Um estudante francês, de
férias pelos lados da baía de Camamu, foi preso no ano passado com 30 gms de
maconha. Levado à delegacia do povoado, ficou por lá durante um mês, à espera
de uma decisão de Valença. O representante consular na Bahia conseguiu
finalmente que o garoto fosse transferido até uma penitenciária de Salvador.
Durante uma briga, cuja motivação não me foi esclarecida, o jovem foi
esfaqueado e morreu.
Por 30 gms de maconha e uma burocracia criminosa.
Pode imaginar o leitor o pavor deste forasteiro no auge da juventude, mergulhado durante mais de um mês no mais absoluto avesso do sonho que representava esta viagem ao Brasil, sem falar a língua nem conhecer as sórdidas regras dos calejados marginais?
Nossa sociedade foi
abocanhada, desde os anos 70, pelas drogas mais diversas, algumas letais. É uma
situação dramática? É. Mas ao recusar a legalização dos entorpecentes, estamos
repetindo o absurdo da Lei Seca em 1917 nos EUA, ditada pelo fundamentalismo
puritano. Desta atitude extremista iria florescer um gansterismo exacerbado.
Hoje a história se repete, gangrenando toda a estrutura social a nível
planetário.
Não são poucos aqueles que defendem esta legalização - eu entre eles - baseados na evidência de que é impossível combater o inimigo que se esconde. E o inimigo não é o traficante, mas sim a doença. Nasci e me criei em Marrocos e, durante toda minha adolescência, testemunhei adultos fumarem seu cachimbo de haxixe nos cafés ou bancos públicos sem que por tanto fosse alterada a ordem pública. Alguém perguntará se eu também fumei. Sim, por três vezes, confesso, o cachimbo me foi oferecido e aceitei. Nada senti, não achei a menor graça. Ponto final. Se nunca mais fumei, nem cigarro de palha, é que cedo entendi a necessidade de preservar minha saúde.
A Lei Seca foi“...abolida por Roosevelt em 5 de dezembro de 1933, levando
boa parte do crime organizado à falência.”afirma o Google. Talvez esta seja
a verdadeira razão que impede a legalização das drogas e um eficiente combate a
uma praga que mata mais que uma guerra civil.
Dimitri
Ganzelevitch
Salvador
2005
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