Com
cabeçalho do Bahia-Notícias, jornal on-line do muito respeitado Samuel
Celestino, a falsa informação abriu uma fresta de esperança no quotidiano
angustiado de muitos baianos. Na aprazível cidade de Rio de Contas – tenho um
especial carinho por esta pérola da Chapada Diamantina - o prefeito teria confiscado todos os paredões,
caixas de som e outros infernais produtores de violência sonora. Uma
fotografia, que alguns afirmam ser simples montagem, ilustra dois
rolos-compressores esmagando os malditos. Impiedosamente, as redes sociais desmentiram
a informação, inclusive o Bahia-Notícias.
Meu domingo ficou mais sombrio.
Sempre no
Facebook, a fotocópia de um artigo anuncia “Por causa da fiscalização dura,
ocorrências registram queda”. Lindo título que não irá satisfazer ninguém. Você
já tentou ligar para o 156? Eu, várias vezes. Em vão.
São 43 fiscais para 3
milhões de soteropolitanos. Um fiscal para cada 70 mil moradores. Suponhamos
que 1% ultrapasse os decibéis permitidos, ainda serão 700 focos de violência
sonora para serem controlados por cada fiscal e por 24 horas. E ainda teremos
que dividir as 24 horas por 3 turnos. Controle matematicamente impossível. 200
fiscais ainda seriam insuficientes para Salvador se transformar numa cidade
normal.
O direito ao
silêncio dentro de sua residência é inalienável. O município é responsável.
Velho morador de meu bairro, sou com frequência chamado a opinar sobre excessos
cometidos por empresas de entretenimento ou comerciantes que perturbam o
descanso de parte da área.
O problema é que, quando algum eventual infrator se
dispõe a dialogar, os que afirmam ser incomodados não se dão ao trabalho de
comparecer.
Quais são os
poluidores mais agressivos? O leque é amplo e irrestrito.
A vizinha do andar de
cima que anda de salto alto no meio da noite. Adolescentes que berram no
play-ground.
O carro que chega no condomínio de madrugada com o som na beira da
explosão.
O vizinho que adora uma AM bem brega de Batista de Morais para
baixo, e desde as 8 da manhã invade meio bairro com o som mais deprimente que o
homem inventou nos últimos cem anos, fumaça gordurosa da calabresa assada
entrando até o seu banheiro.
A igreja pentecostal que grita que Jesus precisa
de seu dinheiro.
A Coelba, ou a Conder, ou a Embasa, que resolve abrir uma
cratera antes das 7 bem debaixo de sua janela com duas britadeiras porque uma é
pouco.
O motoqueiro que o desperta assustado com uma petardada provando que a
sucata montada nada tem de Harley-Davidson.
Então, caso
este prefeito não existir, sonharei com um aparelho revolucionário que possa
filtrar os ruídos, eliminando os agressores. Algo como uma bolha individual.
Merecerá
o Prêmio Nobel da Paz.
Dimitri Ganzelevitch
Jornal a Tarde
Sábado, 10 de Fevereiro 2018
É a pura verdade,meu caro Dimitri.No Sto. Antonio, onde V. mora, as casas ainda não se organizaram em condomínio, o que seria difícil pela própria natureza do tecido urbano de origem lusitana. Em quase toda a cidade, vertical ou horizontalmente, essas estruturas burocráticas inescapáveis, os condomínios, seja qual for a faixa de renda, do AP na Mansão Costa Pinto, na Vitoria, à casa de João Bispo dos Santos, na Engomadeira, reinam...E mesmo nelas, os senhores síndicos não controlam bem os seus pequeninos feudos. Seu aparato 'revolucionário' poderia ser a educação domestica coletiva ou o treinamento profissional dos próprios síndicos...
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