Hoje deu uma vontade danada de comer aquele feijão com galinha ao molho pardo do quatro rodas. Não daquele outro 4 Rodas, o lendário hotel cinco estrelas de Itapoan, mas da famosa kombi, que foi estrela de tantas pegadinhas (amor, hoje vamos jantar no 4 Rodas. Até roupa de baile as criaturas botavam.
Na hora H a grande surpresa: era a kombi quatro rodas da Pituba, pra comer uma boa feijoada, uma galinha ao molho pardo, uma maniçoba, entre outras iguarias).
Voltando hoje às 18h30 de uma reunião, passei por Amaralina, atual local do Restaurante Quatro Rodas e pensei: ai que vontade de comer aquele molho pardo! Mas esse horário ainda não está funcionando, pensei triste. Mas estava. Tinham acabado de descarregar as panelas.
Parei o carro e perguntei: já está funcionando? O rapaz me reconheceu de imediato e disse: mesmo que não estivesse, abriríamos para você.
-O de sempre?
-Claro.
-Sem arroz, né?
Isso (truque pra vir mais feijão). Sai meia molho pardo pro meu amigo aqui.
-Caprichadaaaa, viu? Ordenou ele na cozinha.
E veio no capricho, só sobrecoxa (3) e coxa (2).
-Quanto tempo você não aparece!
-É verdade, tempo, dietas, covid, idade, colesterol e por aí vai, respondi. Cadê Gil e Ana? Perguntei.
-Vão chegar mais tarde. Vou dizer a eles que você esteve aqui. Vão adorar.
-Eles estão bem? ´
-Sim. Está gostando da galinha?
-Claro, mesmo gosto de 1986.
-Verdade?
Sim, fui o primeiro cliente da kombi, matricula 0001. No primeiro dia que a kombi parou na Praça N. Sra. da Luz, na Pituba, eu que costumava correr à noite, vi um carro arrumando umas panelas com as portas abertas, voltando pra casa morrendo de fome perguntei: é o que aí?
-Tem feijoada, ensopado de porco, galinha ao molho pardo, sarapatel, dobradinha, frigideira.
-Me dê uma galinha com feijão.
Só haviam 2 banquinhos de madeira, sentei em um e comi com prato na mão.
Depois dessa noite, comi nessa kombi todos os dias por mais de 15 anos (salvo quando estava fora de Salvador). Virou uma obrigação na minha vida alimentar. Nos dias em que não ia e resolvia ir pra casa sem passar por lá, a barriga me acordava 2 ou 3 horas da madrugada e eu tinha que pegar o carro pra ir comer minha galinha.
Walson Botelho
Se não for da mesma família, segue o padrão adotado em meados de 60, quando a kombi chegava à Praça Castro Alves, estacionando nas proximidades da estátua do poeta, e logo os trabalhos começavam para deleite dos amantes da boa gastronomia. Tinha de tudo e da melhor qualidade. E como saciava a fome de apetites exigentes dos amantes das noites baianas. Depois disso, o sono acolhedor nos primeiros lampejos do novo dia recondicionava as energias para encontrar os amigos nas praias de Piatã ou Placa Ford. Recordar é viver.
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