quarta-feira, 4 de março de 2020

TRÊS RAPAZES DESCARTÁVEIS (2008)


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Na foto, aparece de sunga, corpo sadio e atlético, sorridente, de bem com a vida. O mesmo, agora vestido com uniforme de tenente, terá a frase mais terrível do ano “Tem aqui um presentinho para vocês!”. O simpático oficial, acompanhado por dez comparsas, entrega três jovens a marginais de outra favela do Rio para serem torturados, mutilados e mortos.

Três jovens sem passado criminoso – e mesmo se tivessem? – viram mercadoria de troca, pois ninguém vai acreditar que este presentinho foi dado sem contrapartida. A ponta do iceberg revela e obstrui o impossível caminho de volta da relação sociedade/drogas.

O consumo de drogas é hoje uma realidade cotidiana. Não adianta falar em erradicação, reforma das instituições etc. Tal qual o consumo de bebidas alcoolizadas, um amplo leque de drogas leves e pesadas entrou nos costumes do mundo ocidental.
Só no mundo ocidental? Sabendo das máfias chinesas, japonesas, italianas, nigerianas, francesas, norte e sul americanas e tantas outras, o mapa do desastre cobre o planeta por inteiro.

Por quanto tempo ainda vamos fingir tratar-se de algum tipo de sarampo e continuar a perseguir bandidos pé de chinelo, quando todos nos sabemos perfeitamente que a sociedade inteira está contaminada, e mais: que a hierarquia do submundo do narcotráfico começa lá encima, entre os altos políticos do Brasil e de muitos outros países e se espalha por polícias, exércitos, médicos, advogados, banqueiros e multinacionais?
Vez ou outra um político ou um pastor é flagrado com milhares de dólares na cueca, na mala ou na gaveta do escritório e milagrosamente, após longas e silenciosas negociações, o caso é calmamente engavetado sem que a opinião pública seja informada.
Vamos permitir que esta gangrena atinja nosso corpo social por inteiro e que amanhã toda a sociedade seja considerada marginal? Quanta hipocrisia!...

Então, qual é o remédio, senão legalizar o uso das drogas?
Não adianta fazer cara feia, se escandalizar. O pior inimigo é o inimigo que se esconde, ou, neste caso, que é mantido escondido por motivos geralmente gananciosos e imorais.
Os EUA, por exemplo, maior povo consumidor, que mantêm verdadeiros exércitos em muitos paises sob o pretexto de combate ao narcotráfico, será que eles estão realmente interessados em acabar com ele, ou simplesmente controlá-lo, manipular os governos locais e continuar a lucrativa indústria armamentária? Não devemos esquecer que esta, um dos pilares da economia ianque, é uma das mais lucrativas do mundo com, justamente, o narcotráfico.
Os defensores da marginalização das drogas costumam opondo o exemplo da Holanda e daquele jardim público – hoje fechado - de Zurique, na Suíça. Argumento fraco, pois imaginem que todos os alcoólatras do mundo fossem confinados a uma cidade ou um parque? Resolveria o problema? Claro que não!

O Mister Bush e acólitos não podem ter esquecido a famosa proibição do álcool nos anos 20, que deu como mais relevante resultado a consagração do gangsterismo americano. Proibindo, contribuíram para a supremacia do Império do Crime.          Quem disse que a História não se repete? Repete-se, sim, com outros disfarces, mas sempre contribuindo ao apodrecimento geral para beneficio de um punhado.
Precisamos, em caráter emergencial, acabar com os subterrâneos do uso das drogas. Por que meio? Simplesmente legalizando-o.
Muitos são os intelectuais, sociólogos, médicos, economistas, politólogos, antropólogos e legistas que participam deste pensamento. O problema, no entanto, é que tal reviravolta iria incomodar os interesses de muitos altos executivos, representantes do “Establishment”, mergulhados até o pescoço em negócios altamente lucrativos, mesmo a custa de três jovens negros cariocas banalmente descartados.                         

 Dimitri Ganzelevitch                                                           
Salvador, 22 de junho de 2008


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