Órgãos de imprensa
de todo o mundo exigem de Israel a suspensão das restrições impostas à entrada
de jornalistas estrangeiros em Gaza
Por César Fraga / Publicado em 19 de julho de 2024
Foto: ANP/Divulgação
Em
carta aberta, mais de 60 veículos de imprensa internacional, incluindo
BBC, CNN, AFP e o NYTimes, exigem de Israel que “respeite os seus compromissos
com a liberdade de imprensa, proporcionando aos meios de comunicação social
acesso imediato e independente a Gaza“. A imprensa reivindica cobrir o
conflito, “o melhor possível, aliviando colegas jornalistas palestinos que
cobrem a guerra desde o início pagando caro com as suas vidas”. Não há veículos
brasileiros entre os signatários.
Os
veículos de comunicação exigem às autoridades israelenses suspender restrições
impostas à entrada de meios de comunicação estrangeiros em Gaza e conceder
acesso independente às organizações de imprensa internacionais que pretendam
visitar o território.
Em
nove meses de guerra, “os jornalistas internacionais ainda não têm acesso a
Gaza, com exceção de raras viagens sob escolta do exército israelense”,
denunciam o jornal Guardian e a CNN e a Associação CAPJPO – Europalestina,
entre outros.
Conforme
o Comitê para a Proteção dos Jornalistas, uma associação com sede em Nova York
que coordenou a elaboração do documento, mais de 100 jornalistas foram mortos
desde o início da guerra, tornando o conflito um dos mais mortais para a
categoria. Os que restam trabalham em condições de “extrema privação”.
No
início de 2024, mais de 30 meios de comunicação social internacionais tinham
apelado à proteção dos jornalistas palestinos que permanecem em Gaza.
O
que torna a situação mais dramática é que cada vez que um jornalista é morto em
Gaza, o mundo perde mais do que uma voz, mas um dos poucos testemunhos que
podem transmitir com credibilidade as realidades brutais da guerra, do cerco e
dos possíveis crimes de guerra que os civis de Gaza estão sofrendo.
A
ofensiva israelense em Gaza provocou uma catástrofe humanitária e causou até
agora 38.345 mortos, a maioria civis, segundo dados do Ministério da Saúde do
governo de Gaza, território palestino gerido pelo Hamas e sob bloqueio
israelense desde 2007.
Apesar
das restrições impostas à cobertura jornalística independente na zona de
conflito o embaixador palestino na ONU, Riyad Mansour, disse ao Conselho de
Segurança da ONU: “Gaza é o genocídio mais documentado da história”. Para ele,
a inação do mundo deixou os soldados da ocupação israelense encorajados e eles
estão filmando “seus próprios ataques no enclave, não deixando dúvidas de que
civis inocentes estão sendo alvos”, acrescentou na última quinta, 18.
O
conflito começou a partir de um ataque sem precedentes do Hamas em Israel, no
dia 7 de outubro de 2024, que provocou a morte de 1.195 pessoas, a maioria
civis, de acordo com contagem da AFP baseada em dados oficiais israelenses.
Em
novembro passado, em uma entrevista com a canal Al
Jazeera, um jornalista palestino arrancou seu equipamento de
proteção identificado como “imprensa” durante uma reportagem ao vivo, dizendo:
“não há proteção internacional alguma e nenhuma imunidade. Esses escudos e
capacetes não nos protegem. Eles são apenas slogans que usamos, e eles não
protegem nenhum jornalista. Aqui somos vítimas, perdendo vidas uma após a
outra. Estamos todos esperando nossa vez.”
Lula
condena ataques
O
presidente Lula nas redes sociais pontuou: “é estarrecedor que continuem
punindo coletivamente o povo palestino. Já são dezenas de milhares de mortos em
seguidos ataques desde o ano passado, muitos deles em zonas humanitárias
delimitadas que deveriam ser protegidas. Nós, líderes políticos do mundo
democrático, não podemos nos calar diante desse massacre interminável”.
OMS
e ONU se tornaram fontes de informação
No
último dia 13, a Organização Mundial da Saúde (OMS) noticiou que a
organização e seus parceiros estão ajudando a tratar feridos após ataques
aéreos realizados no último sábado pelas forças israelenses na área de Al
Mawasi, em Gaza. Os bombardeiros teriam deixado pelo menos 90 mortos e cerca de
300 feridos, de acordo com dados do Ministério da Saúde local.
