O abandono da Ladeira do Carmo
A revista Muito publicou recentemente uma entrevista muito interessante
com a bem articulada arquiteta Carmita Baltar.
Se é verdade que muitos casarões do bairro de Santo Antônio
foram comprados por estrangeiros (nos anos 80-90) a preço de banana, é bom
lembrar que estes imóveis estavam à venda e nenhum soteropolitano os queria. O
casarão por mim comprado em 1985, antes do tombamento pela UNESCO, estivera vazio
por mais de dois anos. Diga-se também que, com frequência, as bananas se
transformavam em abacaxi, já que o custo do restauro podia ultrapassar o preço
de uma construção nova. Levaria quatro anos e a maior parte de meus ganhos
durante este prazo para reabilitar o casarão. Como justamente informa a
arquiteta, no caso de meu imóvel, as salas com vista para a baía eram de mero uso
doméstico, com janelas estreitas, sem o menor aproveitamento do belo e
permanente espetáculo. Quanto ao quintal, tratava-se de uma triste placa de
concreto sem qualquer planta.
Mas o sacrifício valeu a pena. Pronta, virou motivo de
atração para esta parte do centro histórico de Salvador. Quando a restauração
do Pelourinho foi inaugurada, em 1992, a revista Abril mandou uma equipe de
jornalistas da Casa Cláudia (O Roberto Civita era muito amigo do ACM). A
matéria falando de minha casa teve exatamente o mesmo número de páginas que o
artigo sobre o Pelourinho.
Depois dos estrangeiros, foi a vez dos paulistas, cariocas e mineiros.
Enfim, com o novo milênio, os baianos descobriram “meu” bairro. O perigo de
gueto de gringos desparecera. Hoje, fruto desta miscigenação urbana - artistas,
jornalistas, poetas, arquitetos e músicos - o Santo Antônio é uma festa
permanente e um dos bairros mais seguros da capital. Apesar da demora do IPHAN
em liberar os alvarás. Um ano é a média de espera, mesmo que seja para uma
modesta reforma do interior. Resultado: alguns moradores aproveitam os fins de
semana e feriados para construir até imóveis de quatro andares! Agora, imaginar
que a classe média algum dia virá morar por estas bandas é pura utopia. Seus
parâmetros são outros.
O centro histórico não é uma ilha. Nazaré, Saúde, Comércio,
Barbalho entrelaçam suas ruas, becos e praças à volta deste pedaço de história.
Infelizmente os órgãos ditos competentes pouco ou nada fazem, ou pior: isolam,
castram. Não existe estacionamento. O movimento dos ônibus baixou drástica e
dramaticamente na Barroquinha e na Praça da Sé, levando boa parte dos
comerciantes á falência.
Resta a esperança de que os longos armazéns do porto,
essenciais para a história da cidade, não sejam demolidos, mas adaptados para
usos comerciais e culturais, reabilitando finalmente o agonizante Comércio.
Dimitri Ganzelevitch
Jornal A Tarde
7/9/2019
Moro na Ladeira do Carmo e adoraria ver os três casarões,Que ficam próximos da igreja , recuperados e habitados,contribuindo com o cenário do Centro histórico.
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