terça-feira, 17 de setembro de 2024

O PRAZER DE MATAR

 

Caçadores brasileiros publicaram no Facebook a morte de 4.658 animais em três anos

Animais de 157 espécies - 19 ameaçadas de extinção - estavam entre os registros encontrados na rede social.

17 de setembro de 2024
FAUNA NEWS Caçadores brasileiros publicaram no Facebook a morte de 4.658 animais em três anos
Estudo revelou que mais de dois mil eventos de caça foram registrados - Imagem: reprodução Facebook

Cientistas encontraram mais de dois mil eventos de caça no Brasil publicados em cinco grupos sobre o assunto no Facebook entre 2018 e 2020. Os registros indicavam acontecimentos em todos os Estados e biomas do país, envolvendo mais de 1.400 caçadores. A pesquisa identificou 4.658 animais abatidos ilegalmente, incluindo indivíduos de espécies ameaçadas de extinção.

Para se obter estes dados, os pesquisadores realizaram a busca por palavras-chave no Facebook, utilizando “caça” e “Brasil” como pontos de seleção. Os cinco primeiros grupos que apareceram foram objetos de análise. A busca por palavra-chave já direciona para os grupos com maior número de membros e movimentações relevantes. Os cinco grupos listados foram criados entre os anos de 2018 e 2020.

Na etapa seguinte, eles analisaram todas as postagens, identificando os animais abatidos e contabilizando os que seriam para consumo. A estimativa é de que tenham sido extraídas cerca de 30 toneladas de carne silvestre.

Espécies nativas de fauna mais visadas

De acordo com o estudo, foram reconhecidas 157 espécies de animais silvestres nesses grupos. Os animais mais caçados são paca (Cuniculus paca), pomba-avoante (Zenaida auriculata),  pomba-asa-branca (Patagioenas picazuro) e tatu-galinha (Dasypus novemcinctus). Do total de espécies identificadas, 19 esãto ameaçadas de extinção, como cateto (Pecari tajacu), queixada (Tayassu pecari), anta (Tapirus terrestris), cujubi (Aburria cujubi), jacutinga (Aburria jacutinga), mutum-de-penacho (Crax fasciolata), jacu-de-barriga-castanha (Penelope ochrogaster), jacupiranga (Penelope pileata), coandu-mirim (Coendou speratus) e jabuti-tinga (Chelonoidis denticulatus).

O bioma onde ocorreram mais eventos de caça foi a Amazônia, contabilizando 707 eventos, seguida pela Mata Atlântica, com 688, Cerrado-Pantanal, com 387, Caatinga, com 161, e Pampa, com 103.

As espécies mais caçadas por bioma foram:

  • Amazônia: mutum-cavalo (Pauxi tuberosa), paca (Cuniculus paca) e jacaretinga (Caiman crocodilus).
  • Mata Atlântica: pomba-asa-branca (Patagioenas picazuro), paca (Cuniculus paca) e teiú (Salvator merianae).
  • Cerrado e Pantanal: pomba-avoante (Zenaida auriculata), paca (Cuniculus paca) e jacaretinga (Caiman crocodilus).
  • Caatinga: pomba-avoante ou ribaçã (Zenaida auriculata), mocó (Kerodon rupestris) e teiú (Salvator merianae).
  • Pampa: marrecão (Netta peposaca), capivara (Hydrochoerus hydrochaeris) e jacaré-de-papo-amarelo (Caiman latirostris).

Autor principal do artigo, o biólogo brasileiro e pesquisador do Center for International Forestry Research (Cifor-Icraf (Indonésia) e Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (Brasil), Hani El Bizri, afirmou que somente a fiscalização ambiental, da forma como está hoje, não é efetiva para coibir a caça de espécies silvestres.

É necessário pensar em uma gama de ações conjuntas. O que não se pode é deixar como está. A caça é um grande gargalo para a sobrevivência de espécies, principalmente as que já são consideradas em extinção”, completou.

