sexta-feira, 1 de novembro de 2019

PROBLEMAS MENTAIS

IstoÉ insinua que Bolsonaro tem problemas mentais



O Brasil está nas mãos de um mandatário literalmente fora de controle emocional. Nos últimos dias, a população acompanhou apreensiva e boquiaberta uma sucessão de manifestações do presidente que revelam inabilidade para lidar com as instituições, despreparo para confrontar notícias negativas e, no final, degeneraram em uma situação descontrolada.
A sequência de destemperos começou na segunda-feira 28 com um vídeo em que o presidente era retratado como um leão acossado por hienas. Foi postado no perfil oficial de Bolsonaro em uma rede social. Na montagem, o rei da floresta enfrenta partidos políticos (os óbvios PT, PSDB, PDT, mas também o PSL, legenda do próprio presidente), o Supremo Tribunal Federal (STF), a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e veículos de imprensa. Outro leão, descrito como “conservador patriota”, espanta os carnívoros. Os felinos se cumprimentam, e surge a imagem de Bolsonaro, uma bandeira do Brasil e a voz do presidente repetindo seu slogan: “Brasil acima de tudo. Deus acima de todos.”
Ataque a outro poder
A fábula infantil, cafona e por si só constrangedora, não está à altura da comunicação que se espera de um estadista. Pior é a mensagem que transmite: a de um representante do Executivo que ataca outro Poder, além de se projetar como um rei acuado em uma selva — uma óbvia distorção institucional, de quem não tem maturidade para entender o jogo democrático e encara instituições representativas da sociedade como obstáculos. Talvez por isso o próprio presidente tenha se retratado no dia seguinte. Bolsonaro, que estava em viagem oficial na Arábia Saudita, anunciou que o vídeo era um “erro” e que “se desculpava publicamente ao STF”.
A peça foi excluída das redes sociais. Há uma dúvida sobre a sua autoria, o que expõe mais uma questão delicada. O filho Carlos Bolsonaro, suspeito de ter feito a postagem, anunciou que o próprio presidente tinha sido o autor. Em contraste com as excusas presidenciais, o assessor especial da Presidência, Felipe Martins, que tem gabinete no Palácio do Planalto, defendeu o filmete. “O establishment não gosta de se ver retratado, mas ele é o que ele é: um punhado de hienas que ataca qualquer um que ameace o esquema de poder que lhe garanta benefícios e privilégios às custas do povo brasileiro. Isso só mudará quando o Brasil se tornar uma nação de leões”, escreveu nas redes sociais. A contemporização partiu do vice-presidente, Hamilton Mourão: “O importante é que o presidente teve humildade para admitir seu erro. Ele já pediu desculpas, muito claramente ele já se desculpou, porque quando ele viu o conteúdo do vídeo, retirou. Acho que vira a página”. Porém, nada muda o fato óbvio. Jamais deveria ter sido permitido, como tem sido frequente, o acesso do canal oficial do mandatário para divulgar peças toscas, panfletárias e enviesadas.
O episódio do destempero de Bolsonaro é ainda mais grave considerando-se que o presidencialismo brasileiro concentra no chefe do Executivo um poder particularmente grande. O comportamento errático assusta, desgasta e desorienta a sociedade, que lhe concedeu o mandato e tem uma alta expectativa para a resolução dos graves problemas nacionais. O histrionismo tira o foco da pauta urgente de medidas que o País aguarda. O ataque generalizado irritou especialmente os ministros do STF. O decano do tribunal, Celso de Mello, em nota, disse que “o atrevimento presidencial parece não encontrar limites” e que Bolsonaro não é um “monarca presidencial”. Afirmou o ministro: “Esse comportamento revelado no vídeo em questão, além de caracterizar absoluta falta de ‘gravitas’ e de apropriada estatura presidencial, também constitui a expressão odiosa (e profundamente lamentável) de quem desconhece o dogma da separação de poderes e, o que é mais grave, de quem teme um Poder Judiciário independente e consciente de que ninguém, nem mesmo o Presidente da República, está acima da autoridade da Constituição e das leis da República.”

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