A política cultural está afundando. Difícil evidenciar quando
e como aconteceu o choque com o gigantesco iceberg da mediocridade. A
padronização das barracas de festas de largo ou a absurda e provinciana
campanha contra a III Bienal? O abandono do Vanderlei Pinho ou a derrubada da
mansão Wildberger?
O quadro hoje é particularmente desolador. O MAM vive um dramático declínio. Mais quatro
anos de desleixo e não passará de mera lembrança. O centro histórico voltando às
ruinas dos anos 80. O casamento do Escritório sem Referência com a elefantesca
Conder vive uma longa e inconsequente lua de mel esbanjando alegremente o
dinheiro do contribuinte em inúteis projetos.
Exacerbada visibilidade dos adolescentes do Neojiba, mas
engavetamento, anos seguidos, da Orquestra Sinfônica da Bahia. Pergunto: Chegando
à idade de 25 anos, entre os “4.600 beneficiados” (?) pelo projeto, nenhum
destes jovens estaria habilitado a integrar a OSBA?
Enquanto o governo de Pernambuco investe na indústria
cinematográfica R$20 milhões por ano - R$60 mi em três anos - nossa Secult deu
uns míseros R$14 mi no mesmo período, e nada em 2017. O resultado é que
Pernambuco tem uma pungência cultural que os baianos nem conseguem imaginar.
No cabide de empregos chamado DIMAS, nem há papel higiénico nos sanitários. O Jandaia desmorona, apesar das levianas promessas de Rui Costa. Quando chegarem as chuvas, rezemos para não haver tragédia.
No cabide de empregos chamado DIMAS, nem há papel higiénico nos sanitários. O Jandaia desmorona, apesar das levianas promessas de Rui Costa. Quando chegarem as chuvas, rezemos para não haver tragédia.
A cultura
tem um defeito genético. Incomoda os governantes porque não se contenta em
reproduzir modelos. Evolui, inova, critica, questiona. Nenhum regime
totalitário jamais apoiou a efervescência da dinâmica cultural. De Stalin a Pinochet, de Fidel Castro a
Kim-Jong-Un, Mussolini, Salazar, Mao-Tse-Tung ou Franco, nunca houve déspota
que incentivasse o pensamento e a criatividade artística.
Sofremos hoje o analfabetismo funcional de nossos
governantes. Já perguntei se alguém, alguma vez, nestes últimos vinte anos viu
o prefeito assistindo a um concerto, o governador entrando numa exposição de
arte, um vereador futucando livros de biblioteca, um deputado participando do
Panorama de Cinema. Ninguém me respondeu.
Quando considerados cargos de confiança, os edis colocam “gente
nossa”. De confiança, talvez. Incompetentes, com certeza. Vejam só o IPHAN! E
se, por acaso, a Secretaria Estadual de Cultura for ocupada por quem entende,
não se lhe dá as ferramentas para edificar nada senão tímidos eventos pontuais.
Por estas razões se escolhe uma Anitta como Mulher do Ano, em
vez de Nadia Ayad, engenheira negra que ganhou um concurso mundial pesquisando
sobre o carbono, Ah! Mas o Caetano não declarou que a cantora (?) é a mais bem-dotada?
Dimitri Ganzelevitch
para o jornal A Tarde
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