domingo, 4 de dezembro de 2016

O TOMBAMENTO DO SULACAP

Imponência do Sulacap resiste ao tempo e a modernidade


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De suas sacadas, o olhar encontra o mar, a festa, a poesia. O azul da Baía de Todos os Santos mistura-se ao multicolorido Carnaval baiano na Avenida Sete de Setembro, na Praça do Povo, de Castro Alves. Lá, de frente para o poeta, está ele. Imponente. Na esquina de grandes momentos, encontros, o Edifício Sulacap escreve 64 anos de história entre as páginas da arquitetura modernista baiana.
O tempo passa, mas não ofusca o brilho do prédio referência no Centro da cidade, que agora é também patrimônio artístico e cultural. Tombamento sancionado, proteção à estrutura do prédio. Em sete andares, 121 salas e quatro lojas externas. No térreo, um jardim dá as boas-vindas, iluminado por raios solares que penetram a claraboia e marcam, ainda, as paredes da edificação.
Sobe. Pelas escadas que parecem dançar em movimento uniforme ou por elevador. Neste último, abrem-se a porta da cabine e o sorriso da ascensorista. Terceiro andar. Os corredores revelam, lentamente, endereços de empresas. Construído para funcionar como hotel, o Sulacap ganha identidade corporativa. Pelo 3º e demais andares circulam advogados, corretores, psicólogos, contadores. Conta o tempo, por lá, Bruno Nascimento, profissional da área contábil. “São 11 anos de trabalho neste prédio. Aqui é um local ideal para negócios”, define.
Muito além dos números, da varanda de sua sala, o contador acrescenta: “A correria não deixa que a gente aproveite todos os dias esse visual aqui. Mas, realmente, é um ponto da cidade que centraliza parte das belezas de Salvador. Quem mais curte é o cliente”. Nesse ambiente, bons negócios parecem não faltar. “Já chegamos a alugar a nossa sala para a produção da série ‘Ó Pai, ó’”, comemora.
De empresa a camarote. Antes mesmo que soem os primeiros acordes na Avenida, a empresa de Bruno transforma-se num observatório da folia de Momo. De outros carnavais, lembranças: “Quando o meu pai estava vivo, todos os anos a família se reunia aqui para o Carnaval. Há quatro anos, preferimos alugar o espaço para turistas. O expediente é suspenso, mas não contabilizamos prejuízos”. O contador celebra, mas garante que, em 2011, familiares vão fazer acompanhar os desfiles do alto das três varandas. “É um pedido da minha mãe”, atende.
É DIFÍCIL – Mas, nem tudo é festa para Bruno e outros proprietários de salas no Sulacap. Entre as dificuldades enfrentadas pelos condôminos, uma delas tem destaque na parede do elevador. No sobe e desce está a inadimplência. “A administração sofre. Nem todas as salas estão em funcionamento e, por isso, os proprietários delas se veem no direito de não pagar as taxas devidas”, enumera.
Segundo ele, há quem passe o ano inteiro com a sala fechada, sem efetuar pagamento. “A grande oportunidade é quando chega o Carnaval. Muitos quitam parte do débito e alugam as salas para a festa”, expõe.
Para Elisângela Firmo, integrante da comissão administrativa do prédio, a inadimplência é o “mal” do condomínio. “São muitas variações e enfrentamos muitas dificuldades com isso”. O aviso do elevador respalda a afirmação. “Impossibilita o pagamento de contas, tais como de energia elétrica”, diz o informe.
Ao lado de Elisângela, Maria José, também membro da comissão, garante que adota medidas para conter a inadimplência. “Fazemos cobrança de porta em porta. Em último caso, acionamos juridicamente”, detalha. No Sulacap, o aluguel custa, em média, R$ 400. Condomínio, R$90. Para adquirir um ponto no local, a partir de R$21,5 mil.
Na lista do contador Bruno, mais problemas. “Faltam vagas de estacionamento. O conceito do prédio atende a época em que foi construído. Com isso, temos esse impasse. Há ainda a questão dos elevadores que precisam de reparos. São antigos”, aponta. De acordo com Elisângela, a comissão reconhece a necessidade, mas as modificações têm um alto preço. “Nos orçamentos que realizamos, o custo é de, no mínimo, R$50 mil por equipamento. Infelizmente, não temos disponibilidade financeira para resolver”, lamenta.
TOMBAMENTO – As intenções quanto ao tombamento de algum patrimônio são as melhores. O Edifício Sulacap, tombado pelo Instituto do Patrimônio Artístico Cultural (Ipac), está inserido num conjunto de ações realizadas pelo poder público que tem o objetivo de preservar, por lei, bens culturais e seus valores, impedindo que venham a ser demolidos, modificados.
Contudo, para proprietários e membros da comissão administrativa, o tombamento, por si só, não resolve muito. “Teoricamente, deveria trazer inúmeras vantagens, mas não é o que acontece. Temos mais restrições que soluções”, desabafa Elisângela.
Mais contundente, Maria José sentencia: “Sou contra este tombamento. Não dão benefício algum. Olha lá o teto! Todo quebrado. Fizemos orçamento e a previsão mínima de gastos está em R$80 mil. Só eles (órgãos públicos) têm condições de fazer, mas até o momento não temos notícia nenhuma sobre obras de recuperação”. A Tribuna procurou o Ipac para obter  informações relacionadas ao tombamento do Sulacap, mas até o fechamento da edição, não houve representante do órgão que falasse sobre o assunto.
por Leo  Barsan


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