quarta-feira, 2 de novembro de 2016

O QUE SE ENTERRA...

... ESTÁ MORTO OU MORRE EM DEFINITIVO

Resultado de imagem para fotois de tampamento de riosO que se enterra está morto ou morre em definitivo. Em recente nota intitulada “Os rios de Salvador ameaçam a população” o missivista narra com angustia a grave situação dos rios de Salvador, ao tempo que clama pelo capeamento dos mesmos. Evoca a poética de Heródoto ao afirmar que o “Egito é uma dádiva do Nilo” mostrando a importância dos rios para a sociedade e também lembra da “pureza magistral” dos rios europeus de hoje. 
É preciso indicar algumas incorreções importantes na nota. Os rios são corpos hídricos, que assemelhado ao sangue humano define a saúde do corpo. Os rios representam a qualidade e a saúde dos lugares que banham, se o rio está doente, doente está o lugar que o abriga. A saúde de um rio depende de muitas questões concretas: carga de sedimentos, volume e tipo de efluentes lançados, volume/vazão, profundidade, tipo de leito, entre outros parâmetros. 

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A longa história da relação das sociedades com os rios normalmente não foi bela. Por vezes chegou-se a extremos de degradação, para depois com imensos esforços tecnológicos e financeiros estes rios outrora degradados, atingissem um padrão sanitário e de beleza adequados. 

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O Egito, país do imenso continente africano, controla as águas do rio Nilo com a barragem de Assuã. O Nilo de hoje, mal chega ao mar mediterrâneo, a dádiva do Nilo é agora para os egípcios. Os rios europeus citados no texto há pouco tempo atrás eram esgotos envenenados. 

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Mas deixemos o pensamento colonizado e partamos para uma reflexão sobre nossas condições reais e concretas e como possivelmente resolve-las. O programa de saneamento ambiental realizado em Salvador até o momento, não deu conta de resolver a grave situação dos rios urbanos. 
Este problema precisa ser olhado de maneira séria, mas com certeza absoluta não é o tamponamento/sepultamento a solução. De longe resolverá o problema e potencializará problemas muito maiores que ainda não conhecemos as consequências. 



Resultado de imagem para fotos de rios tamponadosO tamponamento cria duas bombas de efeito retardado: uma primeira é biológica, pois não haverá mais luz para a decomposição e transformação das cargas orgânicas que acumularam, criando processos de proliferação e talvez formação de novos organismos patogênicos letais e/ou substâncias tóxicas, formadas através de reações desencadeadas pela mistura de compostos químicos lançados na rede de esgoto, que chegarão diretamente ao mar ou permanecerão em bolsões insalubres cobertos por cimento ou asfalto. 
Estes processos contaminantes, cujo veículo são os rios, chegarão ao mar e afetar a cadeia trófica marinha, retornando para a nossa mesa, através da indústria pesqueira. A acumulação de metano e outros gases, provenientes da decomposição em ambiente praticamente anaeróbio e afótico, pode gerar inúmeros outros problemas, além é claro do acumulo de sedimentos que continuarão a serem carreados e também acumulados. 

Poderíamos discorrer sobre estes e outros 

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sérios inconvenientes e inconsistências sobre o tamponamento/sepultamento dos rios de Salvador, mas se quisermos valorizar esta linda cidade e figurar como referência no turismo ou outra área, temos que resolver o problema do saneamento ambiental e não o esconder, sepultando a esperança de sermos algo melhor por nós mesmos. Parafraseando dois poetas baianos, não podemos “varrer para debaixo do tapete persa uma possível estupidez”( Raul Seixas) e com todo o esforço necessário, devemos “purificar o Subaé” (Caetano) e todos os rios de Salvador e da Bahia. 
Resultado de imagem para fotos de rio subaeEm uma cidade tão desigual e ao mesmo tempo tão bela, continuaremos a tratar nosso corpo urbano como sujeira e escondê-la? Ou agiremos buscando soluções viáveis e efetivas? Ou deixaremos mais e mais problemas para os que vierem depois de nós?. A qualidade dos rios é uma questão de justiça social, qualidade de vida e direito a uma cidade mais humana. 


Marco Antonio Tomasoni (Geógrafo) 
Ricardo Fraga (Geólogo)

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