O número levantado é considerado bem inferior ao que acontece na realidade, já que foi um recorte de uma única rede social e envolveu somente os grupos mais vistos. Além disso, há também os caçadores que não utilizam as redes sociais para veicular imagens e vídeos de caçadas.

FAUNA NEWS Caçadores brasileiros publicaram no Facebook a morte de 4.658 animais em três anos
Conteúdos sobre caça e dicas de armas e cevas são postados nesses grupos – Imagem: reprodução Facebook

Redes sociais fortalecem quem está cometendo crimes

De acordo com Hani, as redes sociais facilitam a aproximação e a troca de experiências entre os caçadores – o que não aconteceria em outras circunstâncias. “As mídias sociais possibilitam que pessoas de lugares muito distantes façam esse tipo de contato. Quem imaginaria, por exemplo, que um caçador do Rio Grande do Sul poderia falar com um do Acre ou do Amapá, que um comente a foto do outro e que troquem informações e técnicas de caça? Criou-se um ambiente em que eles conseguem interagir em distâncias muito grandes”, completou.

Sobre a propagação de informações sobre caça pelas redes sociais, o estudo enfatizou que a publicação desse tipo de conteúdo torna os donos das plataformas cúmplices da caça ilegal, de acordo com a legislação brasileira. Em 2022, o Ibama multou em 2 milhões de dólares a Meta, proprietária do Facebook, do Instagram e do WhatsApp, pela exposição de venda ilegal de animais silvestres.

Fauna News fez contato com a assessoria de comunicação do Facebook para saber quais providências a empresa tem tomado para resolver o problema, porém não obteve resposta até a data de publicação desta matéria.

90% dos brasileiros são contra a caça

Três pesquisas revelaram que pelo menos 90% da população brasileira é contra a caça. Em 2003, pesquisa do Ibama mostrou que 90% dos brasileiros desaprovam a prática. Em 2019, a ONG WWF Brasil encomendou ao Ibope uma pesquisa semelhante, que mostrou que 93% dos brasileiros são contra a caça. Em 2022, trabalho do Datafolha conseguiu um resultado de 90%.

Palavras-chave:

    sábado, 14 de setembro de 2024

    POR TRAS DA MATANÇA DE GAZA

     Territórios palestinos têm gás e petróleo que podem gerar centenas de bilhões de dólares 

    Unrwa/ Marwan Baghdadi

     

    Agência destaca que, até o momento, o povo palestino tem sido proibido de explorar as reservas de petróleo e gás em suas próprias terras.


    28 Agosto 2019 Desenvolvimento econômico

    Para Unctad, novas descobertas dão oportunidade de distribuir e compartilhar cerca de US$ 524 bilhões na região; pesquisa recomenda estudos mais detalhados sobre direito dos palestinos aos seus recursos naturais.

    Geólogos e economistas confirmaram que nos territórios palestinos existem “reservas consideráveis de petróleo e gás natural”. Estes recursos estão localizados na Área C da Cisjordânia e na costa do Mediterrâneo, ao longo da Faixa de Gaza.

    A informação consta do estudo intitulado O Custo Econômico da Ocupação do Povo Palestino: O Potencial Não Realizado de Petróleo e Gás Natural da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento, Unctad.


    Uma mulher deslocada alimenta uma criança em Gaza. Foto: © Banco Mudial/Natalia Cieslik

    Petróleo

    De acordo com a pesquisa, as novas descobertas de gás natural na Bacia do Levante estão na faixa de 122 trilhões de pés cúbicos, enquanto a quantidade de petróleo recuperável ronda os 1,7 bilhão de barris.

    Estes recursos oferecem “uma oportunidade de distribuir e compartilhar cerca de US$ 524 bilhões entre as diferentes partes na região, além de promover a paz e a cooperação entre os antigos beligerantes”.

    Com esses fundos, poderia ser financiado o desenvolvimento socioeconômico nos territórios palestinos como parte da Agenda 2030 de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas, destaca a Unctad.

    Exportação

    A agência destaca que, até o momento, o povo palestino tem sido “proibido de explorar as reservas de petróleo e gás em suas próprias terras”, além da água para atender às suas necessidades energéticas e gerar receitas fiscais e de exportação.

