Quem frequentou a festa da Conceição da Praia nos anos 70-80
não esqueceu o ambiente e as belezas. Umas cinquenta mil ou mais pessoas
transitavam alegremente desde a igreja até o Mercado Modelo. Eu costumava beber
uma geladinha no Sultão das Matas e jantar de efó na histórica Barraca da
Índia. Iniciava-se o ciclo do verão, definindo uma identidade cultural, hoje
triste sombra do que já foi. Tenho a erradicação das tradicionais barracas por
uma prefeita aculturada como início da decadência. A partir da data em que
estruturas de alumínio e coberturas de plástico substituíram uma das expressões
mais significativas da cultura popular baiana, as festas iriam gradativamente
desaparecer, apagando da memória da cidade, entre outros, tradicionais fazeres
de pintores letristas e carpinteiros de bancos e mesas.
Do carnaval que conheci, com índios, crentes, sujos e
pierrôs, Morais Moreira embalando os foliões, a decoração das praças e avenidas
pelo Juarez Paraíso, nada resta. A Axé Music acabou com meus carnavais. Como as
mortalhas acabaram com as fantasias e os abadás com as mortalhas. Questão de idade?
Claro!... Mas também questão de qualidade cultural. Nossos administradores “profissionalizaram”
as festas. Em outros termos: substituíram toda e qualquer autenticidade pela
deusa Rentabilidade. A cor “marrom-cerveja” ocupa, absoluta, os espaços das
bandeirolas, das homenagens a famosos carnavalescos, das cortinas de chitão e
dos jarros com espada de Ogum. Os canais de televisão estabeleceram uma
ditadura de horários, de preferências rítmicas, de bonecas de bumbum polpudo e
malhadões tatuados. Pedaços da orla foram transformados em sambódromos, dos quais,
aliás, sambas e marchinhas foram excluídos.
Do Santo Antônio de outrora o que restou, além de algumas teimosas
trezenas? No largo do meu bairro, nos anos 80-90, havia uma festa da
comunidade. Senhoras da paroquia montavam barraquinhas onde eram vendidos
licores, bolos diversos, canjicas e amendoins. Aparecia uma quadrilha, corriam
as crianças à volta do coreto. Hoje é pagode, cerveja, barulheira e mijo.
Quando não alguns tiros.
A Semana Santa é tempo de recolhimento, de contrição para os
cristãos. É? Não: Era! Hoje é farra. Na minha rua tem até bloco de carnaval,
com fartos decibéis de música brega! As procissões estão agonizando, em boa
parte por culpa dos próprios responsáveis que muito contribuem para a descaracterização,
chegando até a anular o evento quando um chuvisco ameaça. Poucos moradores
assistem desde a janela que não se preocuparam em enfeitar. Os cânticos são de
uma mediocridade musical deprimente, empurrando preguiçosamente a marcha de
fieis indiferentes.
Para onde foram nossas magias?
COMENTÁRIO DO BLOGUEIRO
Na publicação deste artigo, o jornal A Tarde, se permitiu trocar "prefeita" por "prefeitura". Censura a pleno vapor!
Caro Dimitri, há algo de novo acontecendo, por exemplo, no Parque da Cidade e isso pode contribuir para o convívio harmonioso de de pessoas de faixas diferentes.
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