As relíquias que D. Pedro 2º encontrou no Egito e foram queimadas no incêndio do Museu Nacional
Laís ModelliDe São Paulo para a BBC News Brasil
"Às 7 ancoramos perto da margem esquerda e um pouco a montante de Manfalout (no Egito). Esteve admirável o crepúsculo com os seus matizes esverdeados e vermelho-claro."
A frase acima faz parte de um dos diários de viagem de D. Pedro 2º e se refere a uma expedição que o imperador brasileiro fez ao Egito na década de 1870. Explorador e interessado por culturas e línguas estrangeiras, D. Pedro 2º nutria grande curiosidade pelo Oriente Médio e, em especial, pelo Egito Antigo.
Apesar de ter visitado o país somente aos 45 anos, o interesse do imperador pela egiptologia começou na infância, quando entrou em contato com uma vasta coleção de antiguidades escavadas na necrópole Tebana, atual Luxor, no Templo de Karnak, comprado pelo pai, D. Pedro 1º, em 1826.
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"Foi através de um tal Nicolau Fiengo, mercenário italiano que passou pelo Brasil em 1826, trazendo esta mercadoria de Marselha, França", conta o escritor Roberto Khatlhab, autor do livro As Viagens de D. Pedro 2º: Oriente Médio e África do Norte, 1871 e 1876. "Na verdade, o destino final do tal Nicolau era Buenos Aires, mas, não conseguindo chegar à capital Argentina, voltou ao Brasil e, no Rio de Janeiro, colocou as relíquias à venda". D. Pedro 1º comprou todo o acervo e levou as peças para o Museu Real, criado pelo imperador em 1818.
"D. Pedro 2º era profundo conhecedor de história universal, tendo aprendido línguas como o árabe e o hebraico para poder ter acesso a documentos originais", conta a historiadora e professora da PUC do Rio Grande do Sul, Margaret Marchiori Bakos, lembrando que o fato de D. Pedro 2º ter ficado órfão muito cedo fez com que o imperador fosse educado e criado por tutores, de quem recebeu uma educação formal e culta. "A ideia era criar uma memória da monarquia brasileira sóbria, erudita, vinculada a cultura, ciência e educação."
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