Após quase um mês, as prazerosas andanças chegavam ao fim. Como
não se apaixonar por esta terra tranquila e hospitaleira, carregada de história,
de rica culinária? Cada dia, cada hora haviam-me trazido outros encantamentos.
Neste
país de pedra e areia nascera muito da civilização ocidental. Os primeiros
escritos, as primeiras notas musicais. Visitara templos do princípio da
cristandade.
O que resta da coluna de São Simeão rodeada por uma suntuosa
arquitetura bizantina. Tirando a areia com a palma da mão, apareciam mosaicos paleocristãos.
Da mesquita otomana do Mimar Sinan em Damasco, só pudera admirar a parte
externa. Viajara um bom pedaço da Síria a convite de duas amigas, ambas recém
divorciadas, que alugaram uma van com motorista. O restante, de táxi ou de
trem.
Em Palmira, a Roma Dourada, onde a sombra da rainha Zenóbia ainda passeia
entre colunas corintianas no meio do deserto, imaginei caravanas da Rota da Seda.
Hospedado em Alepo pelo cônsul geral da França, fora recebido
na extraordinária mansão –fachada discreta, quase banal do bairro cristão – da
escritora Myriam Antaki. Bustos romanos, raros tapetes persas, móveis
franceses, azulejos de Esfahan. No piano de cauda, fotografias de sultanas e
príncipes. Antigos palácios transformados em restaurantes onde jantamos de mezes
deliciosos e vinhos libaneses.
Ouvi, de noite, o longo e milenar lamento das norias
de Hama desviando as águas do Orontes. Passaram-se dez anos, mas ainda me
emociono ao lembrar o fado das imensas rodas. Andei pelas ruas de basalto negro
de Bosra até o teatro construído, dizem, por Adriano, como o Panteão de Roma. Outra
sombra, aquela do belo Antinous... Ao chegar no Krak dos Cavaleiros em fim de
tarde, quando as muralhas passam do rosa ao violeta, mergulhei nas batalhas de
Saladino contra os cruzados. Parecia ainda sentir o cheiro da pólvora e ouvir o
ruído das armas.
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