sábado, 1 de dezembro de 2018

ONDE ESTÁ GEOVANE?

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Neste XIV Panorama de Cinema que está se firmando como um dos mais sérios acontecimentos da Sétima Arte no Brasil, assisti, e comigo mais umas 500 pessoas na mesma sessão, a um documentário que naquela noite não me permitiu dormir de consciência leve, mas que, estranhamente, não levou o prêmio Marielle Franco. “Sem descanso”, do francês radicado na Bahia desde 2005 Bernard Attal, trata do tema angustiante dos policiais que matam. Já sei: é de praxe afirmar que só se trata de parcela ínfima dos profissionais pagos pelos contribuintes para nos proteger. Mas como é ativa, esta parcela! Estatísticas da Anistia Internacional revelam que mais de 30 mil jovens são executados no Brasil pela polícia a cada ano. Na maioria, negros. Vivemos uma democracia onde ser negro é ser suspeito.

O Geovane podia não ser um anjo imaculado, mas quem, dentre os leitores, quando adolescente, trabalhado pela testosterona, nunca fez besteiras? O drama deste garoto foi ter cruzado com uma viatura da PM. Além de lhe roubar a moto, roubaram-lhe a vida. Preso, torturado, degolado vivo, queimado, esquartejado, teve a cabeça, os testículos e as mãos jogados no mato do parque de São Bartolomeu. Graças à câmera de uma casa vizinha da abordagem e ao GPS da viatura, as investigações chegaram a 11 agentes!
Destes 30 mil jovens assassinados pela polícia, quantos casos foram resolvidos, culpados punidos e expulsos da corporação?

A diferença, no caso do Geovane, foi a teimosia do pai, o Jurandhy. Desafiou o real perigo de ser ele também morto para não incomodar mais. Vendo a cidadela surda e cega do Poder se omitir, foi até o jornalista Bruno Wendel que não hesitou em mergulhar neste lamaçal.
Em 2015, a Rede Bahia informava: “Três policiais militares suspeitos (...) no desaparecimento de Geovane Mascarenhas de Santana, que foi encontrado morto em Salvador, chegaram a ser presos em de agosto de 2014, no Batalhão de Choque da PM, em Lauro de Freitas (...).
Os três PMs (...) cumpriram 60 dias de prisão provisória. O advogado dos policiais informou (...) que o delegado não requereu prisão preventiva. (...) são Cláudio Bonfim Borges, Jailson Gomes de Oliveira e Jesimiel da Silva Resende. Um deles é subtenente, com mais de 20 anos de atuação, e era comandante da guarnição. Os demais têm 11 e 14 anos de polícia. ”

Não sendo crítico de cinema, não falarei de direção, movimento de câmera ou montagem. O importante, neste caso, é o registro cinematográfico de uma sociedade covarde que escolhe virar a cara, mesmo sabendo perfeitamente que amanhã alguém de sua família pode ser a próxima vítima.
Onde estão hoje todos os PMs envolvidos? No bem-bom? 

Na penitenciária, com certeza não estão.



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