terça-feira, 20 de agosto de 2019

A JERUSALÉM NEGRA

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Lalibela: a Jerusalém negra!
A nossa viagem à Etiópia teve como principal pilar conhecer as igrejas monolíticas, em Lalibela. As fotos que eu já tinha visto não deixava dúvidas de algo deslumbrante e completamente distinto de tudo o que eu já tinha visto.
Lalibela é uma cidade localizada no norte da Etiópia e está a 1500 metros de altitude.

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A história da cidade se inicia com o envenenamento do rei Gebre Mesquel Lalibela, soberano amado pelo povo, mas envolvido com as rixas pelo poder em sua corte. Isso tudo lá pelo ano de 1189. Após vivenciar semanas em coma profundo, o rei disse ter se encontrado com Deus no momento de entrar no céu. Então, Deus teria dado uma missão específica a Gebre: criar uma nova Jerusalém, uma vez que a cidade sagrada havia sido invadida pelos árabes muçulmanos.

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Os etíopes dizem que cerca de 60 mil camponeses foram transformados em pedreiros e que, em sete dias e noites, auxiliados por uma legião de anjos, retiraram milhões de toneladas de rochas para que as igrejas pudessem surgir.
Isso tudo foi contado por um guia extremamente simpático, Kassaye Akele, que nos levou para visitar as onze igrejas monolíticas. Passados mais de 800 anos, as incríveis e belíssimas igrejas parecem guardar suas essências. São indescritíveis!

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Como eu mencionei no início do texto, nós chegamos em abril para presenciar a Semana Santa.
O Domingo de Ramos marca o final de um longo jejum de 56 dias. Pela tradição, nesse período, os fieis não comem nenhum produto animal. Durante os últimos três dias, da quinta-feira Santa ao Sábado de Aleluia, o jejum é mais estrito e alguns fiéis não comem ou bebem nada até a madrugada do domingo. O Sábado de Aleluia marca o ápice da festa religiosa.

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As igrejas ficam lotadas de fieis já fracos, na matéria, mas embevecidos, no espírito. Há um cântico constante, um mantra, parecem todos em transe! Uma bengala de madeira os auxilia a ficar em pé! Com roupas simples de algodão, turbantes brancos que nos remetem à antiguidade, a população ajoelha-se e senta-se num movimento incessante, por horas. A reza toma forma de cantoria ritmada, um coro por súplicas terrenas, que os levem mais rapidamente a uma vida melhor.

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A noite do Sábado de Aleluia marca o ápice da festa. Todas as onze igrejas estão lotadas, sendo que alguns poucos sacerdotes lideram os cânticos e rezas. A Igreja de São Jorge é a mais especial, mas nós escolhemos a Igreja Matriz (Bet Maryam). Chegamos por volta das 18h e ficamos por longas horas em cima de um muro ao sul da igreja. De lá, era possível acompanhar toda a movimentação. Centenas de mulheres se deitavam no chão, enquanto os homens se postavam num círculo principal.
Não havia iluminação, não havia qualquer sinalização, uma faixa de proteção e logo descobrimos que aquele ponto, onde nós estávamos, era o principal para os turistas. Em poucas horas, estava repleto. Poucos metros alem, havia um verdadeiro desfiladeiro. A imensa maioria dos turistas, idosos. Sinceramente, temi por todos.
Em certo momento, a cantoria se intensificou e mesmo as mulheres que estavam deitadas se levantaram. Havia uma energia inacreditável, nesse ritual que nos remetia diretamente à antiguidade, aos primeiros movimentos cristãos. Por volta das 23h, todos os presentes receberam velas, que foram logo acendidas. Um lindo espetáculo! Os lideres religiosos deram início a uma intensa procissão, que os levava a visitar todas as demais igrejas. Até por volta das 3h esse circuito, de puro transe, se mantinha.
Obs: fotos de Dimitri GanzelevitchAndré-Jean Jolly e minhas em exposição permanente na Museu Casa Solar Santo Antônio.
Cláudio Marques

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