O Oriente Médio pelo ilustrador belga
Luc Descheemaeker
MARIA d’APPARECIDA GANHA PLACA NO PRÉDIO EM QUE MOROU EM PARIS
Emocionante homenagem à cantora lírica afrobrasileira
Por
Paulo Martins
UMA NEGROLUMINOSA VOZ
Quem, das novas gerações, conhece a cantora lírica brasileira Maria
d’Apparecida (1926-2017), que brilhou nos palcos líricos da Europa durante
décadas do século passado? Se você não conhece, vamos primeiramente despertar
sua memória com a transcrição integral do poema A Voz, que Carlos
Drummond de Andrade escreveu em sua homenagem:
O Brasil
tem muitas Aparecidas.
Tem Aparecida de Goiânia e de Goiás.
Tem Aparecida de Minas e do Oeste, no Paraná.
Tem Aparecida do Tabuado, em Mato Grosso,
e tantas outras, onde quer que a fé provoque aparições.
Tem sobretudo Aparecida de São Paulo,
onde uma santa apareceu nas águas do rio
e era uma santa negra do barro e do limo das profundezas do rio.
Pescadores a trouxeram, um altar a recolheu.
E há mais de dois séculos Nossa Senhora da Conceição
distribui milagres entre os humildes e os poderosos,
igualmente necessitados de milagre.
Maria d’Aparecida, não vieste das águas do rio.
Vieste de mais longe,
de um mais profundo abismo de raça e de sonho.
Tua voz caminheira
nos conta do que paira além da ciência dos Conservatórios
e do tratamento operístico da vida.
É uma voz que vem das entranhas do vento e dos coqueirais,
do sigilo dos minérios e das formações vulcânicas do amor.
Terrestre. Telúrica. Mulher.
Tua voz, d’Aparecida, é aparição
fulgurante, sensitiva, dramática
e vem do fundo negroluminoso de nossos corações
e vai, e volta, e vai.
Maria d’Aparecida do Brasil,
aparecedoramente cantaril.
Este poema de Drummond (que por si mesmo mereceria um estudo à parte,
pelo uso da metalinguagem como meio de traduzir uma das mais lindas vozes que
já se conheceu) foi o começo do resgate da memória da cantora lírica e popular
Maria d’Apparecida Marques, a primeira intérprete afrobrasileira a brilhar nos
palcos parisienses e europeus. Segundo Drummond, não se tratava de uma voz
qualquer, como tantas que o Brasil produziu, mas de uma voz que “emergiu das
entranhas do vento e dos coqueirais, do sigilo dos minérios e das formações
vulcânicas do amor”. Enfim, era uma voz “terrestre” e “telúrica” de uma mulher
especial:
Tua voz,
d’Apparecida, é aparição
Fulgurante,
sensitiva, dramática
E vem do
fundo negroluminoso de nossos corações.
Como se pode ver, Drummond precisou construir três belíssimos
neologismos para traduzir a sonoridade da voz de Maria d’Apparecida:
“negroluminoso, aparecedoramente e cantoril”.
Não foi por outra razão que a escritora brasileira residente em Paris,
Mazé Torquato Chotil, ao dar continuidade a este resgate histórico iniciado por
Drummond, usou um de seus neologismos para intitular seu importante livro que
esboça a vida da famosa mezzo soprano brasileira: MARIA d’APPARECIDA,
NEGROLUMINOSA VOZ.
E Mazé não se limitou a escrever a biografia de Maria d’Apparecida, mas
se empenhou durante anos em divulgar a sua obra. Residente em Paris desde 1985,
teve oportunidade de conhecer a cantora e acompanhou a sua carreira com
inusitado interesse, elegendo-a como ídolo, tal era sua admiração pela cantora.
Tornaram-se amigas e alguns anos antes de Maria
falecer, em julho de 2017, chegaram a fazer um acordo pelo qual Mazé
ficaria responsável por escrever a sua biografia, pelo que Apparecida começou a
lhe passar documentos diversos sobre a sua vida. Tempos mais tarde a cantora se
desiludiu, achando que não valia a pena e desistiu da ideia. Mazé, após a morte
da cantora, levou a tarefa até o fim.
