quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019

NOSSO PRESIDENTE EM DAVOS

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Não me surpreendi nem um pouco com o fiasco do atual Presidente do Brasil em Davos. Que discurso poderia ele fazer numa tribuna onde não tem cabimento proferir injúrias e desfiar grosserias? O Fórum Econômico Mundial não é bem um encontro onde se aceite com tranquilidade, como em nosso Congresso, declarações racistas, tiradas de machismo vulgar, ameaças de extermínio dos adversários. Apologia da tortura, ou das milícias, elogio de carrascos ou de governos ditatoriais não caem bem diante desse auditório. Não é lugar onde se considere de bom tom a declaração de que os Direitos Humanos são "o esterco da vagabundagem". Na tribuna de Davos pode-se até ser malicioso, mas com jeito; a etiqueta não permite que o orador exiba truculência. O infeliz presidente deparou-se, portanto, com uma situação em que todo seu repertório estava proscrito e onde lhe requeriam um discurso articulado com algum conteúdo, fundado em conhecimentos que lhe faltam de todo. Espera-se de quem fala nessa circunstância uma reflexão sobre a economia mundial, uma ponderação sobre a problemática das relações internacionais ou, no mínimo, uma exposição de estadista sobre as diretrizes do projeto de desenvolvimento do seu país - pressupondo-se que o orador tenha em mente um tal projeto, ou ideias e propostas inovadoras. Não era o caso, evidentemente. Explica-se bem o embaraço do capitão levado a representar um papel muitos furos acima de sua capacidade. Que fazer? Só lhe restou a saída pífia que causou espanto da imprensa internacional: encurtar o discurso ao máximo, dizer meia dúzia de banalidades em aflitos sete ou oito minutos, costurando a fala trôpega com ajuda das "colas" fornecidas por sua patética equipe. Depois das respostas evasivas, tolas e confusas com que brindou Klaus Schwab, a prudência e o pânico fizeram o atabalhoado mandatário evitar a entrevista coletiva em que teria dificuldade para responder a perguntas sobre política, economia, finanças, direito, comércio internacional e coisas que tais. Além disso ele correria o risco de ser indagado sobre a conduta de seu filho Flávio e de seu amigo Queiroz, cujos malabarismos financeiros tanto têm intrigado os investigadores do Coaf e do Ministério Público do Rio de Janeiro. Restou-lhe queixar-se da imprensa que não ousou enfrentar. Por certo, entre seus seguidores fiéis não faltará quem pense que o New York Times, o Le Monde, o Washington Post, o El Pais, o The Guardian e o America's Quarterly são publicações da esquerda, contaminadas pelo marxismo cultural. Haverá quem interprete a decepção do Prêmio Nobel de Economia Robert Shiller com o discurso vazio do capitão como birra de comunista. Mas para além desse estreito círculo a opinião pública mundial não se mostrou piedosa com o inarticulado presidente. O vexame foi grande: suscitou perplexidade, consternação e galhofa. Teve peso nessa reação a surpresa negativa. A diplomacia brasileira sempre foi respeitada, de Ruy Barbosa a Celso Amorim. O governante que agora temos e seu bisonho chanceler parecem empenhados em reduzir a cinzas o prestígio do país e a boa fama do Itamaraty. Sua falta de tato diplomático é gritante. Falas irrefletidas de Jair Bolsonaro ainda como candidato e já enquanto presidente provocaram reações negativas da China, suscitaram retaliações (que estão apenas começando) dos países árabes, escandalizaram a União Europeia e podem traduzir-se em sérios prejuízos para nossa economia. Não dá para rir dessas patacoadas. Mas torno ao opaco discurso que "o Mito" pronunciou em Davos. Seu ghost writer mostrou a inspiração de um colegial aparvalhado diante de uma prova para a qual não se preparou. Entre as banalidades que alinhavou, incluiu uma grossa mentira, na esperança de que o público reunido em Davos não tivesse a mínima ideia dos problemas sócio-ecológicos de Pindorama. Embalado nesta fútil esperança, o presidente vociferou que o Brasil é, em todo o mundo, o país que mais e melhor preserva o meio ambiente. Por certo se lembram disso os jornalistas que recentemente noticiaram por toda a terra, com profunda tristeza e consternação, o crime da reincidente Vale e a pavorosa calamidade que ocasionou. Devem estar edificados.

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