Depois de muito pensar em morar na propaganda do governo, agora os brasileiros têm um novo desejo: morar em Abu Dhabi. Ou melhor, morar no Brasil que será transformado na capital dos Emirados Árabes Unidos quando Geraldo Alckmin (PSDB) assumir a Presidência da República. A promessa perfeita para o caos em que se transformou o país nos últimos tempos se não fosse por um detalhe: é impossível transformar água em vinho e operar milagres para salvar o Brasil. Muito menos com um discurso raso como este vindo de um potencial presidente.
O tucano deu a infeliz declaração no ato em que celebrava o apoio do “centrão”, bloco de partidos formado por DEM, PP, PRB, SD e PR, à candidatura dele. Poderia ter ficado calado, mas preferiu ser infame ao ponto de citar que o Brasil seria “uma Abu Dhabi com os avanços das jazidas do pré-sal”. Apenas um lembrete do quão contraditório foi Alckmin: o grupo político que o apoia também é a favor da exploração do pré-sal por empresas estrangeiras. Tal medida, numa visão simplista, reduz a participação nacional nos lucros das jazidas.
Isso sem contar a dilapidação da Petrobras, que teve seu auge durante o governo do PT, segundo a Operação Lava Jato, porém com participação de integrantes de partidos como o PP, que hoje está ao lado de Alckmin. Agora por que olhar para o passado quando o futuro é promissor? No caso das alianças partidárias, todavia, o futuro está mais para promíscuo.
Não há o que discutir: todo mundo desejaria morar em uma cidade cuja renda familiar mensal é de R$ 930 mil, com a atual cotação do dólar. Todo mundo gostaria de ver as forças policiais usando Ferraris e Lamborghinis. Todo mundo gostaria de viver num dos novos destinos turísticos queridinhos do mundo pop. Esse lugar, definitivamente, não é o Brasil atual. E, diante do cenário político desenhado, não deve ser o Brasil nos próximos anos.
Alckmin, que ganhou fôlego eleitoral com a adesão da direita que se traveste de centro, é apenas um candidato a querer enganar os eleitores com fábulas e contos infantis. Ou alguém esqueceu que Aécio Neves em 2014 foi um militante combatente da corrupção e quatro anos depois tenta ser deputado federal para não responder em primeira instância por receber dinheiro da JBS? Ou até mesmo a enorme quantidade de parlamentares que defenderam a renovação da política enquanto faziam campanha para a reeleição? Esqueceram que, ao mesmo tempo em que atuavam pela moralidade do Brasil apoiando o então presidente da Câmara, Eduardo Cunha (MDB), preso por ter contas não declaradas no exterior, estes mesmos políticos prometiam “extirpar” a ex-presidente Dilma Rousseff do poder.
Por mais otimista que alguém queira ser, não há como imaginar o Brasil como Abu Dhabi. Ou melhor, até dá para pensar em morar como um cidadão dos Emirados Árabes Unidos. Lá, não aqui. Talvez a única saída para o Brasil seja o aeroporto. Infelizmente.
Este texto integra o comentário desta sexta-feira (27) para a RBN Digital, veiculado às 7h e às 12h30, e para as rádios Excelsior, Irecê Líder FM e Clube FM.
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