    Segundo o estudo, com essa situação aumentam tanto os custos de oportunidade quanto os custos totais suportados pelo povo palestino como resultado da ocupação.

    A Assembleia Geral das Nações Unidas adotou várias resoluções sobre a questão, solicitando que a Unctad  avalie e dê informações sobre o custo econômico da ocupação.

    O foco do recente estudo é o petróleo e o gás natural “devido ao seu alto valor e à importância crítica em atender potencialmente às necessidades básicas da Palestina por energia, e pelas receitas fiscais e de exportação”.

    Banco Mundial/Natalia Cieslik

     

    Crianças em Gaza, onde cerca de 1 milhão de refugiados palestinos precisam de assistência.

    Auxílio

    O trabalho identifica e avalia as reservas existentes, além do potencial de petróleo e do gás natural que podem ser explorados pela Palestina. O novo estudo sobre o auxílio aos palestinos deve ser publicado no dia 10 de setembro.

    De acordo com a Unctad, nas novas descobertas de petróleo e gás natural no Mediterrâneo Oriental também é fundamental ressaltar “que Israel começou a explorar para seu próprio benefício, enquanto esses recursos podem ser considerados compartilhados, já que o petróleo e o gás natural existem em consórcios comuns”.

    Os especialistas advertem que recursos que poderiam ser uma fonte de riqueza e oportunidades, podem ser desastrosos se explorados de forma individual e exclusiva, sem a devida consideração pelas leis e normas internacionais”.

    Fronteiras

    Os custos da exploração dos recursos naturais palestinos por  Israel, incluindo petróleo e gás natural, “impõem enormes custos e estão aumentando à medida que a ocupação continua em vigor”.

    A pesquisa destaca ainda a particularidade destes recursos não serem renováveis, apontando que as gerações atuais não são necessariamente as únicas proprietárias. De acordo com o estudo, estes se estendem por fronteiras nacionais e “podem, portanto, ser de propriedade conjunta de múltiplos Estados e gerações”.

    A pesquisa recomenda mais estudos detalhados “para estabelecer claramente o direito do povo palestino a seus recursos naturais de forma separada”.

    Entre as outras questões a serem avaliadas estão ainda a participação legítima destas populações em recursos comuns de propriedade coletiva de Estados vizinhos da região, incluindo Israel.

    sexta-feira, 13 de setembro de 2024

    LA DROITE PARLE DE GAZA

    APÓS 14 ANOS...

     

    Após projetos fracassados e 14 anos sem barracas, orla será entregue a empresa privada

    Aproximadamente 3,5 mil m² de extensão de orla serão entregues a empresa em projeto de concessão

    Após projetos fracassados e 14 anos sem barracas, orla será entregue a empresa privada

    Foto: Metropress/Leonardo Lima

    Por: Laisa Gama no dia 12 de setembro de 2024 

    Reportagem publicada originalmente no Jornal Metropole em 12 de setembro de 2024




    Pensar em Salvador é visualizar praias como principal atividade de lazer, areias lotadas, banhistas se refrescando nas águas mornas de mais de 100 km de orla, um verão eterno, correto? Errado. Há 14 anos, esse cenário deixou de existir na capital baiana. Com a retirada das barracas de praia e principalmente a posterior ausência de alternativa ou alternativas frustradas, boa parte da orla da capital segue submersa a um deserto de banhistas, de atividade econômica, de lazer e cultura.

    Agora, 14 anos depois, um projeto promete o “renascimento” da orla. Quem sabe até com o glamour de Copacabana. Com toda essa ambição, a gestão municipal resolveu abrir uma consulta pública para que a comunidade deixe sua opiniões e sugestões para um projeto que planeja transformar trechos da Avenida Octávio Mangabeira. Mas não é só transformar. É entregar nas mãos da iniciativa privada para que ela execute as obras, promova a transformação e explore o local por 30 anos. A famosa concessão, o que acontece com as BR’s 116 e 324 na Bahia, administradas, a trancos e barrancos, pela ViaBahia de 2009 até 2034.

