sábado, 6 de agosto de 2022

OBRIGADA, JÔ!

 Eu estava socializando com funcionários, num desses necessários intervalos de trabalho, e alguém me avisou que tinha uma ligação para mim, na minha sala, da “Equipe do Jô”.


Alô. “Alô, aqui é da equipe do Jô Soares 11 e meia e queremos convidá-la para uma entrevista”. Hum, sei... “Nós lemos sua entrevista sobre a exposição que montou na BN, sobre o pecado da Gula, e queremos abordar isso no programa”. Quem está falando? Fale logo! Quem é que está brincando com meu tempo? – respondi às gargalhadas, imaginando o plano, a criatividade, a coragem de me ligar. “Olha, aqui é mesmo a equipe e gostamos da sua entrevista, mas, precisamos bater um papo, saber mais de você”. Eita! Levei a sério, a partir daí, e confabulamos sobre a BN e os livros raros, por uns 20 minutos. No final, a voz confirmou o convite, disse que enviara um e-mail (que conferi na hora) com os dados necessários para as passagens de ida e volta a São Paulo, que a entrevista seria gravada numa tarde, e esclareceu que aquele papo era preciso, para ter certeza de que a entrevista “daria um caldo” e, disse-me, deu. Pediu-me imagens que pudessem ser projetadas e avisou que, na entrevista, eu não poderia levar nada escrito. Ok. Mas, fiz um pedido: quero a oportunidade de divulgar minha profissão. “Sim, vou falar com ele...”.
Julia foi comigo a São Paulo. Um motorista nos buscou no aeroporto. O estúdio do Jô era enorme. O camarim tinha meu nome na porta. Dentro, muitas roupas num cabideiro (para que eu escolhesse), uma mesa com frutas, sucos, refrigerantes... e um sofá para descanso. A pessoa que nos levou ao camarim disse que em breve alguém viria me buscar para a maquiagem. Decidi que ficaria com a minha roupa: jeans e uma blusa de renda renascença vinho, escarpins em camurça vinho, brincos de rubi – queria desmaterializar a ideia tradicional de Bibliotecária. O penteado e a maquiagem leve foram obras da Globo.
Jô Soares me deu a chance que pedi. Disse-me de uma edição antiga da CDD, que ganhou de presente do ator Juca de Oliveira. Perguntou sobre números de classificação para obras literárias, sobre catalogação, mostrou-me livros, falamos sobre a Gula, sobre os itens expostos, mostrei fotos da equipe de Obras Raras da BN e apresentei cada um... Não ganhei a famosa caneca do programa. No final do programa, ele sorteou uma caneca para quem respondesse a uma pergunta, mas, antes, olhou para mim e disse: “Você, não! Você é muito inteligente e não vale responder!”. Ganhei a tarde. Logo eu que sempre tive preocupação com minha capacidade de inteligir, que achava prejudicada pela alimentação deficiente numa infância pobre.
A entrevista foi ao ar um mês depois. Ganhei fãs no Brasil e até em Portugal. Recebi e-mails, telefonemas, vi gente orgulhosa de sermos amigos, ouvi declarações de amor e pedido de casamento! Imagine uma voz masculina, desconhecida, ligando para você e dizendo: “Depois dessa entrevista, decidi que tinha encontrado: você é a mulher da minha vida!” Tive que administrar isso...
Um ano depois, o telefone tocou novamente. Alô. “Alô, aqui é da equipe do Jô Soares 11 e meia e queremos convidá-la para uma entrevista”. Ué? Tem certeza de que querem me convidar, de novo? “Sim, temos! Queremos que fale sobre sua exposição sobre o Inferno”. Fui. Desta vez mais solene, de terninho (afinal, ia falar sobre o Inferno). O encontro foi quase uma “entrevista de referência”, porque Jô fez várias anotações; ganhei a caneca e virei celebridade! Não do tipo que aparece, mas, do tipo que motiva: uma menina foi com o pai à BN para conversar comigo sobre a profissão que estava decidida a abraçar; recebi mensagens de jovens me dizendo que escolheram a Biblioteconomia por minha causa... Renasci. Super feliz com os efeitos colaterais das entrevistas.

Decidi que, depois disso, só aceitaria convites da Oprah! Mas, ela encerrou seu talk show e perdi a oportunidade de divulgar a Biblioteconomia, internacionalmente. Espero que alguém se ocupe disso. Ainda mais nestes tempos, em que há quem ache que a Internet basta. É preciso esclarecer.
No mais, só posso dizer: Obrigada, Jô! Obrigada por me dar a chance de dizer, em longo alcance, o quanto a Biblioteconomia salva. Obrigada!
Sobre a imagem: foto da minha caneca do Programa do Jô.
Para ver e ouvir a primeira entrevista (24min41s): https://www.youtube.com/watch?v=c4rms41W_BU&t=63s
Para ver e ouvir a segunda entrevista:

Nenhum comentário:

Postar um comentário