segunda-feira, 23 de junho de 2025

SÓ FALTOU O DONO DA FESTA

 

Pode ser uma imagem de texto que diz "Opinião: O maior palco sem O protagonista um espetáculo de ausências"
Petrolina está linda.
O palco é monumental. As luzes, impecáveis. A cenografia, de encher os olhos. O investimento, digno de nota. A multidão, viva, alegre, vibrante.
Mas falta algo. Falta o que não se compra com edital, com patrocínio ou com produção de marketing.
Falta o dono da festa.
Na abertura do São João de Petrolina, em 13 de junho, o que se viu foi uma sucessão de estrelas — mas nenhuma delas brilhou com a luz da sanfona. Nenhuma nasceu do chão quente do sertão. Nenhuma cantou o xote, o baião, a história de um povo que aprendeu a transformar dor em dança, escassez em celebração, saudade em canção.
Não vimos um só sanfoneiro. Nenhum fole, nenhum triângulo, nenhuma zabumba. Nenhuma alma nordestina no centro do palco.
E o que mais assusta não é a ausência em si — é o silêncio cúmplice de quem assiste e aplaude, como se tudo estivesse bem. Como se forró fosse acessório, e não essência. Como se a raiz fosse descartável, e não sagrada.
A pergunta que não quer calar é: desde quando o dono da casa precisa de convite para entrar em sua própria festa?
Enquanto Flávio Leandro canta verdades sobre o sertão nos bastidores, artistas de fora, com cardápio musical comercial, ocupam os holofotes com hits que não dizem nada sobre nós.
Enquanto Dorgival Dantas emociona multidões com seu xote sincero, é ignorado em festas que se dizem “juninas”.
Enquanto Elba Ramalho segue sendo altar de brasilidade e ancestralidade, preferem-se nomes do momento que sequer sabem diferenciar um arrasta-pé de um axé.
Não se trata de bairrismo. Trata-se de respeito.
O São João não é apenas uma grade de atrações. É um rito. É um código de memória coletiva.
Desfigurá-lo não é modernizar. É profanar.
Trazer artistas de fora, sem espaço para os mestres do forró, é como montar um presépio sem o menino Jesus. É encenar uma ópera sem músicos. É organizar um velório da nossa cultura com palmas e fogos.
E, veja bem: não é proibição que se pede — é equilíbrio.
Não é fechar as portas à diversidade — é não expulsar o que é nosso do centro da festa.
Estamos confundindo modernidade com amnésia.
Estamos embalando o esquecimento com so

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