quarta-feira, 14 de março de 2018

ECOS DA FOLIA


A “traição” de Waly Salomão ou, viva
Menezes, o criador do Carnaval de Itapuã


Albenísio Fonseca 

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Gilberto Menezes de Almeida, 86 anos, homenageado na Lavagem de Itapuã, em 2014, é o criador do Carnaval do mais emblemático bairro de Salvador. Foi dele a iniciativa de promover a vinda do primeiro trio elétrico para agitar a folia, em 1961, quando ainda morava em São Cristóvão.
Além do trio, trouxe também um carro de apoio (“apinhado de gente”) e uma charrete com a Rainha e duas Princesas do Carnaval do bairro vizinho. Segundo nosso carnavalesco maior, “a chegada foi um sucesso e animou todos os foliões itapuãzeiros”. Três anos depois, ele se mudaria para o bairro do qual não mais se afastou.
Em 1970, percebendo que os dois únicos blocos existentes passavam rapidamente pelas ruas – “Os Sujos” (com fantasias de sacos de alinhagem) e o “Filhos de Itapuã” (com fantasias tipicamente carnavalescas) – decidiu instalar um palanque na porta de sua casa, na rua Olhos D’água, e oferecer troféus às duas agremiações que animavam os foliões do lugar. E assim o fez até que, em 1977, juntamente com outros moradores e os dirigentes dos dois blocos, criou o primeiro Carnaval oficial de Itapuã.
OS APOIOS
Para suas iniciativas, Menezes disse contar com apoios da Padaria Portugal e da Peixaria de João do Peixe que ofereciam, respectivamente, lanches e almoço para os músicos das bandas que tocavam no palco. Durante os dez anos seguintes ele promoveu o Carnaval em Itapuã, sem dispor de qualquer apoio do poder público. “Fazíamos circular livros de ouro e, assim, obtínhamos contribuições para a realização da festa”, conta. Em 1987, “a Prefeitura disponibilizou cerca de Cz$ 200 mil, mas as despesas superaram os 300 mil cruzados”.
Embora envolvesse um trabalho intenso, Menezes diz que “fazia tudo com prazer, por amor e em gratidão ao povo de Itapuã. Entre os blocos que trouxe para abrilhantar a folia, ele lembra do “Lá vem elas”, “Os Tupys”, da Liberdade, “Eu e Você”, de Lauro de Freitas, afora os novos blocos surgidos no bairro, como “Os Côroas”, “Peruca de boi”, “Os Ridículos” e “A Lazinha”, que abria o Carnaval no sábado.

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O que ele não sabia e tornou-se uma grande surpresa foi ver surgir à sua frente o bloco afro Malê Debalê, em 1980, com mais de mil integrantes. Menezes conta que foi “tomado por uma enorme alegria e cheguei a trocar troféus com Raimundo Bujão no palco que instalei na praça Dorival Caymmi”. O Malê, vale lembrar, após desfilar em Itapuã, invadiria o centro da cidade para tornar-se campeão do Carnaval naquele ano.
SETE ANOS DE LAVAGEM
A Lavagem de Itapuã também contou com a coordenação de Menezes por sete anos. Na época, recorda, “havia apresentações de até dez ternos de reis; show de calouros, no sábado e, no domingo, a procissão de Nossa Senhora da Conceição de Itapuã”.
Durante três anos ele decorou a procissão com temas alusivos à história do bairro, com representações de pescadores, vendedores de coco e até um quadro enorme com uma pintura do farol, instalado sobre uma carreta de bagagens do Aeroporto. Coube à Menezes, ainda, estimular o padre a realizar a primeira missa campal do lugar. “Cheguei a ser homenageado, então, pelo arcebispo primaz do Brasil, dom Avelar Brandão Vilela”, recorda emocionado.
 
A "TRAIÇÃO" 

Image may contain: 1 person, smiling, ocean, outdoor, water and nature Em 1988, contudo, Menezes foi surpreendido pelo então coordenador do Carnaval, Waly Salomão. Segundo o carnavalesco, “fui traído por Waly, a quem até homenageei com um jantar no Restaurante do Roni, no Abaeté. Ele conheceu os Livros de Ouro, forma de arrecadação de recursos que adotávamos para viabilizar o palco, as atrações e troféus e ele garantiu que ia oferecer uma dotação de recursos da Prefeitura para a promoção da festa".
   - Mas o que ele fez? Nomeou a atriz Gesse Gessy para organizar a folia no bairro, em abuso do poder de que dispunha, para me escantear, recorda. Desde então, Menezes não quis mais participar das festividades. Agora, todos hão de convir o quanto ele faz por merecer a justa homenagem que lhe foi prestada pelos organizadores do festejo no bairro, em 2014.

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