Desde então, Mazé não tem medido esforços para eternizar a memória desta
negra de voz incomparável, que encantou os parisienses e o mundo ao interpretar
Carmem, de Bizet, em 1965, substituindo Maria Callas, que não pôde se
apresentar na Ópera de Paris. E agora pode colher os frutos deste trabalho, ao
ver se tornar realidade a inauguração da placa histórica comemorativa da
memória da lendária cantora negra, na casa onde Maria d’Apparecida residiu por
40 anos, no 16eme arrondissement de Paris.
O evento se torna ainda mais importante pelo fato de Maria d’Apparecida
ser negra e ter vivido numa época em que o racismo grassava no Brasil e na
Europa. “Filha de uma empregada doméstica engravidada
pelo patrão, Maria d’Apparecida nos faz lembrar das crueldades de classe e de
raça sobre as quais se assenta a sociedade brasileira. Suas conquistas se deram
superando essa injustiça estrutural e lembrá-las é uma forma ao mesmo tempo de
reconhecer seu talento gigantesco e de denunciar nossas raízes mais venenosas”,
diz Mazé em sua obra biográfica. Lembremos, também, que Maria d’Apparecida
jamais conheceu seu pai.
O fato é
que Maria d’Apparecida enfrentou
todos os desafios e se tornou vitoriosa, impondo o seu talento diante dos
entraves de uma perversa realidade social. Com o recrudescimento do racismo nos
tempos atuais, o exemplo da Maria d’Apparecida precisa ser lembrado e
ressaltado, para que a chaga do racismo não triunfe diante das novas gerações.
Para se ter uma ideia do prestígio da cantora, é preciso lembrar ainda
de dois fatos relacionados à sua vida. O primeiro foi sua prolongada relação
amorosa com o famoso pintor surrealista Félix Labisse, de quem se tornara a
grande musa. Mas Labisse era casado e d’Apparecida muito amiga de sua esposa,
que até lhe contemplou no seu testamento. No curso desse relacionamento, não
foi Labisse quem se destacou nos píncaros da glória, mas Maria d’Apparecida.
Ganhou todos os prêmios musicais e honoríficos importantes, não só do Brasil
como da França e outros países: Ordem do Rio Branco, do governo brasileiro;
Légion d’Honneur – Chevalier Officier des Arts et des Lettres, recebido das
mãos do presidente François Mitterrrand; Medalha da Cidade de Paris, recebida
das mãos de Jacques Chirac; Diploma de Honra e Medalha de Prata no concurso
internacional de Música G.B. Viotti, Vercelli, Itália; diploma de Honra ao
Mérito Carlos Gomes, do Brasil; Medalha Sílvio Romero; medalha de ouro do
mérito artístico do Rio de Janeiro, Brasil; cidadã de honra do Rio de Janeiro;
medalha de ouro da Société d’Encouragement au Progrès (França); medalha Fefieg
– Federação das Escolas Federais isoladas do Estado da Guanabara; e medalha da
ABI – Associação Brasileira de Imprensa.
Teve ainda quatro de seus discos premiados: Chants Brésiliens,
com o violonista Turíbio Santos, Grand Prix de L’Acazdémie Lyrique Orphée d’Or
(1966); The Wonderful Latin American Sound of Brazil (nº 2), com o
harpista da Ópera de Paris Bernad Galais, recebendo o Prêmio Printemps de Suède
(1971); Maria d’Apparecida canta o Brasil, com o pianista Wilfredo
Voguet levou o Grand Prix de l’Académie du Disque Français, categoria Música
Folclórica (1972); e, por último, Brasileiríssimo, levou o Grand Prix
International Académie Charles Cros (1988), prêmio que só grandes
compositores/cantores como Jacques Brel haviam
tido a honra de receber.
Vale salientar que, impedida de continuar sua carreira como cantora
lírica por causa de um acidente, d’Apparecida não arriou a bandeira de luta e
passou a se dedicar à MPB. Já tinha se destacado anteriormente, no Brasil, nos
primórdios de sua carreira, como grande divulgadora do folclore popular
nacional, e agora voltava ao popular, se destacando como cantora de MPB, tendo
gravado um disco com Baden Powell em 1977, o mais vendido de sua carreira.
Ficou conhecida como cantora dos três estilos: lírico, MPB e folclore popular.
