sexta-feira, 4 de maio de 2018

DIETA VEGANA


JOSIMAR MELO
CRÍTICO DA FOLHA

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A experiência de passar uma semana sem consumir nenhum produto de origem animal (como fazem os veganos) para esta reportagem pareceu que seria chata, mas fácil. Uma semana sem carnes, laticínios, ovos? Moleza -ou, como dizem os americanos, "a piece of cake" (um pedaço de bolo -sem manteiga, leite ou ovos, claro).

Dieta vegana causa carência de nutrientes
Outro lado: Vegano afirma que dieta é mais fácil do que se imagina

Com o passar dos dias, porém, fui entendendo que a opção vegana -esse vegetarianismo radical, inspirado por razões ideológicas (não explorar animais) e não de paladar ou saúde- vai além de empobrecer (em nutrição e gastronomia) a nossa mesa.

Pois não se trata apenas de eliminar os ingredientes animais, mantendo de resto nossa dieta habitual -gostosas massas com vegetais, legumes crocantes ao alho e óleo, saladas exuberantes, belas tortas de frutas... Não: ao subtrair os alimentos animais que nos fizeram humanos moldando nossa fisiologia, essa dieta priva o vegano de nutrientes fundamentais.

Como explica a arqueóloga Claudia Plens, professora da Unifesp, "o desenvolvimento do nosso cérebro e da nossa capacidade cognitiva se deu graças ao consumo da carne", no curso "Arqueologia da Dieta e da Alimentação", ministrado na USP.

Sem a carne, os nutrientes precisam ser repostos, numa estratégia de guerra em busca de ingredientes muitas vezes estranhos à sua cultura.

ANTINATURAL

Como vivi na pele, a comida vira um problema. Quem segue o curso da natureza (que deu aos humanos um lugar onívoro na cadeia alimentar), alimenta-se intuitivamente (tipo arroz, feijão, salada e bife) e tem basicamente os nutrientes de que precisa.

Já a opção vegana implica uma permanente busca por sobreviver com outras estratégias alimentares, que não a natural. O prazer da mesa é trocado pela lógica da receita médica, necessária para evitar a subnutrição.




E embora um bom chef seja, sim, capaz de fazer pratos deliciosos sem produtos animais, a ausência diária desses impõe a necessidade de introduzir grãos, castanhas e outros ingredientes compensatórios que tornam a comida pesada, sem sutilezas, sem refinamento.

A menos que me convençam que coisas como "peixe de soja", ou "lombinho vegetal" (sem falar de "hambúrgueres", "salsichas" e "presuntos" cheios de corantes) são capazes de trazer alegria ao paladar e à mente de quem, como eu, não gostaria de transformar o momento de comer numa operação medicinal.

Sou mesmo natureba. Respeito os milhões de anos em que a natureza nos fez onívoros -e fez de nós parte do seu equilíbrio.

Nem quero pensar no dia em que os humanos pararem de comer outras espécies: estas vão se multiplicar e em pouco tempo atacarão nossas plantações -e os humanos que cuidam delas. Será o fim do equilíbrio regulatório natural. Melhor respeitar nosso lugar nesse ciclo -e, de quebra, satisfazendo o paladar com sabores atávicos que a história nos incutiu.

*

'Sou adepto à cruzada contra a crueldade com os animais'

Talvez a principal referência dos veganos, o filósofo australiano Peter Singer afirma que os que comem animais (ou usam seus derivados -mesmo para vestir) são "especistas": agem como uma espécie superior às outras.

Eu, ao contrário, acho que quem se considera superior é aquele que resolve redefinir a natureza, revogando a cadeia alimentar, assumindo o papel não só de espécie superior, mas de Deus.

Porém sou adepto à cruzada contra a crueldade com os animais. Um leão chega a comer uma zebra enquanto a mantém ainda viva. Os humanos, creio, deveriam, ao contrário, reverenciar os animais que nos alimentam, provendo-os de uma vida tranquila (criados soltos, com boa alimentação) e abatendo-os sem estresse nem dor.

Esse ideal significa produções menos intensivas e, portanto, menor oferta de produtos animais. Mas é um preço justo a ser pago.

Se não houver bife para todos os dias, vamos comer menos carne, vamos intercalar com ovos, aves, queijos. Também da variedade vem o prazer gastronômico. E o respeito aos animais que nos alimentam incute um prazer espiritual que deveria sempre acompanhar uma boa refeição.

2 comentários:

  1. Imaginemos que esta mesma pessoa que escreveu este texto receba como missão relatar sua vivência como cristão em uma semana, seria assim: "A experiência de passar uma semana acreditando em um ser que não se vê, não se toca, não se escuta (como fazem os cristãos) para esta reportagem pareceu que seria chata, mas fácil. Uma semana no meio de um monte de alienados, igreja, orações? Moleza -ou, como dizem os jogadores de futebol: "matar no peito e fazer gol". Com o passar dos dias, porém, fui entendendo que a vida cristã -esse alienismo radical, inspirado por razões ideológicas (acreditar em algo que não existe) e não de viver a vida como deve ser vivida - vai além da falta de razão e inteligência (as pessoas não pensam, são conduzidas). Pois não se trata apenas de viver pensando que uma coisa que não se sabe onde está vai te fazer tudo de bom, mantendo de resto nossa capacidade de decisão - como em um livro chato (escrito pela tal coisa que sabe tudo) que diz que nós temos capacidade pra pensar... Não: quem acredita nisso perde a totalidade da razão e é conduzido por interesses financeiros de líderes que querem enriquecer às custas de pobres miseráveis."XXXXXXXXXXXXXXXXX Pois bem, esta seria a experiência da vida cristã relatada por esta pessoa que se diz crítico. Uma coisa eu sei: para ser crítico de algo, a pessoa tem de conhecer profundamente do que vai criticar, senão arrota besteiras, ignorâncias estupidez. Então, assim como para criticar a vida cristã somente uma pessoa que vive realmente o que é ser cristão, e não é em uma semana que se conhece profundamente, o mesmo é para a vida vegana, há de vivê-la para poder criticar. Caso contrário, este cidadão que se diz crítico não passará de um estúpido que arrota idiotices.

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  2. Poxa, Alvaro, menos...É apenas um ponto de vista!Também gostaria de ser vegano mas sem essa preocupação medicinal e ideológica, apenas porque v. se sente mais leve comendo vegetais, só isso!
    Mas concordo com Dimitri, renunciar aos prazeres da mesa 'assassina'é meio que anti-natural: poupar os animais do sofrimento já seria um avanço, mas...quem se importa???Aviso: CIBERURBE é Lourenço Mueller

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