Marcus Fabiano
A onda conservadora e reacionária, aqui por essa bolha digital pranteada aos quatro ventos no espaço das artes e da cultura (mas raramente no da educação), exibe causas estruturais (plenamente evitáveis) e tem responsáveis específicos (facilmente identificáveis).
A primeira de suas causas é o uso instrumental dos contingentes evangélicos como base eleitoral de desempate político em campanhas alienantes e comandadas pela lógica cleptopublicitária e consumista (a Teologia da Prosperidade e o “milagre materialista” da cidadania das Casas Bahia). Foram tais alianças espúrias que, em plena inauguração do Templo de Salomão, elevaram os orbitantes ao redor de Edir Macedo à condição de fiel da balança do último pleito presidencial, evento ao qual afluíram Dilma, Temer e Haddad, recorde-se bem.
Quanto aos responsáveis específicos, é suficiente dizer que mais de um decênio de trato governamental no mundo da cultura serviu para fidelizar certas elites culturais (a autodenominada "classe artística") como propagandistas de um "Golpe de Estado” – as mesmas elites dependentes das benesses estatais ao ponto de conseguirem se reproduzir tranquilamente e de colocarem seus próprios herdeiros e mimetizadores autorizados nos devidos postos estratégicos do acúmulo econômico e simbólico gerado pelo lucrativo mercado do entretenimento, coisa que, por exemplo, transformaria a MPB em produto do consumo “cult”, destinado a caríssimos concertos em espaços de luxo, substituindo-a, no âmbito das massas, pelo lixo gospel e outras imitações da rubrica “latina” da cena norte-americana, por aqui tristemente festejadas como “empoderamento” pseudopolítico.
Todavia, (1) esse uso instrumental dos segmentos conservadores como base política e (2) essa mercantilização aparelhadora da cultura podem ainda ser ambos reconduzidos a uma mesma origem, absolutamente comum: o abandono da educação básica e média (laica, gratuita e de excelência) seguido da entrega do “sonho do diploma de faculdade” à voracidade de uma educação privada de má qualidade, sustentada por financiamento público e sem qualquer correspondência efetiva no mundo concreto das vagas de trabalho. A todos que conseguiram acompanhar esse diagnóstico parcialíssimo e sintético, um feliz dia do Professor.
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