terça-feira, 17 de julho de 2018

CAETANO ENTREVISTA CIRO




SOBRE A ENTREVISTA DO CAETANO COM O CIRO GOMES
PARA JOSÉ CALDAS:

Zé, o papo entre o Caetano e o Ciro não me convenceu.
Acontece que eu previa o teor da conversa, como eles mesmos mencionam, o Caetano diz “vocação”, o Ciro a “dimensão paroquial”, em torno da concretização de um “sonho” de um dia, ele, o Ciro Gomes, se tornar Presidente da República.
E é nessa da vocação que eu não entro, no individualismo retórico da maneira de ver os problemas, assim, quase que messianicamente, e não pela forma coletiva da ampliação da democratização do processo, que é o que eu espero da política.
O Ciro diz, em resposta à tolice do Caetano, que o “sonho” que cultiva é “mexer da História do Brasil”.
Pergunto eu. Como?
E acrescento que, não só ele, mas, todos nós, o povo brasileiro, a sociedade civil organizada, deveríamos nos prestar a mudar o curso da história brasileira.
E eu volto a pergunta. Como?
Essa é que é a questão da política no Brasil. E não outra.
O Ciro garante, e ele tem razão em dizer, que é com a elaboração de um Projeto Nacional, não me lembro bem se é esse o termo que ele usa.
E discorre que esse projeto tem que passar, primeiro, por um “Plano de Defesa”, segundo, pela readequação da “Política Externa”, aproximando o país ainda mais da China, da Rússia e da Índia.
Isso é o BRICS: a união do Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul em torno da cooperação política na esfera de uma governança econômica e financeira, influenciando o G-20, inclusive, a rever a atuação do FMI no mundo inteiro.
Sem querer entrar no mérito dessa questão, vai um toque aqui: 
Quando se cria um Bloco, seja for, corre-se o risco do isolamento dentro da economia do resto do mundo.
A conversa avança no sentido da crítica ao Plano Real que, segundo o Ciro, “financiou” um ciclo de consumo no Brasil, sem construir um projeto de produção adequado à nossa realidade.
E é verdade, uma bolha. E o Lula fez igual.
Resultado: o Brasil está quebrado.
Essa questão do consumo, ao que me parece, é um dos problemas mais graves do nosso país. Cria-se um mercado privilegiado com a economia e a estrutura social fragilizadas e a mercadoria torna-se um instrumento de subjugação das massas.
Não há uma relação sadia. Ora, se o produto é resultado do trabalho e o trabalho no Brasil é financiado à custa de uma mão de obra barata e sem capacitação, o produto volta ao mercado para essa mão de obra em troca do dinheiro que ela não tem para pagar. 
E creio que é aí onde reside a nossa dependência secular.
Assim, o Plano de Defesa cai por terra. É preciso investir no sentido contrário, em um Plano de Educação.
Falaram do petróleo, do fisiologismo da esquerda, do presidencialismo de coalizão, que, segundo o Ciro, é uma criação do PSDB.
E aí também eu discordo fundamentalmente.
O presidencialismo de coalizão pluripartidarista brasileiro foi criado pela Constituição de 88, com o aval de todos os partidos, inclusive o PT do Lula.
E isso por uma falta de visão do futuro e pela praga que nos impregna permanentemente, os interesses individuais de cada um deles, de cada um dos políticos brasileiros, o jogo da fragmentação política, que foi a tática que balizou a colonização portuguesa e continua balizando a exploração econômica do nosso povo.
Resumo, sem querer me estender, e desejando ser compreendido.
Ninguém, nem um, nem outro, nenhum político, nenhum artista, acadêmico, jornalista, seja qualquer pessoa, fala sobre uma Reforma Política e Institucional do Estado Brasileiro. O Ciro falou uma única vez a palavra reforma, de forma vazia e descontextualizada da realidade caótica que vivemos no universo da política em nosso país.
É isso amigo, cada vez que eu penso nessa questão, mais chego à conclusão que não é por falta de competência, não! Mas por falta de interesse, de uma boa intenção que é a organização do Estado e da política brasileira que precisam ser reformados por serem antiquados, ultrapassados, conservadores, preconceituosos, racistas, classistas, justamente por causa dos interesses e benefícios próprios.
O Brasil saiu de longos anos da ditadura Vargas para uma Constituição (a de 46) liberal, unilateral, sem o impulsionamento da organização dos partidos políticos. Deu no que deu: outra ditadura, tão ou mais feroz.
E a Constituição de 88 caiu no mesmo erro.
Ao invés de pensar a política, pensou nos políticos.
Ou eles pensaram em si mesmos.
Tenho outras tantas conclusões a esse respeito que não cabem aqui, agora, o espaço é pequeno.
Em 2007, escrevi o livro “Geografia dos Infiéis”, onde eu consegui falar um pouco mais sobre a questão.
Tenho pensado muito sobre essas coisas.
(Na minha página publiquei vários artigos. É só catar por lá).
E carrego uma frustração:
A Constituição de 88 e a campanha eleitoral de 89 me influenciaram a não dar o meu voto. Não me senti representado.
Como não me sinto até HOJE.
Nunca votei para presidente.
Sem uma Reforma Politica profunda, que venha valorizar o voto, não dá para alimentar a ideia de querer eleger um candidato nos moldes do sistema que aí está..
Essa é uma santa ingenuidade.

Maurício Nolasco de Oliveira

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