    O contrato de concessão vai incluir a reforma e manutenção da orla com 34 novos quiosques e 70 barracas entre as praias da Boca do Rio, dos Artistas e de Pituaçu. Ao todo, são 3,5 mil metros, que serão concedidos a uma empresa. A escolha dela, segundo o edital, será feita por concorrência, cujos critérios serão “melhor técnica” e “maior preço” de outorga - valor pago pela empresa à prefeitura. O edital determina que a concessionária garanta a permanência de permissionários e os 60 comerciantes informais. Mas a preocupação não é só essa. É, na verdade, se haverá finalmente um resgate do local. Afinal, não é a primeira tentativa que mirava a orla carioca e acabou enterrando de vez a soteropolitana e deixando esses comerciantes na mão.

    No verão de 2015, o então prefeito ACM Neto anunciou um projeto de requalificação com quiosques em Itapuã, Piatã e Jardim de Alah. As estruturas mais pareciam playgrounds, com vidro e alvenaria, completamente descolados do comportamento do banhista e da estética da orla de Salvador. Via licitação, três empresas construíram e locaram os espaços que nem precisaram de muito tempo para ficar às moscas. A esperança é que a história não se repita.

    quinta-feira, 12 de setembro de 2024

    A DROGA DA HIPOCRISIA


    Até quando a burguesia conservadora e os oportunistas da fé vão continuar negando a realidade e finalmente admitir que os costumes evoluíram?

    No século XIX alguns poetas, artistas e aristocratas, deitados em sofás profundos, entregues a oníricos devaneios, fumavam o ópio trazido da China pelos ingleses. Alguns produziram obras-primas.

    Hoje, o amplo leque de drogas, estimulantes ou perturbadoras, à sua disposição, é um fenômeno vertical. Do flanelinha à influenciadora, do advogado ao ministro, são milhões no mundo ocidental os que fumam ou cheiram. Quando não se injetam.

    A obstinada recusa em legalizar as drogas, todas elas, leva o País inteiro a enfrentar um quotidiano de medo e perigo. Ninguém sai de casa ou do trabalho com a certeza de que não será mais uma vítima de tiro perdido ou sequestro relâmpago.

    Vivi minha infância e adolescência em Marrocos. Corriqueira era a visão, nos jardins e nos cafés, de estudantes, anciões ou até policiais sacarem do bolso seu pequeno cachimbo de barro e acender calmamente uma pinçada de hashish. Quem podia então imaginar que este tão banal hábito seria um dia proibido, perseguido e punido?

    Ninguém duvide. O uso de drogas não é uma moda passageira. Veio para ficar. E, coibido, irá cada dia mais corroendo e gangrenando a sociedade cega, surda e muda. Quem assiste aos noticiários da televisão cansou de ver políticos e empresários acusados de envolvimento com o narcotráfico.

    O lucro justifica todos os riscos quando se sabe, por exemplo, que o Anderson Manzini dito O Gordo, ex-inquilino da advogada Deolane Bezerra e competentíssimo administrador do PCC, movimentou, desde a penitenciaria Presidente Venceslau, em cinco anos a bagatela de R$8 bilhões! Quando foi descoberto o helicóptero pertencendo ao deputado Gustavo Perrella abarrotado com 450 kgs de pura cocaína... a culpa foi do piloto, e abafou-se o assunto. No avião presidencial de Bolsonaro viajaram 39 – porque não 40? - quilos da branquinha, mas no Brasil até hoje ninguém ouviu falar de processo nenhum. E de castigo, muito menos. Já o juiz paulista Gerdinaldo Quichava Costa achou pouco o réu confesso transportar 23 quilos de pó no seu carro especialmente adaptado, e liberou o traficante. Tanta gentileza teria algum  símbolo religioso? Já nas ruelas e becos das favelas, jovens negros são mortos pelo porte de dez gramas de maconha, e até por simples suspeita. Isso quando não é a própria polícia, sem câmera corporal, colocando uns pacotinhos nos bolsos dos mortos.