Deixou numerosos álbuns gravados. Seu repertório inclui composições de Villas
Lobos, Heckel Tavares, Jaime Ovale, Turíbio dos Santos, Chico Buarque, Vinicius
de Morais, Gil, Tom Jobim e Baden Powell. Brilhou com suas apresentações em Porgy
and Bess, West Side Story e La Voix Humaine e outras
obras capitais da música universal.
Mazé
Torquato Chotil é jornalista, pesquisadora e doutora em
ciência da informação e da comunicação pela Universidade de Paris VIII. Nasceu
em Glória de Dourados (MS),e mudou-se para Paris em 1985. Além de sua obra
sobre Maria d’Apparecida, é também autora de José Ibrahim: o líder da primeira
grande greve que afrontou a ditadura, Trabalhadores exilados: a saga de
brasileiros forçados a partir (1964-1985), Lembranças do sitio, Lembranças da
Vila, Minha aventura na colonização do Oeste e Minha Paris brasileira. Em língua francesa é autora de L’Exil ouvrier e
Ouvrières chez Bidermann: une histoire des vies. Em
2022 foi organizadora e fundadora da UEELP (Union Européenne des Écrivains de
Langue Porguaise),com sede em Paris, tornando-se seu primeiro presidente.
O livro
MARIA d’APPARECIDA, NEGROLUMINOSA VOZ, pode ser adquirido na Amazon,
principais livrarias do Brasil ou na Editora Alameda: https://www.alamedaeditorial.com.br/
Paulo
Martins, escritor.
20
de setembro de 2024
ATENÇÃO!
UMA VEZ NÃO É COSTUME.
Aconteceu neste último mês de julho,
em Salvador. Tinha marcado consulta para as 8:20 com um médico anestesista.
Enão é que fui recebido pelo médico em sua sala às 8:20, “hora de relógio”?!
Não me controlei. Comovido, agradeci, confessando que era a primeira vez, em 49
anos, em Salvador, que um médico não me deixava esperar entre meia hora e hora
e meia.Sorriu, revelando a informação de uma paciente: no Canadá também o
horário agendado é escrupulosamente respeitado. Em Portugal, na França,
Inglaterra, Alemanha, Bélgica etc., raramente um paciente espera mais de cinco
minutos. Em contrapartida, quem chegou atrasado terá que remarcar a consulta.
Em meio século perdi semanas de minha
vida nas salas de espera de hospitais hostis e clínicas cínicas. Esperando a
cardiologista, li Autoimperialismode Benjamin Moser por inteiro (125 páginas).
Me atendeu com o celular colado ao ouvido. Na segunda consulta, consegui ler 48
páginas de The Orientalist de Tom Reiss: ela chegou atrasada 40 minutos... e
com o celular grudado no cabelo.
Em 2013, o negócio sendo mais
complicado, dois urologistas me permitiram ler os dois livros de Juan
RulfoeEstas estórias de Guimarães Rosa (231 difíceis páginas). Urologista nunca
diz bom dia e só olha seu lado coroa. O lado cara, sua cara, nunca. Durante as
longas esperas de radioterapia, mergulhei na Comédie Humaine de Honoré de
Balzac. Li de cabo a rabo. Ultimamente, embarcando em novas torturantes
esperas, TV sempre ligada nos programas mais cretinos do hemisfério sul, tentei
navegar através das 1358 tediosas páginas de 2666 do chileno Roberto Bolaño.
Mas, depois da página 605–sem ilustrações–cheguei à conclusão de quea ficção
raramente me empolga. Prefiro história e biografias. Ilustrações sempre
bem-vindas. Outra conclusão: a dos professores, hoje com aura em declínio
devido à sensação de conhecimento escrevendo palavras-chave nos buscadores
de“sites”, bloqueando-sede modo automático o saber dos mestres. Mentiras
repetidas formando crenças; desprezo por valores morais ; distúrbios de
comportamento e dores psíquicas; idolatria das massas por “influencers” de
caráter torpe; adesão a ideologias totalitárias e preconceitos rançosos de
etnia, classe social, gênero e orientação sexual: são muitos os males aescapar
ao abrir o jarro a curiosa Pandora contemporânea, em movimento online para
offline de alta periculosidade. A proposta em gestação, pelo governo federal,
une as redes pública e particular, recuperando-se não apenas o poder da caneta,
do papel, da borracha e do livro impresso, mas principalmente a batuta relação
médico/paciente é uma relação de força, de carcereiro a encarcerado. O doutor,
poderoso, atendendo com folga do atraso, se coloca declaradamente acima do
inferiorizado doente. Fiel retrato de nossa sociedade herdeira da casa grande e
senzala.