O
secretário-geral da ONU, António Guterres, disse por meio de seu
porta-voz que estava “chocado e triste com a perda de vidas”. Autoridades
israelenses disseram que este foi um ataque de “precisão” que teve como
alvo o comandante militar do Hamas. O ataque ocorreu perto da cidade de Khan
Younis, em uma área designada pelos militares israelenses como uma zona segura
para civis.
Não há lugar seguro em Gaza
O
porta-voz da ONU, Stéphane Dujarric, disse que os relatórios indicavam que o
ataque atingiu uma área densamente povoada e tida como zona humanitária, que
abriga pessoas deslocadas. Em nota, ele adiciona que o chefe das Nações Unidas
condena o assassinato de civis, inclusive mulheres e crianças.
António
Guterres ainda enfatiza que deve haver um cessar-fogo humanitário imediato, com
todos os reféns libertados “imediata e incondicionalmente”.
Em
sua rede social, o chefe da OMS, Tedros Ghebreyesus, disse que 134 “pessoas
gravemente feridas” foram admitidas no Complexo Médico Nasser, nas proximidades,
“que está extremamente sobrecarregado pelo influxo”.
Vários hospitais estão tratando os feridos
Segundo
ele, funcionários da agência de saúde da ONU estão no hospital junto com duas
equipes médicas de emergência ajudando a tratar os feridos. A OMS enviou camas
dobráveis e macas para aumentar a capacidade do hospital. Além disso,
medicamentos pré-posicionados e suprimentos de trauma estão sendo utilizados.
Alguns
dos feridos também foram levados para um hospital de campanha administrado pelo
International Medical Corps em Deir Al Balah, onde foram fornecidos suprimentos
da OMS para atender às necessidades urgentes de cerca de 120 pessoas.
Outros
hospitais de campanha de ONGs também receberam pacientes que precisavam de
tratamento urgente.
A
oficial sênior de comunicações da agência de refugiados da ONU para refugiados
palestinos, Unrwa, Louise Wateridge, publicou um vídeo do hospital Al Nasser na
tarde de sábado, onde os trabalhadores estavam “limpando poças de sangue apenas
com água”. Ela descreveu crianças deitadas em colchões manchados de sangue
traumatizadas por terem perdido familiares. Algumas perderam membros e muitas
tiveram ferimentos graves.
Massacre sem sentido
A
especialista independente da ONU que monitora os direitos humanos nos
Territórios Palestinos Ocupados, Francesca Albanese, afirmou que está
“horrorizada” com as mortes e os ferimentos sofridos durante os ataques ao que
uma autoridade militar israelense disse ser um complexo operacional do Hamas,
em uma “área aberta”.
O
Hamas disse que era “falso” que Israel tivesse como alvo seus dois principais
comandantes militares. Sobre o ataque israelense que, segundo ela, foi “mais um
massacre sem sentido” de civis.
Em
sua rede social, a relatora especial afirmou que “a justificativa é sempre a
mesma: ‘alvejar militantes palestinos’.”
Autoridades
de defesa civil de Gaza também relataram que pelo menos 20 palestinos foram
mortos em um ataque israelense a um centro de oração dentro do campo de Shati
para os deslocados, a oeste da Cidade de Gaza, no sábado.
Leia a carta completa dos
veículos de imprensa:
Nós, abaixo assinados,
solicitamos que as autoridades israelenses acabem imediatamente com as
restrições à entrada da mídia estrangeira em Gaza e concedam acesso
independente às organizações de notícias internacionais que buscam acessar o
território.
Nove meses após o início da
guerra, repórteres internacionais ainda estão sendo impedidos de acessar Gaza,
exceto para viagens raras e escoltadas organizadas pelo exército israelense.
Essa proibição efetiva de reportagens estrangeiras colocou um fardo impossível
e irracional sobre repórteres locais para documentar uma guerra pela qual estão
passando. Mais de 100 jornalistas foram mortos desde o início da
guerra e aqueles que permaneceram estão trabalhando em condições de extrema
privação. O resultado é que as informações de Gaza estão se tornando cada
vez mais difíceis de obter e que as reportagens que chegam estão sujeitas
a repetidos questionamentos sobre sua veracidade.
Entendemos completamente os
riscos inerentes em reportar de zonas de guerra. Esses são riscos que muitas de
nossas organizações assumiram ao longo de décadas para investigar, documentar
desenvolvimentos conforme ocorrem e entender os impactos das guerras no mundo
todo.
