Investigados na Lava-Jato ampliam espaço e ganham influência com Bolsonaro
Presidente entra na segunda metade do governo em aliança com o Centrão e ao lado de legião de aliados envolvidos em investigações
BRASÍLIA - Eleito com um discurso de combate à corrupção e tendo o ex-juiz da Lava-Jato Sergio Moro ao seu lado, o presidente Jair Bolsonaro, que entra na segunda metade do governo, selou uma aliança com o Centrão e tem agora ao seu redor uma legião de aliados investigados naquela operação ou denunciados nos últimos escândalos de corrupção que estouraram no país.
Em troca do apoio político para garantir sustentação ao governo, os neoaliados trazem o custo de pôr em contradição o discurso do presidente desde a eleição, além de cobrar cargos públicos e verbas para emendas.
No mais recente movimento, o senador e ex-presidente da República Fernando Collor (PROS-AL) esteve no Planalto para uma reunião a sós com Bolsonaro. Acabou convidado a dar sugestões sobre o preço de combustíveis num encontro com a equipe do ministro da Economia, Paulo Guedes.
Collor foi acusado de receber propina numa apuração da Lava-Jato justamente sobre a área de combustíveis. Também aliado de Bolsonaro, Collor é réu em uma ação no Supremo Tribunal Federal (STF) sob acusação de receber mais de R$ 30 milhões de vantagens indevidas por negócios da BR Distribuidora, subsidiária da Petrobras na qual ele tinha influência política. O caso já está pronto para ser julgado pelo Supremo. Nas alegações finais, a PGR pediu a condenação do senador a uma pena de 22 anos de prisão.
Arthur Lira (PP-AL) - O novo presidente da Câmara dos deputados, eleito com apoio do Planalto, é réu no STF em duas ações: o quadrilhão do PP e uma acusação de recebimento de propina da CBTU. Em sua função à frente da Câmara define o que vai a voto no Congresso e articula nomeações no governo Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo
— Hoje, estávamos reunidos com a equipe econômica do Paulo Guedes, vendo a questão do impacto desse novo reajuste do combustível, que não podemos interferir e não pensamos em interferir (na Petrobras), e apareceu o senhor Fernando Collor e o convidamos para a reunião. Ele (...) deu sugestões bem-vindas e acolhidas por nós. Dessa forma, vamos governando — disse Bolsonaro, em cerimônia da Secretaria de Governo, que também teve a presença de Collor.
Alvo de impeachment em 1992, Collor evita comentar a aproximação com o atual presidente. Interlocutores de ambos dizem que o ex-presidente tem elogiado a nova relação de Bolsonaro com políticos do Congresso. Recentemente, os dois estiveram justos em inauguração de obras em Alagoas, estado de Collor. Nas duas vezes, Bolsonaro não poupou elogios ao ex-presidente.
Ciro Nogueira (PP-PI) - O senador, que teve voz na escolha do primeiro ministro do STF indicado por Bolsonaro, Kassio Nunes Marques, é réu no Supremo em ação do quadrilhão do PP e foi alvo de denúncia (ainda não recebida pela Justiça) de corrupção passiva e lavagem de dinheiro Foto: Agência SenadoO senador Fernando Collor de Mello (PROS-AL), que tem acompanhado Bolsonaro em eventos e viagens, é reú na Lava-Jato sob acusação de receber propina desviada da BR Distribuidora, subsidiária da Petrobras. Caso está pronto para ser julgado. PGR pediu condenação do senador a 22 anos de prisão Foto: Jorge William / Agência O GloboLíder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE) foi alvo da PF em 2019 sob suspeita de recebimento de propina quando era ministro de Dilma — caso está sob investigação. Também foi acusado de receber propina desviada de obras da Petrobras, mas denúncia foi rejeitada pelo STF Foto: Marcelo Camargo / Agência BrasilLíder do governo na Câmara, o deputado Ricardo Barros (PP-PR) foi alvo de operação do Gaeco do Paraná sob suspeita de ter recebido propina da Galvão Engenharia, que fechou acordo de delação premiada na Lava-Jato. Foi cotado para Ministro da Saúde Foto: Jorge William / Agência O Globo
Valdemar Costa Neto (PL-DF) - Maior cacique do PL e quem convidou Bolsonaro para se filiar à legenda, foi condenado pelo STF a sete anos de prisão no mensalão. Também foi alvo de investigação sobre propina na Ferrovia Norte-Sul Foto: Ailton de Freitas / Agência O Globo
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