, devemos ser ridicularizadas. O amor só não tem cor quando você, preto, está com a sua loira com menor escolaridade, que sequer busca compreender o que é ser negro neste mundo. 

Afinal, é exatamente isto que vocês procuram: algo que apague de onde vieram e do que são.
Mulher negra com homem branco? Joga pedra nessa Geni!
Mas que fique escuro, manas, pra estar ao lado de um homem branco também é preciso nos cercar de cuidados. 


Ele precisa mostrar que segura a bronca, o que geralmente vejo. Não apaguemos de onde viemos e o que somos. Aliás, na grande maioria das vezes, sequer esta é a ideia de um homem branco que nos assume. Não aceitem menos do que o tratamento de rainhas. E não, não desistamos de um amor que se apresenta para nós porque uma horda de homens negros, que reverenciam outros homens negros casados todos com mulheres brancas, resolve nos criticar por isso.

O dia que homens negros fizerem declarações de amor para nós em praça pública (ou em postagem pública), a gente começa a conversar. Até lá, abracem o amor, porque ele raramente aparece para nós. Nao somos as únicas responsáveis por libertar aqueles que relutam em se libertar. Não passemos uma vida nos negando amar, enquanto eles nos usam e amam a outra.
Vamos nos permitir.


Ps: todos os homens que me assumiram até hoje foram brancos. Todos os homens negros que me relacionei, me descartaram e, grande parte deles, está com mulheres brancas hoje. Não é uma ideia, é empirismo. E não estou nem um pouco disposta a passar uma vida esperando por aqueles que se auto-negam todo dia."


Juliana Borges

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