Bem.... Estou apenas exagerando, pois além da Rua Direita de Santo Antônio, também tem a Ladeira do Boqueirão. Aos olhos do IPHAN, do IPAC e da CONDER, o resto não conta. As ruas dos Ossos, dos Carvões, dos Perdões, dos Marchantes ostentam nomenclaturas poéticas, mas são ignoradas até pela Embasa que levou nove meses para fechar um esgoto estourado na esquina de duas destas vias. Nove meses!
E a Coelba? Um belo dia de fevereiro chega meia dúzia de
operários na Cruz do Pascoal e trocam as lâmpadas dos postes por LED. Sendo que
até o Largo de Santo Antônio são 23 postes e que é preciso no mínimo 15 minutos
por cada troca, pela lógica ficaram na rua durante umas 6 horas. E durante
estas 6 horas não teve um só fiscal da Conder para perguntar o porquê desta
troca se os postes iam ser retirados em breve (sic)? A Conder faz uma obra
deste porte, por mais de um ano e não informa as estatais e a prefeitura?
Quanto trabalho inútil e gasto mais inútil ainda! Tudo pago por nós, os
habituais contribuintes otários.
O fato de um grupúsculo de colunáveis ter comprado casas na
área despertou o zelo desafinado das estatais sob a fiscalização entediada e
aleatória do IPHAN. Uma nova abordagem desta parte do centro histórico da
primeira capital do Brasil merecia amplo e irrestrito debate tanto da
comunidade do bairro como das instituições acadêmicas. Infelizmente a
indiferença geral demostra a pouca importância que a cultura e a memória têm na
nossa sociedade.
O bairro de Santo Antônio precisa mais que um passeio novo e
iluminação a maneira de Ouro Preto. Como não temos agência bancária, somos
obrigados a ir até o Pelourinho, o Comércio ou o Campo da Pólvora. Agência de
correios? Só na Calçada ou no Corredor da Vitória. Nem farmácia temos. Imaginar
um posto policial é louco delírio. Quanto ao problema do estacionamento, as
ditas estatais bem que poderiam ter elaborado alguma solução já que é proibido
abrir garagem nas fachadas. Por enquanto quem tem carro fica a mercês da boa
vontade do larápio.
O IPHAN que não autoriza placas de energia solar nos telhados “porque podem ser vistas do avião” – tente não dar risada - o que não deixa de ser altamente irônico numa cidade com tantas favelas, se mostra totalmente omisso frente a geração espontânea de puxadinhos, antenas parabólicas e caixas d´água. E nem vamos falar de esquadrilhas de alumínio e alterações agressivas de fachadas.
A cereja do bolo – o leitor já está convidado a festa de
aniversário – é a famigerada obra da Conder/Pejota que inferniza o bairro desde
antes do carnaval do ano passado sem data para terminar. É um flagrante diário
de incompetência, falta de programação e amadorismo. Que me perdoa o arquiteto
da Conder que respondeu a minhas perguntas com uma arrogância juvenil: “a despeito das reiteradas tentativas de
desmerecer o trabalho em execução sem respaldo técnico”. Talvez eu não
domine o arquitetoguês, mas de centro histórico entendo com certeza tanto
quanto ele. De Alepo a Provins e Salzburgo, de Puebla a Ayacucho e Potosi, e de
Marrakesh a Palermo e Granada, passei setenta anos de minha vida visitando demoradamente
centros históricos. Sem falar de sítios também tombados pela Unesco.
Mais uma vez, reitero a pergunta: O que a Conder, sem o
mínimo conhecimento da problemática de restauração e preservação, continua
fazendo - e isso desde 1991! - no centro histórico de Salvador?