Acabo de ler, na página A5 de meu
jornal preferido, uma animadora notícia: “Médico terá que declarar elo com
empresas”. Será que deixarei de assistir, impotente mas inconformado, ao
desfile rotineiro de representantes de produtos farmacêuticos entrando no
consultório, sem mesmo bater à porta, no exato momento em que este seu
escrevinhador ia ser finalmente chamado para sentar frente à frente e confessar
um interminável rosário de dores, mal-estares e incômodos em várias partes do
corpo? Serei a cobaia dos remédios apresentados minutos antes ao preço de uma
lata de caviar iraniano Beluga.
Ah! Quanta saudade de meu
anestesista! Vou ter que inventar outra doença.
Dimitri Ganzelevitch
A Tarde / 28/09/2024
Aninha Franco critica Igreja Católica: "Está prejudicando o Centro
Histórico"
Para Aninha Franco, casarões no Pelourinho estão sem a qualificação necessária por conta da falta de gestão da Igreja Católica
Atriz, escritora e dramaturga, Aninha Franco fez duras críticas à Igreja
Católica por conta da administração de casarões que seriam de gestão dela e
estão localizados no Pelourinho, Centro
Histórico da capital baiana. Em entrevista à Rádio Metrópole nesta quinta-feira
(19), durante o Jornal da Bahia no Ar com José Eduardo, ela comentou que as
edificações precisam de uma destinação específica e que o descaso acaba
atrasando o desenvolvimento da capital baiana.
"Falta vida. Uma parte enorme do Pelourinho, que pertence à Igreja, ou
está mal administrada ou não existe ou está caída. Tem uma casa que incendiou e
continua lá queimada. A Igreja botou tijolo para não invadirem e ela está lá
fechada desde o dia do incêndio. Por que é que a Igreja quer essas casas? A
Igreja reformou com dinheiro nosso o cinema Excelsior e nunca abriu. Essas
casas têm que ser vendidas, eu vou conversar com o Papa Francisco!",
ironizou.
Comerciante do Pelourinho, Daniel Lira é proprietário do Espaço Conceito Preto
Fala de Amor, que funciona no Cetro Histórico. Ele foi entrevistado no programa
e comentou a necessidade de pensar o local como um todo. "O Pelourinho não
é um lugar só para turistas. Se a gente vai pensar no Pelourinho dos anos 2000
para trás, era um lugar de vida para o soteropolitano e o baiano, de modo
geral. Quem chegava a Salvador e não queria ir ao Pelourinho?", questionou
o empresário.
Ainda de acordo com o comerciante, hoje o Pelourinho está "parado"
culturalmente. "A programação que se leva ao Pelourinho não atrai. Se a
gente parar para pensar que, há dez anos atrás, em setembro a gente já tinha os
ensaios de verão, hoje qual músico quer seu ensaio no Pelourinho? A quem
interessa esse Pelourinho parado?", afirmou.
Na avaliação de Aninha Franco, é necessário se repensar a gestão e novas formas
de gerir os casarões. Para a dramaturga, a Igreja Católica é um retrocesso
quando se pensa em desenvolver a região. "A Igreja não paga nem IPTU, não
esqueça disso. Isso prejudica profundamente o Pelourinho. A Igreja Católica
está prejudicando profundamente o Centro Histórico. Metade do Pelourinho é dela
e ela mantém isso de uma maneira absolutamente irresponsável. A outra parte são
casas do Estado que estão mais ou menos na mesma situação. O IPAC é uma
brincadeira. Troca de presidente todo dia. Tem um último aí que eu nem sei o
nome, mas não importa. Eles não fazem absolutamente nada pelo Centro Histórico",
disse Aninha.
Aninha Franco critica escolha por Margareth Menezes no Ministério da Cultura: "Não tem a menor condição"; secretário rebate
Para Aninha Franco, não há ações suficientes que classifiquem a atual ministra como uma gestora capacitada para gerir o ministério.
