*Salvador perde 21 mil metros quadrados de Mata Atlântica com desmatamento criminoso em Patamares*
A Prefeitura de Salvador publicou no Diário Oficial de 27 de outubro dois autos de infração. Em um deles, a Secretaria de Desenvolvimento Urbano (SEDUR) afirma que a empresa apresentou Autorização de Supressão da Vegetação "com informações parcialmente falsas, aumentando a poligonal da área de supressão e na quantidade dos lotes”. O outro registra a infração da lei que proíbe derrubar Mata Atlântica em estágio médio de regeneração, o que ocorreu numa área de 3.977m² , segundo a SEDUR.
O Governo do Estado agiu através do Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos(INEMA), com apoio da Polícia Ambiental (COPPA). Dois dias após o início do desmate, em 4 de outubro, o INEMA embargou a obra - com multa de R$ 20 mil - pela não realização do devido manejo de fauna, que inclui o resgate e afugentamento de animais silvestres. Ainda assim, policiais da COPPA relataram duas escavadeiras de esteira a trabalhar até o dia 9 e caminhões retirando material lenhoso até 24 de outubro. Pelo descumprimento do embargo, o INEMA aplicou nova multa, desta vez de R$100 mil.
*Dano irreparável*
O Coletivo SOS Vale Encantado e as ongs Imaterra e Gambá, que reúnem moradores de Patamares e ativistas, denunciam ainda outros crimes: desmate em encosta de alto declive, corte de mata ciliar de uma das lagoas do parque e destruição de local habitado por animal ameaçado de extinção, no caso o ouriço-cacheiro-preto.
Uma das representantes do Coletivo, Sandra Jovita, alertou para a recorrência dessas práticas no Vale Encantado e outras áreas de Mata Atlântica de Salvador. "Chegam com máquinas pesadas, sem identificação da empresa responsável e derrubam a floresta rapidamente, sem dar a mínima para notificações, multas, embargos, publicização à sociedade e mudanças climáticas. Mesmo assim, nem Governo nem Prefeitura agem para impedir a derrubada e evitar o dano irreparável”.
O ex-síndico da Colina E de Patamares, Carlos Azevedo, disse que a Patrimonial Vista Mar apresentou, somente a ele e no mesmo dia do desmate, uma autorização com emissão atribuída à Prefeitura para suprimir 18,06 mil m² da floresta vizinha à sua casa. "Não deram possibilidade de amplo e antecedente conhecimento aos moradores, como é nosso direito". Ele contou que uma das moradoras, Carla Veloso, chegou a colocar-se à frente da escavadeira na tentativa, em vão, de impedir a derrubada das árvores.
Depois da emissão dos embargos à obra, bombeiros foram chamados para apagar um incêndio, que aconteceu por volta das 13 horas do dia 5 de outubro na vegetação que ainda não havia sido derrubada. Um segundo incêndio foi debelado pelos bombeiros na noite de 13 novembro, na mesma área de mata ciliar. Moradores e ativistas cobram que as Polícias Civil e Técnica investiguem a origem das chamas e se foram acidentais ou criminosas.
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