Brizola previu a entrada de evangélicos e o mal que faria à política e ao país
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O velho Brizola sabia das coisas. Afinal, conforme gostava de dizer, "vinha de loooonge!" Ele, tão logo o ex-governador do Rio, Anthony Garotinho, foi eleito, peitou o jovem governante cheio de ambição na sua fúria desenfreada de se cercar por aliados ligados às mais variadas correntes religiosas. Entre eles estava o pastor Francisco Silva, que criou e enriqueceu com a tal de Atalaia Jurubeba, e era dono de uma rádio no Rio - daquelas suspeitas de alugar horário na grade.
Um aliado de Garotinho e também do pastor era ninguém menos que Eduardo Cunha. O homem que agiu para derrubar Dilma Rousseff em 2015/16, hoje preso, surgiu na política pelas mãos de um velho político de Duque de Caxias: Hydeckel de Freitas Lima. Mas foi Fernando Collor quem lhe deu projeção ao entregar a ele a poderosa Telerj - um dos maiores antros de corrupção do país no seu tempo. Afinal, sem telefone para instalar, vendia-se a ilusão de conseguir. E era aí que a coisa andava.
Brizola se preocupava com a ascensão dos evangélicos no universo político. Acreditava que iriam misturar as coisas e se tornariam uma praga nacional. Não deu outra. Achava Brizola, e o tempo revela o quanto estava certo, que usariam a fé para amedrontar eleitores e eleger qualquer crápula que atendesse interesses e afastasse do cenário político políticos independentes ou defensores de um estado laico.
Mas em 2000, quando a ruptura com Garotinho já era irreversível, o aparelhamento evangélico no Rio de Janeiro chamou a atenção de Brizola. "O governo tem de ser mais discreto, está vivendo um protestantismo exagerado", declarou.
Sobre a previsão de Brizola, o site DCM publicou.
"Brizola estava incomodado com a Cehab, comandada por Cunha, dona de um dos maiores orçamentos do governo fluminense. Organizou um abaixo assinado pedindo o afastamento de Eduardo Cunha "devido à má-gestão e também aos seus antecedentes", de acordo com outra reportagem da Folha de S.Paulo.
Seu descontentamento incluía o subsecretário do Gabinete Civil, uma figura chamada Everaldo Dias Ferreira - que viria a se transformar no Pastor Everaldo*, aquele que formou com Aécio Neves uma das duplas mais desprezíveis das corridas eleitorais em todos os tempos. Everaldo era ligado à vice-governadora Benedita da Silva, do PT, também evangélica.
"Qual a legitimidade de tantos pastores no governo? Quem são esses pastores da Benedita?", dizia Brizola. "Vivem posição ambígua, se queixam de tudo, começam a fazer denúncias, mas não deixam os cargos que ocupam. Ora, se o caminhão tá ruim, é só pedir para desembarcar."
Cunha deixou o cargo naquele ano, após denúncias de irregularidades em licitações. Os processos abertos no Tribunal de Contas do Estado foram arquivados em 2004 e reabertos em 2012.
Brizola enxergou a ocupação evangélica e os monstros que se criavam. O capeta quis que Cunha se tornasse, 15 anos depois, o messias do fundamentalismo religioso no Brasil. Morto em 2004, Leonel Brizola escapou de testemunhar o país ser subjugado por um exército de fanáticos de ocasião."
* Pastor Everaldo foi o responsável pela entrada do ex-juiz e promotor Wilson Witzel na política. Hoje é o governador do Rio.
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