Ontem fomos ao Museu de Arte Sacra da UFBA para desfrutarmos da Orquestra Sinfônica da Bahia em uma apresentação belíssima de Beethoven. Em uma breve circulação pelo Museu em direção ao banheiro meu filho de 5 anos viu uma escultura de uma pessoa em uma cruz e me perguntou: Pai, que é isso aí, é o homem que dorme em pé? Me surpreendi com a pergunta e com sua própria conclusão, e com um sorriso sutil eu lhe disse que sim: - É o homem que dorme em pé. Como não houve novos questionamentos seguimos caminhando em silêncio, eu o observava enquanto que ele contemplava o belo jardim interior do Museu.
Sei que em algum outro momento alguém vai contar uma estória diferente e caberá a ele decidir o caminho a seguir, e se ele me fizer novas perguntas responderei com o que penso.
Chegamos ao banheiro e ele me perguntou: Pai, por que o banheiro de homem é azul e o de mulher é vermelho? Nova surpresa, desta vez mais fácil. Respondi que algumas pessoas pensam que deve ser desta forma, mas a verdade é que não existe cor específica para definir o que é de homem e nem o que é de mulher, todas as cores podem ser utilizadas tanto para mulheres como para homens.
Passei o dia de hoje pensando em tanta coisa em razão destas duas perguntas. Imaginei que tudo poderia ter sido diferente. Para a imagem do homem que dorme em pé eu poderia ter dito: este aí é um homem que morreu por você, para te libertar de seus pecados, para que quando depois de sua morte aqui na terra você seja feliz na outra vida, e foi o pai dele que o entregou ao sacrifício para salvar as pessoas do mundo, e você deve se arrepender de tudo o que já fez de errado para que o pai dele não te castigue. Coitado, eu não gostaria de estar em seus pensamentos depois de ouvir estas coisas. Já passei por isso, vivi uma adolescência de inúmeros questionamentos, sem respostas, sem ter a quem perguntar, com medo de questionar o inquestionável, e quando perguntava muito e a outra pessoa não tinha como explicar dizia: Deus quis assim, foi Deus quem fez, Deus quer desta forma. E eu só queria saber o porquê de tudo, nisso continuo igual.
Para a segunda pergunta, eu poderia ter dito que a cor azul foi feita para o homem e a cor vermelha, ou rosa, foi criada especificamente para as mulheres. Óbvio que ele iria me perguntar: Por que? Talvez eu tivesse dito que a cor azul define quem é homem e que a cor vermelha ou rosa define quem é mulher. Coitado, teria muito o que pensar para entender o que não foi explicado.
Lembrei-me de quando ele tinha menos de dois anos e necessitei comprar-lhe um penico. Na primeira loja que entrei só havia penico rosa. Comprei um assim mesmo, apesar da cara de espanto e choque emocional da vendedora. Sorte minha, caso não tivesse agido daquela forma agora eu teria de comprar outro penico, desta vez rosa para a irmãzinha.
Cheguei à conclusão de que para ele a vida ficou mais suave, colorida, sem culpa e sem padrões rígidos estabelecidos por interesses comerciais com minhas primeiras respostas: o homem que dorme em pé, e não existe cor específica para homem e mulher. Sigamos com novos questionamentos.,
Álvaro Almeida
Abril/2019.
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