    É de conhecimento geral que muitos são os políticos que se drogam. Problemas deles. Mas como se abastecem? Só com a solícita ajudinha do narcotraficante. Que um dia cobrará o justo preço da complacência. Afinal, uma mão lava a outra.

     

     

     

     

    THIS DRAWING IS TEN YEARS OLD


     

    PCC NO MP

     

    Patroa do PCC ia iniciar estágio no MPSP no dia em que foi presa

    Elaine Souza Garcia, de 34 anos, teve sua convocação publicada no Diário Oficial e assinaria posse na terça-feira (10/9), data de sua prisão

     atualizado 

    Reprodução/PF
    Foto do rosto de mulher parda, cabelos lisos compridos, pouco abaixo do ombro, camiseta de gola rolê e brincos redondos grandes e dourados - Metrópoles

    São Paulo — A integrante do Primeiro Comando da Capital (PCC) Elaine Souza Garcia, de 34 anos, conhecida como Patroa, é estudante de direito e tinha acabado ser aprovada em um programa de estágio do Ministério Público de São Paulo (MPSP). A assinatura da posse que marcaria o início do estágio estava marcada para terça-feira (10/9), mesmo dia em que ela foi presa acusada de liderar ataques do Novo Cangaço — as grandes ações de roubo a bancos que acontecem em cidades pequenas.

    4 imagens
    Elaine Souza Garcia, a Patroa, de 34 anos
    Criminosos negociavam armas por meio de mensagem
    Patroa do PCC em treinamento

    Patroa do PCC pretendia ingressar no estágio na cidade de Itapeva, no interior de São Paulo. A convocação de Elaine pela Regional de Sorocaba chegou a ser publicada no Diário Oficial — ela deveria comparecer às 9h na Promotoria de Justiça da cidade. As informações são da GloboNews.

    prisão de Elaine aconteceu durante operação conjunta do próprio MPSP e da Polícia Federal. As investigações apontaram que ela foi uma das pessoas a receber treinamento de tiro com fuzil diretamente de um homem cadastrado Colecionador, Atirador Desportivo e Caçador (CACs). Ele foi identificado como Otávio Alex Sandro Teodoro de Magalhães, o Terrorista.

    O treino tático dos CACs (veja abaixo) inclui orientação sobre o manuseio de armas com alto poder de destruição. A habilidade, segundo as investigações, credenciaria os criminosos a realizar os ataques conhecidos como Novo Cangaço ou domínio de cidades

    Conforme mostrou o Metrópoles, a Patroa do PCC é peça-chave na investigação sobre as ações do Novo Cangaço. Ela também seria responsável pela negociação de drogas, armas e por receber retornos sobre assassinatos de rivais.

    Esposa de Pantera

    Um dos matadores que lhe prestam satisfações, segundo relatório da PF obtido pelo Metrópoles, é o marido dela: Delvane Lacerda, o Pantera, apontado como importante membro do PCC. Ele é um dos principais responsáveis por ajudar a facção a estender os tentáculos para o Piauí.

    Pantera e Patroa, casados há oito anos, compravam armamento pesado de Otávio Terrorista, o mesmo que deu a eles o treinamento com fuzil. Pantera e Terrorista também foram presos na terça-feira.

    Além do casal e do CAC, foram presos durante os integrante do PCC Jakson Oliveira Santos, o Dako, e Diogo Ernesto Nascimento Santos, que atuava no núcleo financeiro da facção e, também, nas execuções de inimigos.

    Metrópoles busca a defesa dos acusados. O espaço está aberto a manifestações.

    No total, 18 suspeitos foram denunciados pelo MPSP desde o início do ano. Quatro CACs foram presos apontados como fornecedores de armas para a facção.

    A FARRA DE GUSTTAVO LIMA

    quarta-feira, 11 de setembro de 2024

    OS DIAMANTES DO SUICÍDIO

     

    Guerra na Ucrânia provoca onda de suicídios na Índia

    23 de agosto de 2024

    Lapidadores indianos de diamantes enfrentam crise financeira após perderem acesso a matéria-prima vinda da Rússia, alvo de sanções internacionais.

