quinta-feira, 12 de setembro de 2024

A DROGA DA HIPOCRISIA


Até quando a burguesia conservadora e os oportunistas da fé vão continuar negando a realidade e finalmente admitir que os costumes evoluíram?

No século XIX alguns poetas, artistas e aristocratas, deitados em sofás profundos, entregues a oníricos devaneios, fumavam o ópio trazido da China pelos ingleses. Alguns produziram obras-primas.

Hoje, o amplo leque de drogas, estimulantes ou perturbadoras, à sua disposição, é um fenômeno vertical. Do flanelinha à influenciadora, do advogado ao ministro, são milhões no mundo ocidental os que fumam ou cheiram. Quando não se injetam.

A obstinada recusa em legalizar as drogas, todas elas, leva o País inteiro a enfrentar um quotidiano de medo e perigo. Ninguém sai de casa ou do trabalho com a certeza de que não será mais uma vítima de tiro perdido ou sequestro relâmpago.

Vivi minha infância e adolescência em Marrocos. Corriqueira era a visão, nos jardins e nos cafés, de estudantes, anciões ou até policiais sacarem do bolso seu pequeno cachimbo de barro e acender calmamente uma pinçada de hashish. Quem podia então imaginar que este tão banal hábito seria um dia proibido, perseguido e punido?

Ninguém duvide. O uso de drogas não é uma moda passageira. Veio para ficar. E, coibido, irá cada dia mais corroendo e gangrenando a sociedade cega, surda e muda. Quem assiste aos noticiários da televisão cansou de ver políticos e empresários acusados de envolvimento com o narcotráfico.

O lucro justifica todos os riscos quando se sabe, por exemplo, que o Anderson Manzini dito O Gordo, ex-inquilino da advogada Deolane Bezerra e competentíssimo administrador do PCC, movimentou, desde a penitenciaria Presidente Venceslau, em cinco anos a bagatela de R$8 bilhões! Quando foi descoberto o helicóptero pertencendo ao deputado Gustavo Perrella abarrotado com 450 kgs de pura cocaína... a culpa foi do piloto, e abafou-se o assunto. No avião presidencial de Bolsonaro viajaram 39 – porque não 40? - quilos da branquinha, mas no Brasil até hoje ninguém ouviu falar de processo nenhum. E de castigo, muito menos. Já o juiz paulista Gerdinaldo Quichava Costa achou pouco o réu confesso transportar 23 quilos de pó no seu carro especialmente adaptado, e liberou o traficante. Tanta gentileza teria algum  símbolo religioso? Já nas ruelas e becos das favelas, jovens negros são mortos pelo porte de dez gramas de maconha, e até por simples suspeita. Isso quando não é a própria polícia, sem câmera corporal, colocando uns pacotinhos nos bolsos dos mortos.

É de conhecimento geral que muitos são os políticos que se drogam. Problemas deles. Mas como se abastecem? Só com a solícita ajudinha do narcotraficante. Que um dia cobrará o justo preço da complacência. Afinal, uma mão lava a outra.

 

 

 

 

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