Tentativa de vender o APEB é como passar a boiada
Carlos Zacarias de Sena Júnior*
No dia 30 de agosto, posei para foto
com minha turma de estudantes de História numa das escadarias do belíssimo
prédio que abriga o Arquivo Público do Estado da Bahia (APEB), na Baixa de
Quintas. Neste dia repeti a mesma pose que havia feito em maio, quando levei
outras três turmas para conhecer o prédio e seu rico acervo, dando a
oportunidade para que os futuros historiadores visitassem esse lugar de
memória, onde estão depositados acervos que servem de base para a construção da
história do Brasil e da Bahia.
Costumava
levar minhas turmas para visitar o APEB e para introduzir os estudantes no universo
da pesquisa documental, mas nos últimos anos tinha se tornado impossível. Primeiro
um problema elétrico que levou o arquivo ao fechamento por muitos meses, depois
a pandemia de Covid-19, interditaram o acesso de investigadores ao majestoso
prédio.
Em
2023 voltei com as visitas, encontrando um arquivo ainda mais organizado, com
diversos fundos digitalizados, um site bastante funcional e um sistema de
agendamento de visitas rápido e eficiente. Nas ocasiões em que estive no APEB
este ano, fui recebido pela simpatia e competência de diversos profissionais,
que apresentaram o arquivo através de slides, tratando da história da
instituição e do prédio, explicando sobre os acervos ali contidos e as
sofisticadas formas de tratamento da documentação. Os estudantes, por óbvio,
ficaram encantados.
Fundado
em 1890, o APEB é um dos arquivos mais importantes do Brasil. Abrigando acervos
que nos permitiram conhecer histórias que ilustram livros de renomados estudiosos,
apenas em 1980 o APEB foi alocado para o Solar da Quinta do Tanque, uma
construção do século XVI, que havia sido casa de repouso dos jesuítas até 1759,
inclusive do Pe. Antônio Vieira. Tombada em 1949 pelo Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), a imponente edificação tornou-se
patrimônio do povo brasileiro, obrigado os governos a zelarem por ele.
Diante
de um patrimônio dessa magnitude, motivo de orgulho de historiadores e de todos
os baianos, era de se esperar que o governo da Bahia investisse na promoção do
APEB, inclusive no fomento ao turismo cultural e de eventos, mas não é isso que
ocorre.
Marcado para acontecer no
próximo dia 25, uma nova tentativa de entregar à iniciativa privada uma parte
fundamental da nossa história, tem motivado denúncias de inúmeras entidades,
entre elas a seção baiana da Associação Nacional de História (ANPUH-Brasil). Em
seu site, a ANPUH repudiou o leilão, apontando que, além de tudo, não há
garantias quanto à preservação e salvaguarda da documentação ali depositada.
No
momento em que colunistas e editoriais se dedicam ao conflito no Oriente Médio,
sem estardalhaço, alguns parecem vislumbrar a oportunidade para passar a boiada.
Não se enganem, estamos atentos e vamos seguir denunciando.
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