Diretora teatral, atriz e escritora, Aninha Franco comentou
as recentes iniciativas do setor cultural do país e fez duras críticas à gestão
do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em
entrevista à Rádio Metrópole nesta quinta-feira (12), durante o Jornal da Bahia
no Ar com José Eduardo, ela disse não saber o motivo da escolha por Margareth
Menezes para chefiar o ministério.
"Eu não sei como Margareth foi escolhida da ministra da Cultura. Eu realmente não sei", disse Aninha.
"Margareth é
uma intérprete poderosa e coisa e tal. Mas ela não tem a menor condição de
comandar um Ministério da Cultura porque ela não foi preparada para isso. É
básico, é simples. Assim como Silvio não podia estar no ministério que esteve.
É simples e básico. Sem entender isso, o Brasil está cada dia pior",
declarou a diretora.
Segundo a ativista
cultural, a ministra não reúne condições de gerir a pasta, mesmo com relevantes
serviços prestados à música brasileira. "Ela não poderia dar, ela não foi
preparada para isso. O Ministério da Cultura precisa de um pensamento como um
todo. Ela não tem isso. É básico, é simples. Ela é uma intérprete maravilhosa.
Eu não posso proteger o Ministério da Cultura de Margareth porque ela é baiana.
Não posso fazer isso com a Bahia. Eu amo a Bahia e amo o Brasil. E amar
significa ser racional", afirmou.
Questionada sobre
qual seria o melhor nome para assumir o Ministério da Cultura, Aninha Franco se
esquivou e comentou os rumos do setor no país. "Tem dezenas de pessoas,
não vou enumerar. Tem que ser um técnico em cultura que entenda de todas as áreas,
que se envolva com todas as áreas. Vou te dar um exemplo de como as coisas da
Cultura estão. Está acontecendo uma Bienal do Livro em São Paulo. O presidente
da República, Lula, foi à Bienal e discursou. E o que ele disse? 'Eu não gosto
de ler'. Entendeu?", ironizou.
Secretário rebate e
Aninha comenta
Durante o programa,
o secretário estadual de Comunicação, André Curvello, se manifestou e saiu em
defesa da escolha por Margareth Menezes. De acordo com o chefe da pasta, a
ministra tem apoio do governo federal e diálogo firmado com as áreas sociais.
"Margareth é um grande nome da música e da cultura baiana. É uma mulher
negra e que tem sim suas prerrogativas. O ministério da Cultura não pode servir
apenas às elites", iniciou o secretário.
"Não é pelo
fato dela ser uma mulher, uma negra e da Bahia que ela não reúna as condições
de ser uma ministra da Cultura. Ela tem dialogado com os mais diversos
segmentos, tem feitos excelentes trabalhos sob a liderança do presidente Lula e
todo o apoio do ministro do Rui Costa e do governador Jerônimo Rodrigues. Eu
tenho certeza de que ela está iniciando um verdadeiro processo de revolução da
cultura, em prol da cultura popular, brasileira e dos jovens. Muita coisa
precisa ser feita ainda, não é o melhor dos mundos. Mas tem sido feito um
trabalho espetacular de inclusão", acrescentou Curvello.
Aninha então
respondeu o secretário e citou o Teatro XVIII, antigo espaço localizado no
Centro Histórico de Salvador. O local, que funcionava no Quarteirão Cultural do
Pelourinho, abrigou saraus, palestras e aulas. Se dirigindo a Curvello, Aninha
comentou que a unidade era uma das mais importantes da Bahia para fomentar a
cultura.
"É o seu
trabalho. Agora, se a gente for falar realmente de democratização, eu vou te
lembrar da existência do Teatro XVIII. Entre 1997 e 2007, vou além. Vou lembrar
que a madrinha do Teatro XVIII era Maria Bethânia. Antes de cada espetáculo,
ela tinha gravado o seguinte poeminha: 'Eu conheço um lugar onde pretos e
brancos, ricos e pobres, eruditos e populares dividem o mesmo espaço. Todos
porque podem e todos porque desejam'. Se você quiser discutir comigo sobre
elitização de cultura, você tem que lembrar do Teatro XVIII", finalizou.
Questionada por José Eduardo sobre o atual panorama da Bahia e de Salvador,
Aninha disse que não teve contato com os atuais gestores das secretarias, Bruno
Monteiro (Secretaria de Cultura da Bahia) e Pedro Tourinho (Secretaria de
Cultura e Turismo de Salvador). No entanto, ela comentou uma fala do gestor
municipal e a ausência de ações na capital baiana.
