sábado, 7 de maio de 2022

DO ARQUITETO ALAN CHU

 

Em Brasília, apartamento do arquiteto Alan Chu tem vista encantadora para a copa das árvores


Após morar anos na Chapada dos Veadeiros, em Goiás, o arquiteto Alan Chu e sua família agora vivem na capital do país. Ainda decifrando a cidade, ele conferiu ao pouso na Asa Sul identidade própria com a paleta neutra e um sem-fim de texturas


Sentado numa cadeira Paulistano, de Paulo Mendes da Rocha, da Futon Company, o arquiteto posa no corredor de acesso ao apartamento, inundado à tarde por quadradinhos desenhados pela luz que vence a fachada de cobogós – erguido em 1960 pela Novacap (empresa fundada em 1956 para gerenciar a construção da nova capital federal), o bloco que os Chu habitam teve a obra coordenada por Oscar Niemeyer

Fincar os pés em Brasília nunca esteve no radar de Alan Chu. A mudança que fez o arquiteto, sua mulher e os dois filhos encaixotarem a vida e rumarem ao Centro-Oeste trilhou caminhos do inconsciente. “A Cris teve um sonho místico com uma cidade que nem conhecia. Descobrimos ser Alto Paraíso, o interior de Goiás. Visitamos, nos encantamos e fomos passar uma temporada”, revela.

A primeira experiência em projetar no Cerrado começava ali: o casal montou a pousada Casa da Mangueira, que acolhe, em suas três suítes, hóspedes interessados nas belezas da região de muitas cachoeiras, encravadas na Chapada dos Veadeiros. À distância, Alan seguia sua rotina na equipe do escritório paulistano de Isay Weinfeld.

Apartamentos dos anos 1960 tem vista encantadora para a copa das árvores (Foto: Djan Chu/Divulgação)

No living, sofá Baixo, da Wentz Design, poltrona de Zanine Caldas, ambos na Hill House, e o piano que conduz a trilha sonora, ora tocada por Cris, ora pelas crianças

Apartamentos dos anos 1960 tem vista encantadora para a copa das árvores (Foto: Djan Chu/Divulgação)

A porta de entrada ganhou um puxador de cristal proveniente de Alto Paraíso, GO – ao lado dela, o armário como mesmo padrão ripado acomoda sapatos

 Essa vida onírica não terminou – apenas sofreu um ajuste de rota. Com as crianças maiores, a busca por uma escola levou os Chu para a urbe de Lucio Costa. E aqui se inicia um novo capítulo. “Fica difícil fugir dessa relação forte coma arquitetura moderna, muito marcante em Brasília. Eu respeito o patrimônio, valorizo o projeto existente, aproveito o cobogó, mas não compactuo coma mesma rigidez. Gosto mais do sensorial, de uma mistura sutil, leve”, pensa o profissional sobre seu atual endereço na Asa Sul, um bloco erguido pela Novacap e inaugurado em 1960. Na época, o coordenador de projetos da companhia urbanizadora era um já experiente Oscar Niemeyer

Apartamentos dos anos 1960 tem vista encantadora para a copa das árvores (Foto: Djan Chu/Divulgação)

Na cozinha, a estante de chapa metálica emoldura o armário antigo que acompanha a família há tempos

Curiosidades do informal dialeto arquitetônico brasiliense: bloco é sinônimo de prédio; um apartamento de canto é mais valorizado, pois permite que a luz passeie por todos os cômodos ao longo do dia; andares baixos (vale destacar que no Plano Piloto nenhuma unidade residencial ultrapassa seis pavimentos) miram a copa das árvores; o sol da manhã incidindo nos quartos garante noites mais frescas. Ponto para quem imaginou que a unidade de 140 m² escolhida por Chu para dividir com a família preenche todos esses requisitos.

Apartamentos dos anos 1960 tem vista encantadora para a copa das árvores (Foto: Djan Chu/Divulgação)

Na cozinha, paredes foram substituídas pelo muxarabi de estrutura metálica e ripas diagonais – junto à mesa desenhada por Isay Weinfeld, a Chair One, design Konstantin Grcic para a Magis, na Micasa, contrasta comas cadeiras vintage Oscar, de Sergio Rodrigues, e o pendente Ovni vemda Lumini; e, abaixo, a fachada do edifício – ou bloco, como dizemos locais: o térreo aberto vira cenário de brincadeiras infantis

Salvar
Apartamentos dos anos 1960 tem vista encantadora para a copa das árvores (Foto: Djan Chu/Divulgação)

Um leque de texturas se manifesta na cozinha: cobogó e granito são originais do apartamento, enquanto azulejos, quartzito, madeira de demolição e aço inox revelam as intervenções da obra recente

reforma manteve a quantidade original de quartos. E só. A cozinha teve as paredes que a separavam da sala substituídas por um muxarabi e ganhou uma estante metálica levíssima, que deixa tudo à mão. Um planejamento inteligente de marcenaria previu armários dupla-face, voltados para o corredor e para os quartos, multiplicando discretamente o espaço de armazenamento.

Apartamentos dos anos 1960 tem vista encantadora para a copa das árvores (Foto: Djan Chu/Divulgação)

A fachada do edifício – ou bloco, como dizemos locais: o térreo aberto vira cenário de brincadeiras infantis

Os banheiros se renovaram com bancadas de quartzito, que respeitam a paleta neutra da proposta de 1960. Até o piso de peroba de demolição recebeu tratamento para ficar mais claro. Poucos materiais, poucas cores, muitas texturas, muito conforto: tudo pontuado pela dinâmica da luz, que desenha seus rastros pela morada ao longo do dia.

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