    Com veto aos diamantes russos, artesãos indianos foram forçados a procurar empregos fora do setor, com pouca ou nenhuma qualificação

    Quando a Rússia invadiu a Ucrânia, em fevereiro de 2022, os residentes de Surat, na Índia, não imaginavam que uma guerra a milhares de quilômetros de distância levaria a um aumento de suicídios em sua comunidade.

    Em Surat, no oeste do país, funciona o epicentro da indústria de diamantes da Índia, que emprega mais de 600 mil pessoas. Os trabalhadores do município são responsáveis pelo corte e polimento de 80% dos diamantes do mundo, de acordo com estatísticas do setor.

    Quando a guerra na Ucrânia começou, o mercado de diamantes indiano já enfrentava problemas como enchentes na África, queda na demanda mundial e exportações estagnadas para a China.

    Mas a seguinte onda maciça de sanções ocidentais contra a Rússia, que incluiu os diamantes russos, empurrou Surat para uma profunda crise financeira.

    Como a guerra na Ucrânia está causando a crise financeira em Surat?

    Em resposta à invasão da Ucrânia, a União Europeia e o G7 restringiram o comércio de  diamantes russos. O país é o maior produtor de diamantes do mundo em volume bruto e costuma exportar a pedra preciosa em estado bruto para ser polida e cortada na Índia.

    Como resultado da sanção ocidental a Moscou, o setor de diamantes indiano teve, portanto, o acesso à matéria-prima vinda da Rússia limitado, e sua receita sofreu um corte de quase um terço. 

    Pelo menos 63 lapidadores de diamantes cometeram suicídio em Surat nos últimos 16 meses – vários deixaram bilhetes culpando as dificuldades financeiras, de acordo com relatos da mídia local. Milhares de outros trabalhadores da indústria perderam seus empregos ou estão enfrentando cortes salariais.

    Comerciantes de diamantes reunidos no mercado principal de Surat, na Índia.
    A grande maioria dos diamantes do mundo passa por Surat, na Índia, para serem lapidados.Foto: SAM PANTHAKY/AFP/Getty Images

    "Mais de 30% do suprimento de matéria-prima da Índia vinha da mina russa Alrosa", disse Dinesh Navadiya, presidente regional do Conselho de Promoção de Exportação de Gemas e Joias (GJEPC), formado pelo Ministério do Comércio e Indústria da Índia. "Esse negócio perdido ainda não se recuperou", disse ele à DW.

    Jagdish Khunt, presidente da associação de comerciantes de diamantes de Surat, tem uma perspectiva similar. "Desde o primeiro bombardeio da guerra entre a Rússia e a Ucrânia, as coisas só pioraram para nós", disse ele.

    Índia não consegue escoar diamantes

    A exportação de diamantes lapidados e polidos da Índia caiu 27,6% no ano fiscal de 2023-24, com cortes significativos de seus três principais clientes – Estados Unidos, China e Emirados Árabes Unidos.

    Como resultado, as empresas estão com um estoque três vezes maior do que o normal, disse Navadiya.

    "As linhas de crédito começaram a se esgotar e os proprietários de empresas muitas vezes são forçados a vender alguns estoques por uma fração do custo, apenas para permanecerem operacionais", disse ele.

    Polidores de diamantes pedem ajuda

    Ramesh Zilariya, chefe do sindicato de trabalhadores de diamantes do estado de Gujarat, onde fica Surat, passa uma parte considerável de seu tempo atendendo ligações em uma linha de telefone criada em julho para combater o suicídio. "Recebemos mais de 1,6 mil ligações pedindo ajuda desde que lançamos esse número."

    Uma dessas ligações, a de um lapidador de diamantes, chamou a atenção de Zilariya. O homem ficou quatro meses desempregado, não conseguia pagar o aluguel e nem as mensalidades da escola do filho e tinha uma dívida de 500 mil rúpias (o equivalente a R$ 33 mil). Seus credores haviam se tornado agressivos. "Ele disse que estava cansado e queria cometer suicídio", disse Zilariya, cujo escritório resgatou o homem.