"Não conheço
nenhum dos dois. Fui a um evento da prefeitura, 'pensar a cidade'. O secretário
municipal fez um discurso interessante. Mas eu ainda não percebi a conexão
entre a ação e o discurso", pontuou.
Cientistas encontraram mais de dois mil eventos de caça no Brasil publicados em cinco grupos sobre o assunto no Facebook entre 2018 e 2020. Os registros indicavam acontecimentos em todos os Estados e biomas do país, envolvendo mais de 1.400 caçadores. A pesquisa identificou 4.658 animais abatidos ilegalmente, incluindo indivíduos de espécies ameaçadas de extinção.
Para se obter estes dados, os pesquisadores realizaram a busca por palavras-chave no Facebook, utilizando “caça” e “Brasil” como pontos de seleção. Os cinco primeiros grupos que apareceram foram objetos de análise. A busca por palavra-chave já direciona para os grupos com maior número de membros e movimentações relevantes. Os cinco grupos listados foram criados entre os anos de 2018 e 2020.
Na etapa seguinte, eles analisaram todas as postagens, identificando os animais abatidos e contabilizando os que seriam para consumo. A estimativa é de que tenham sido extraídas cerca de 30 toneladas de carne silvestre.
Espécies nativas de fauna mais visadas
De acordo com o estudo, foram reconhecidas 157 espécies de animais silvestres nesses grupos. Os animais mais caçados são paca (Cuniculus paca), pomba-avoante (Zenaida auriculata), pomba-asa-branca (Patagioenas picazuro) e tatu-galinha (Dasypus novemcinctus). Do total de espécies identificadas, 19 esãto ameaçadas de extinção, como cateto (Pecari tajacu), queixada (Tayassu pecari), anta (Tapirus terrestris), cujubi (Aburria cujubi), jacutinga (Aburria jacutinga), mutum-de-penacho (Crax fasciolata), jacu-de-barriga-castanha (Penelope ochrogaster), jacupiranga (Penelope pileata), coandu-mirim (Coendou speratus) e jabuti-tinga (Chelonoidis denticulatus).
O bioma onde ocorreram mais eventos de caça foi a Amazônia, contabilizando 707 eventos, seguida pela Mata Atlântica, com 688, Cerrado-Pantanal, com 387, Caatinga, com 161, e Pampa, com 103.
As espécies mais caçadas por bioma foram:
Autor principal do artigo, o biólogo brasileiro e pesquisador do Center for International Forestry Research (Cifor-Icraf (Indonésia) e Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (Brasil), Hani El Bizri, afirmou que somente a fiscalização ambiental, da forma como está hoje, não é efetiva para coibir a caça de espécies silvestres.
É necessário pensar em uma gama de ações conjuntas. O que não se pode é deixar como está. A caça é um grande gargalo para a sobrevivência de espécies, principalmente as que já são consideradas em extinção”, completou.
O número levantado é considerado bem inferior ao que acontece na realidade, já que foi um recorte de uma única rede social e envolveu somente os grupos mais vistos. Além disso, há também os caçadores que não utilizam as redes sociais para veicular imagens e vídeos de caçadas.
De acordo com Hani, as redes sociais facilitam a aproximação e a troca de experiências entre os caçadores – o que não aconteceria em outras circunstâncias. “As mídias sociais possibilitam que pessoas de lugares muito distantes façam esse tipo de contato. Quem imaginaria, por exemplo, que um caçador do Rio Grande do Sul poderia falar com um do Acre ou do Amapá, que um comente a foto do outro e que troquem informações e técnicas de caça? Criou-se um ambiente em que eles conseguem interagir em distâncias muito grandes”, completou.
Sobre a propagação de informações sobre caça pelas redes sociais, o estudo enfatizou que a publicação desse tipo de conteúdo torna os donos das plataformas cúmplices da caça ilegal, de acordo com a legislação brasileira. Em 2022, o Ibama multou em 2 milhões de dólares a Meta, proprietária do Facebook, do Instagram e do WhatsApp, pela exposição de venda ilegal de animais silvestres.
O Fauna News fez contato com a assessoria de comunicação do Facebook para saber quais providências a empresa tem tomado para resolver o problema, porém não obteve resposta até a data de publicação desta matéria.
