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Sob inoperância do Iphan, Centro Histórico de Salvador sofre descaracterizações
São incontáveis os puxadinhos, armengues, antenas infestando as fachadas coloniais e toda uma série de esculhambações
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Por James Martins no dia 31 de Outubro de 2019 ⋅ 10:50
O Centro Histórico de Salvador, tombado pela Unesco como Patrimônio da Humanidade desde 1985, volta e meia sofre adulterações e agressões de suas características fundamentais sem que o Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), órgão responsável por zelar e fiscalizar, tome as providências cabíveis.
Nem mesmo o neo-boom do Santo Antônio Além do Carmo, bairro estrela de novela global recente, foi capaz de comover a instituição no cumprimento do dever. É o que mostra a intervenção feita, há uma semana, na fachada do nº 64 da Rua Direita.
Nenhum alvará indica a autorização, mas o que era porta virou janela, janela virou porta, acrescentaram-se grades, e a já precária harmonia do conjunto se perdeu um pouco mais.
É o que atesta o arquiteto e professor da Ufba, Márcio Correia Campos. “Estando na Rua Direita, o sentido de conjunto é o que importa a ser preservado, ou seja, a continuidade das alturas de telhados das casas, o ritmo de janelas, as relações de tamanho entre os elementos de destaque e a arquitetura vulgar, etc”, diz.
E completa: “A questão é que o Santo Antônio está tão desfigurado que uma reforma destas pode parecer ‘não tão agressiva’, mas essencialmente é”.
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Mais um imóvel adulterado na Rua Direita de Santo Antônio (Fotos: Dimitri Ganzelevitch)
Márcio avalia ainda que a atuação do órgão é “pavorosa, conivente com a destruição do patrimônio". E diz: “O grande problema do Iphan é que não há regulamentação da proteção, detalhamento do que e como deve ser preservado. Então, com frequência, prevalecem as interpretações individuais dos funcionários".
Como exemplo, ele cita o avanço dos terraços no mesmo Santo Antônio: "Está ali para todo mundo ver, destrói-se a unidade entre arquitetura e paisagem, e não há uma atuação reconhecível de imposição de algum controle a estes acréscimos, não há ordenamento".
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Repare bem o lado superior esquedo atrás da Casa do Jorge Amado.
E por falar em padrão, Carlos Augusto, comerciante do Pelourinho, cita um exemplo irônico: “As placas do Ipac são irregulares, de metal. Antes de inaugurar a reforma, nos deram cursos mostrando o que podia e o que não podia, e propaganda só pode ser em madeira, mas o próprio Ipac descumpre”, afirma.
Aliás, o festival de pequenas infrações daria um catálogo: desde antenas enormes diante das fachadas tombadas até vegetação comprometendo o patrimônio e pichações.
Mas, vamos falar agora nos famigerados puxadinhos e chamar à conversa Dimitri Ganzelevitch, morador da região desde 1975.
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Antenas enormes agridem a paisagem, mas o Iphan não enxerga...
O marchand, que briga pela preservação do Centro Histórico desde muito antes do tombamento, agora une às queixas formais no Ministério Público, denúncias feitas em seu blog.
Ele diz: "Os puxadinhos são muitos. Tem inclusive um bem famoso, na Ladeira do Carmo, que já virou ponto de referência". E sobre a inoperância do Iphan, Dimitri aponta que o mesmo órgão que faz vistas grossas às violações, também cria dificuldades para coisas simples.
"Demoram até dois anos para conceder um simples alvará de reforma no interior da casa".
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Outro puxadinho bastante harmonioso com o patrimônio (Foto: Dimitri Ganzelevitch)
Voltando à casinha adulterada do interior da matéria, o Iphan respondeu que o proprietário do imóvel em questão apresentou um projeto de reforma, que foi aprovado. “No entanto, uma vistoria realizada no imóvel constatou diferenças entre a execução da obra e o projeto inicialmente aprovado, motivo pelo qual o proprietário será notificado”, disse.
Pelo retrospecto de tantas outras violações, exibidas aqui mesmo, provavelmente a notificação será o prêmio da impunidade. Assim sendo, cada vez mais o tombar ganha o sentido de derrubar.
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