    "Ele chorou em nosso escritório o dia inteiro. Por fim, encontramos uma casa para alugar para sua família, pagamos o depósito e o primeiro mês de aluguel, as taxas escolares dos filhos e encontramos empregos para o marido e a esposa fora do mercado de diamantes", disse ele.

    No entanto, nem todos podem ser ajudados financeiramente, disse ele. "Tentamos encontrar empregos para os demais, mas tudo o que eles sabem fazer é polir diamantes."

    Empresas cortam horas de trabalho e reduzem salários

    Manoj, um lapidador de diamantes de 45 anos de Surat, também foi demitido em maio, após três décadas de trabalho. Ele acabou encontrando um emprego de entregador de encomendas. Mas seu salário é baixo e o empregador não o reembolsa pelas despesas com combustível.

    Único a trabalhar em uma família de seis pessoas, ele está agora com dois meses de aluguel atrasado, não conseguiu pagar as mensalidades escolares do filho mais velho e hipotecou o mangalsutra – uma corrente de casamento de ouro considerada sagrada pelos hindus, além de brincos e um anel de ouro da esposa.

    "Não consigo dizer como estamos nos virando”, disse ele à DW.

    Nem o governo nem o sindicato dos trabalhadores do setor de diamantes têm dados completos sobre quantas pessoas perderam seus empregos, uma vez que parte do mercado opera informalmente.

    Funcionários examinam diamantes em uma fábrica em Surat, na Índia.
    Os trabalhadores indianos do setor de diamantes viram seus salários caírem em até 40%Foto: PUNIT PARANJPE/AFP/Getty Images

    "Tentamos fazer uma pesquisa enviando formulários do Google, mas a maioria deles não sabe como operar essa tecnologia”, disse Zilariya.

    O chefe do sindicato estimou que pelo menos 50 mil polidores e lapidadores perderam seus empregos nos últimos seis meses e centenas de milhares nos últimos 18 meses.

    Já aqueles que têm a sorte de ainda ter um emprego estão enfrentando severos cortes salariais. Navadiya, do GJEPC, disse que muitas empresas agora empregam uma semana de trabalho de apenas quatro dias, para economizar dinheiro. Elas também reduziram as horas de trabalho por dia.

    "Eles querem garantir que mais pessoas tenham algum trabalho a fazer, mas isso resultou em um corte de 30 a 40% nos salários. Alguém que ganhava 40 mil rúpias [R$ 2,6 mil] agora ganha apenas 23 mil [R$ 1,5 mil] por mês”, afirmou.

    Trabalhadores querem ajuda financeira

    O sindicato dos trabalhadores do setor de diamantes de Gujarat enviou várias cartas ao governo do estado, solicitando um pacote de ajuda econômica.

    Eles exigem a retomada do "Ratandeep Yojana”, um programa de treinamento criado para aprimorar as habilidades dos trabalhadores do setor de diamantes, lançado por Narendra Modi, hoje primeiro-ministro da Índia, quando ele governava o estado de Gujarat, durante a crise econômica de 2009.

    O sindicato também exige ajuda financeira para as famílias dos artesãos que perderam suas vidas por suicídio. "Estamos escrevendo para eles desde o ano passado, mas eles nem sequer responderam”, disse Zilariya.

    Em abril, o ministro de relações exteriores da Índia, Subrahmanyam Jaishankar, expressou preocupação com as repercussões da proibição do G7 sobre os diamantes russos em um evento em Surat. "A intenção deles é prejudicar a Rússia. Mas não é assim que funciona. O produtor geralmente encontra uma maneira. Mais do que a Rússia, essas medidas tendem a prejudicar os que estão abaixo na cadeia de suprimentos”, disse ele, segundo a mídia local.

    Em maio, a agência de notícias Reuters informou que os EUA estavam reavaliando o veto aos diamantes russos após protestos de joalheiros na Índia, na África e até mesmo em Nova York.