domingo, 1 de julho de 2018

QUADRILHA

Paulo Ormindo de Azevedo

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O dicionário Houaiss registra 15 significados para a expressão, a maioria ligada a competições com cavalos, jogos e danças juninas. Mas a acepção mais popular tem caráter pejorativo: bando de malfeitores, súcia, corja. Foi inspirada na brincadeira em ronda em que todos dançam, que Carlos Drummond de Andrade, escreveu um delicioso poema com esse título, que reproduzo a seguir:
“João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém. 
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento, Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia, 
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história”.
Trocando o verbo amar por delatar e a expressão convento pelo sinônimo prisão teremos um retrato fiel da quadrilha de políticos, com honrosas exceções, e da súcia de empresários que governam e querem continuar mandando no país. Como no poema, podemos ter uma surpresa inesperada com um fascista sequestrando a noiva. Queremos o julgamento e prisão dos corruptos, mas sem o espetáculo midiático que nos paralisou nos últimos três anos e disseminou a descrença no país. A crise não é só moral, senão estrutural do regime político hibrido de presidencialismo e parlamentarismo que Sarney criou em 1988.
O presidencialismo de coalizão chegou ao fim. Estamos à deriva porque só se governa dando vantagens aos parlamentares: mensalão, anistia fiscal, cargos de confiança, perdão de dívidas, obras para empresários corruptos e emendas parlamentares para primeiras damas e amigos. Vivemos o presidencialismo Frankenstein, ao som do samba de uma nota só. Já não se ouve falar de Legislativo nem Executivo.
Mas discutir uma nova constituição neste momento de instabilidade política e econômica seria uma temeridade. Não temos, portanto, nenhuma perspectiva de estabilidade política e retomada do crescimento, a médio prazo, num panorama de falência institucional e recrudescimento da guerra comercial global que está se apropriando do país em liquidação. Salve os que morreram no 2 de julho!
SSA: A Tarde de 1º/7/18

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