Na foto, aparece de sunga, corpo sadio e atlético,
sorridente, de bem com a vida. O mesmo, agora vestido com uniforme de tenente,
terá a frase mais terrível do ano “Tem aqui um presentinho para vocês!”. O
simpático oficial, acompanhado por dez comparsas, entrega três jovens a
marginais de outra favela do Rio para serem torturados, mutilados e mortos.
Três jovens sem passado
criminoso – e mesmo se tivessem? – viram mercadoria de troca, pois ninguém vai
acreditar que este presentinho foi dado sem contrapartida. A ponta do iceberg
revela e obstrui o impossível caminho de volta da relação sociedade/drogas.
O consumo de drogas é hoje
uma realidade cotidiana. Não adianta falar em erradicação, reforma das
instituições etc. Tal qual o consumo de bebidas alcoolizadas, um amplo leque de
drogas leves e pesadas entrou nos costumes do mundo ocidental.
Só no mundo ocidental?
Sabendo das máfias chinesas, japonesas, italianas, nigerianas, francesas, norte
e sul americanas e tantas outras, o mapa do desastre cobre o planeta por
inteiro.
Por quanto tempo ainda vamos
fingir tratar-se de algum tipo de sarampo e continuar a perseguir bandidos pé
de chinelo, quando todos nos sabemos perfeitamente que a sociedade inteira está
contaminada, e mais: que a hierarquia do submundo do narcotráfico começa lá
encima, entre os altos políticos do Brasil e de muitos outros países e se
espalha por polícias, exércitos, médicos, advogados, banqueiros e
multinacionais?
Vez ou outra um político ou
um pastor é flagrado com milhares de dólares na cueca, na mala ou na gaveta do
escritório e milagrosamente, após longas e silenciosas negociações, o caso é
calmamente engavetado sem que a opinião pública seja informada.
Vamos permitir que esta
gangrena atinja nosso corpo social por inteiro e que amanhã toda a sociedade
seja considerada marginal? Quanta hipocrisia!...
Então, qual é o remédio,
senão legalizar o uso das drogas?
Não adianta fazer cara feia,
se escandalizar. O pior inimigo é o inimigo que se esconde, ou, neste caso, que
é mantido escondido por motivos geralmente gananciosos e imorais.
Os EUA, por exemplo, maior
povo consumidor, que mantêm verdadeiros exércitos em muitos paises sob o
pretexto de combate ao narcotráfico, será que eles estão realmente interessados
em acabar com ele, ou simplesmente controlá-lo, manipular os governos locais e
continuar a lucrativa indústria armamentária? Não devemos esquecer que esta, um
dos pilares da economia ianque, é uma das mais lucrativas do mundo com,
justamente, o narcotráfico.
Os defensores da marginalização
das drogas costumam opondo o exemplo da Holanda e daquele jardim público – hoje
fechado - de Zurique, na Suíça. Argumento fraco, pois imaginem que todos os
alcoólatras do mundo fossem confinados a uma cidade ou um parque? Resolveria o
problema? Claro que não!
O Mister Bush e acólitos não
podem ter esquecido a famosa proibição do álcool nos anos 20, que deu como mais
relevante resultado a consagração do gangsterismo americano. Proibindo,
contribuíram para a supremacia do Império do Crime. Quem disse que a História não se repete? Repete-se,
sim, com outros disfarces, mas sempre contribuindo ao apodrecimento geral para
beneficio de um punhado.
Precisamos, em caráter
emergencial, acabar com os subterrâneos do uso das drogas. Por que meio?
Simplesmente legalizando-o.
Muitos são os intelectuais,
sociólogos, médicos, economistas, politólogos, antropólogos e legistas que
participam deste pensamento. O problema, no entanto, é que tal reviravolta iria
incomodar os interesses de muitos altos executivos, representantes do
“Establishment”, mergulhados até o pescoço em negócios altamente lucrativos,
mesmo a custa de três jovens negros cariocas banalmente descartados.
Dimitri Ganzelevitch
Salvador, 22 de junho de
2008
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