Uma imprensa livre e independente
é a pedra angular da democracia. Pedimos que Israel cumpra seus compromissos
com a liberdade de imprensa, fornecendo à mídia estrangeira acesso imediato e
independente a Gaza, e que Israel cumpra suas obrigações internacionais de
proteger jornalistas como civis.
Veja a lista veículos e entidades
que subscrevem
1.
ABC News, Estados Unidos
2.
Agence France-Presse, França
3.
Alternative Press Syndicate, Líbano
4.
Repórteres Árabes para Jornalismo Investigativo
5.
Associação de Jornalistas Asiático-Americanos, Estados Unidos
6.
Associated Press, Estados Unidos
7.
Associação para Radiodifusão Internacional, Reino Unido
8.
Associação de Correspondentes de Imprensa Estrangeira, Estados
Unidos
9.
Jornalistas de Bangladesh na mídia internacional, Bangladesh
10.
BBC News, Reino Unido
11.
Bianet, Turquia
12.
Bloomberg News, Estados Unidos
13.
CBS News, Estados Unidos
14.
CNN Worldwide, Estados Unidos
15.
CONECTA
16.
Fórum de Mídia Comunitária Europa, Bélgica
17.
CTV News, Canadá
18.
Daily Maverick, África do Sul
19.
Daraj, Líbano
20.
Referendo de Denik, República Checa
21.
União Europeia de Radiodifusão, Suíça
22.
Federação Europeia de Jornalistas
23.
Financial Times, Reino Unido
24.
Histórias Proibidas, França
25.
fotosintesi.info, Itália
26.
Free Press Unlimited, Holanda
27.
Rede Global de Jornalismo Investigativo
28.
Global Reporting Centre, Canadá
29.
Associação Internacional de Mulheres na Rádio e na Televisão
30.
Centro Internacional para Jornalistas, Estados Unidos
31.
Fundo Internacional para a Mídia de Interesse Público
32.
Suporte de mídia internacional, Dinamarca
33.
Instituto Internacional de Segurança de Notícias, Reino Unido
34.
Fundação Internacional de Mídia Feminina, Estados Unidos
35.
ITN, Reino Unido
36.
Le Mauricien, Maurício
37.
McLatchy, Estados Unidos
38.
Centro de Desenvolvimento de Mídia, Tunísia
39.
Media Diversity Institute, Reino Unido
40.
Olho do Oriente Médio
41.
Associação Nacional de Jornalistas Hispânicos, Estados Unidos
42.
National Press Club, Estados Unidos
43.
Sindicato Nacional de Jornalistas das Filipinas, Filipinas
44.
NBC News, Estados Unidos
45.
Fundação Nieman para Jornalismo, Universidade de Harvard,
Estados Unidos
46.
NPR, Estados Unidos
47.
Projeto de Denúncia de Crime Organizado e Corrupção
48.
Premium Times, Nigéria
49.
Revista Prospect, Reino Unido
50.
Aliança de Mídia Pública
51.
Pulitzer Center on Crisis Reporting, Estados Unidos
52.
Rory Peck Trust, Reino Unido
53.
RTÉ Notícias e atualidades, Irlanda
54.
Rede de mídia rural, Paquistão
55.
Sky News, Reino Unido
56.
SMN24Media, Sri Lanka
57.
Associação de Mulheres da Mídia Somali, Somália
58.
Rádio Sveriges, Suécia
59.
Bureau of Investigative Journalism, Reino Unido
60.
Associação de Imprensa Estrangeira, Israel e os Territórios Palestinos
61.
The Guardian, Reino Unido
62.
The Irish Times, Irlanda
63.
The New York Times, Estados Unidos
64.
The Washington Post, Estados Unidos
65.
Twala, Argélia
66.
Vocento, Espanha
67.
Notícias VRT, Bélgica
68.
Wattan Media Network, Palestina
69.
Associação Mundial para a Comunicação Cristã
70.
Associação Mundial de Editores de Notícias (WAN-IFRA), Alemanha
71.
Yle News and Current Affairs, Finlândia
Com informações da Agência Lusa,
OMS, ONU e Agência Brasil.
À Gaza, en Cisjordanie et au Liban, Israël traque les journalistes
Intimidations,
arrestations arbitraires, torture et frappes délibérées sont les armes d’Israël
contre celles et ceux qui, sur place, sont déterminés à informer
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