domingo, 29 de julho de 2018

QUERO MORAR EM ABU DHABI

Bahia Notícias                                                 por Fernando Duarte


Quero morar em Abu Dhabi


Depois de muito pensar em morar na propaganda do governo, agora os brasileiros têm um novo desejo: morar em Abu Dhabi. Ou melhor, morar no Brasil que será transformado na capital dos Emirados Árabes Unidos quando Geraldo Alckmin (PSDB) assumir a Presidência da República. A promessa perfeita para o caos em que se transformou o país nos últimos tempos se não fosse por um detalhe: é impossível transformar água em vinho e operar milagres para salvar o Brasil. Muito menos com um discurso raso como este vindo de um potencial presidente.

O tucano deu a infeliz declaração no ato em que celebrava o apoio do “centrão”, bloco de partidos formado por DEM, PP, PRB, SD e PR, à candidatura dele. Poderia ter ficado calado, mas preferiu ser infame ao ponto de citar que o Brasil seria “uma Abu Dhabi com os avanços das jazidas do pré-sal”. Apenas um lembrete do quão contraditório foi Alckmin: o grupo político que o apoia também é a favor da exploração do pré-sal por empresas estrangeiras. Tal medida, numa visão simplista, reduz a participação nacional nos lucros das jazidas.

Isso sem contar a dilapidação da Petrobras, que teve seu auge durante o governo do PT, segundo a Operação Lava Jato, porém com participação de integrantes de partidos como o PP, que hoje está ao lado de Alckmin. Agora por que olhar para o passado quando o futuro é promissor? No caso das alianças partidárias, todavia, o futuro está mais para promíscuo.

Não há o que discutir: todo mundo desejaria morar em uma cidade cuja renda familiar mensal é de R$ 930 mil, com a atual cotação do dólar. Todo mundo gostaria de ver as forças policiais usando Ferraris e Lamborghinis. Todo mundo gostaria de viver num dos novos destinos turísticos queridinhos do mundo pop. Esse lugar, definitivamente, não é o Brasil atual. E, diante do cenário político desenhado, não deve ser o Brasil nos próximos anos.

Alckmin, que ganhou fôlego eleitoral com a adesão da direita que se traveste de centro, é apenas um candidato a querer enganar os eleitores com fábulas e contos infantis. Ou alguém esqueceu que Aécio Neves em 2014 foi um militante combatente da corrupção e quatro anos depois tenta ser deputado federal para não responder em primeira instância por receber dinheiro da JBS? Ou até mesmo a enorme quantidade de parlamentares que defenderam a renovação da política enquanto faziam campanha para a reeleição? Esqueceram que, ao mesmo tempo em que atuavam pela moralidade do Brasil apoiando o então presidente da Câmara, Eduardo Cunha (MDB), preso por ter contas não declaradas no exterior, estes mesmos políticos prometiam “extirpar” a ex-presidente Dilma Rousseff do poder.

Por mais otimista que alguém queira ser, não há como imaginar o Brasil como Abu Dhabi. Ou melhor, até dá para pensar em morar como um cidadão dos Emirados Árabes Unidos. Lá, não aqui. Talvez a única saída para o Brasil seja o aeroporto. Infelizmente.

Este texto integra o comentário desta sexta-feira (27) para a RBN Digital, veiculado às 7h e às 12h30, e para as rádios Excelsior, Irecê Líder FM e Clube FM.


Nenhum comentário:

Postar um comentário