Sociedade Brasileira de Autores Teatrais emite Carta Manifesto
Carta Manifesto da SBAT e
Seus Autores Contra o Uso Indevido de Obras Intelectuais por Plataformas de
Inteligências Artificiais
À
comunidade artística, às autoridades governamentais e à sociedade civil
A Sociedade Brasileira de Autores Teatrais (SBAT)
e seus associados vêm, por meio desta carta, manifestar profunda preocupação e
indignação com o uso crescente e indiscriminado de obras intelectuais por
grandes plataformas tecnológicas, as chamadas Big Techs, para o treinamento de
modelos de Inteligência Artificial (IA). Esta prática desrespeita os direitos
fundamentais de autores e demais criadores, afetando diretamente a integridade
de suas criações e a proteção legal de suas obras.
As
postagens de conteúdos originais dos autores nas redes sociais não podem e não
devem pressupor concessão automática ao uso e/ou aperfeiçoamento de
inteligências artificiais. Tendo em vista os termos de serviço apresentados por
diversas plataformas digitais, que obrigam os criadores a cederem seus direitos
autorais de forma automática ao utilizarem essas plataformas, a SBAT e seus
associados protestam veementemente contra essa prática. Manifestamos nossa
indignação diante desse abuso que impõe aos criadores a renúncia forçada de
seus direitos, desrespeitando sua autonomia sobre o uso e a gestão de suas
obras intelectuais.
O avanço
da inteligência artificial e das tecnologias de processamento de dados tem trazido
mudanças profundas no cenário artístico e cultural. No entanto, essas inovações
tecnológicas não podem servir de justificativa para o descaso com os direitos
de quem cria, inova e contribui para o patrimônio cultural e intelectual do
país. A utilização de obras protegidas por direitos autorais para alimentar
sistemas de IA, sem a devida autorização e remuneração dos titulares de
direitos, representa uma afronta à Lei
de Direitos Autorais brasileira (Lei nº 9.610/98), que
assegura o direito exclusivo dos autores e demais criadores de permitir ou não
o uso de suas criações, além de garantir o pagamento de retribuições justas
pelo uso dessas obras.
Nosso
direito à proteção intelectual é um direito fundamental, garantido pela
Constituição Federal, que reconhece o papel dos autores e demais criadores como
pilares do desenvolvimento cultural e científico. Quando plataformas de alcance
global utilizam, sem consentimento, textos teatrais, roteiros, diálogos,
personagens e outros elementos da obra dramática para treinar suas
inteligências artificiais, estamos diante de uma grave violação de direitos. A
Lei de Direitos Autorais, em seu artigo
68, é clara ao exigir autorização prévia para qualquer utilização pública das
obras, inclusive em plataformas digitais.
As Big
Techs, ao não respeitarem essa legislação, criam um ambiente de desvalorização
do trabalho criativo, enfraquecendo a posição dos autores e enfraquecendo o
próprio ecossistema cultural. Essas empresas, ao usarem criações artísticas
para alimentar suas tecnologias de IA, retiram dos autores e demais criadores a
possibilidade de participar das decisões sobre o uso de suas obras, além de
negar-lhes a justa remuneração pelo uso econômico dessas criações. Trata-se de
um novo capítulo de marginalização e precarização do trabalho artístico, agora
no ambiente digital.
A decisão
do Despacho Decisório
n° 33/2024/PR/ANPD, que impôs medida preventiva à Meta
Platforms (Facebook, Instagram e WhatsApp), INC sobre o uso de dados pessoais
para treinamento de IA, revela o risco de diversas violações à Lei de Direitos
Autorais brasileira. Entre elas, destacam-se a utilização de conteúdos
protegidos sem autorização prévia, a violação da independência de modalidades
de uso autorizadas, e a criação de obras derivadas sem consentimento dos
autores. Além de fragilizar os direitos garantidos aos titulares, essas
práticas podem incorrer em ilícitos civis e penais, conforme os artigos 102 e
104 da LDA. A SBAT, portanto, reforça a necessidade de revisão dessa decisão
para garantir a proteção dos direitos autorais frente ao avanço das tecnologias
de IA.
A SBAT,
enquanto entidade histórica na defesa dos direitos dos autores teatrais,
reforça a necessidade de um debate urgente sobre o impacto da inteligência
artificial nas artes e na propriedade intelectual. É fundamental que o Brasil,
por meio da Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD), Ministério da
Cultura e demais órgãos competentes, atue para garantir que a aplicação de
novas tecnologias não resulte em um desrespeito à legislação nacional e
internacional sobre direitos autorais.
Exigimos
que as plataformas digitais respeitem os direitos dos criadores e que se
estabeleçam mecanismos claros de autorização e remuneração para o uso de obras
intelectuais. A transparência e o consentimento dos titulares devem ser
centrais no desenvolvimento dessas tecnologias.
A cultura
e a arte não são meros insumos para o desenvolvimento de sistemas tecnológicos.
São expressões da identidade humana, fruto do trabalho, da paixão e do talento
de incontáveis autores que, ao longo da história, contribuíram para a formação
do patrimônio cultural da humanidade. Exigimos respeito à nossa contribuição e
à preservação de nossos direitos.
Assim,
conclamamos não apenas nossos autores e autoridades, mas também toda a
sociedade, a se unirem em defesa de uma cultura justa, que respeite a criação e
os direitos daqueles que dedicam suas vidas à produção de arte e conhecimento.
A proteção dos direitos autorais é um compromisso de todos nós, que valorizamos
a diversidade cultural e o desenvolvimento intelectual do país. Somente com o
apoio coletivo conseguiremos garantir que as vozes dos criadores não sejam
silenciadas ou exploradas injustamente pelas grandes corporações tecnológicas.
Sociedade
Brasileira de Autores Teatrais (SBAT)
Assinada pelos Autores
membros da SBAT
Sobre a
SBAT
A
Sociedade Brasileira de Autores Teatrais foi fundada a 27 de setembro de 1917,
no Rio de Janeiro (RJ), por um grupo de escritores e intelectuais liderados
pela maestrina Chiquinha Gonzaga. Entre seus associados estão milhares de
autores de teatro, além de tradutores, roteiristas de audiovisual, autores de
literatura em geral, encenadores, atores, cenógrafos, diretores musicais,
coreógrafos e outros criadores das artes cênicas e dramáticas de todo o país. A
SBAT possui atualmente 10.730 associados.
Stevan Lekitsch - Ass. de Imprensa (MTB 36.017/SP)
Assessor de Imprensa
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