Três pesquisas revelaram que pelo menos 90% da população brasileira é contra a caça. Em 2003, pesquisa do Ibama mostrou que 90% dos brasileiros desaprovam a prática. Em 2019, a ONG WWF Brasil encomendou ao Ibope uma pesquisa semelhante, que mostrou que 93% dos brasileiros são contra a caça. Em 2022, trabalho do Datafolha conseguiu um resultado de 90%.
Palavras-chave:
Territórios palestinos têm gás e petróleo que podem gerar centenas de bilhões de dólares
Unrwa/ Marwan Baghdadi
Agência destaca que, até o momento, o povo palestino tem sido proibido de explorar as reservas de petróleo e gás em suas próprias terras.
28 Agosto 2019 Desenvolvimento
econômico
Para Unctad, novas descobertas dão oportunidade de distribuir e
compartilhar cerca de US$ 524 bilhões na região; pesquisa recomenda estudos
mais detalhados sobre direito dos palestinos aos seus recursos naturais.
Geólogos e economistas confirmaram que nos territórios palestinos
existem “reservas consideráveis de petróleo e gás natural”. Estes recursos
estão localizados na Área C da Cisjordânia e na costa do Mediterrâneo, ao longo
da Faixa de Gaza.
A informação consta do estudo intitulado O Custo Econômico da Ocupação do Povo Palestino: O Potencial Não Realizado de Petróleo e Gás Natural da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento, Unctad.
Uma mulher deslocada alimenta uma criança em Gaza. Foto: © Banco
Mudial/Natalia Cieslik
Petróleo
De acordo com a pesquisa, as novas descobertas de gás natural na Bacia
do Levante estão na faixa de 122 trilhões de pés cúbicos, enquanto a quantidade
de petróleo recuperável ronda os 1,7 bilhão de barris.
Estes recursos oferecem “uma oportunidade de distribuir e compartilhar
cerca de US$ 524 bilhões entre as diferentes partes na região, além de promover
a paz e a cooperação entre os antigos beligerantes”.
Com esses fundos, poderia ser financiado o desenvolvimento
socioeconômico nos territórios palestinos como parte da Agenda 2030 de
Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas, destaca a Unctad.
Exportação
A agência destaca que, até o momento, o povo palestino tem sido
“proibido de explorar as reservas de petróleo e gás em suas próprias terras”,
além da água para atender às suas necessidades energéticas e gerar receitas
fiscais e de exportação.
Segundo o estudo, com essa situação aumentam tanto os custos de
oportunidade quanto os custos totais suportados pelo povo palestino como
resultado da ocupação.
A Assembleia Geral das Nações Unidas adotou várias resoluções sobre a
questão, solicitando que a Unctad avalie e dê informações sobre o custo
econômico da ocupação.
O foco do recente estudo é o petróleo e o gás natural “devido ao seu alto valor e à importância crítica em atender potencialmente às necessidades básicas da Palestina por energia, e pelas receitas fiscais e de exportação”.
Banco Mundial/Natalia Cieslik
Crianças em Gaza, onde cerca de 1 milhão de refugiados palestinos
precisam de assistência.
Auxílio
O trabalho identifica e avalia as reservas existentes, além do potencial
de petróleo e do gás natural que podem ser explorados pela Palestina. O novo
estudo sobre o auxílio aos palestinos deve ser publicado no dia 10 de setembro.
De acordo com a Unctad, nas novas descobertas de petróleo e gás natural
no Mediterrâneo Oriental também é fundamental ressaltar “que Israel começou a
explorar para seu próprio benefício, enquanto esses recursos podem ser
considerados compartilhados, já que o petróleo e o gás natural existem em
consórcios comuns”.
Os especialistas advertem que recursos que poderiam ser uma fonte de
riqueza e oportunidades, podem ser desastrosos se explorados de forma
individual e exclusiva, sem a devida consideração pelas leis e normas
internacionais”.
Fronteiras
Os custos da exploração dos recursos naturais palestinos por
Israel, incluindo petróleo e gás natural, “impõem enormes custos e estão
aumentando à medida que a ocupação continua em vigor”.
A pesquisa destaca ainda a particularidade destes recursos não serem
renováveis, apontando que as gerações atuais não são necessariamente as únicas
proprietárias. De acordo com o estudo, estes se estendem por fronteiras
nacionais e “podem, portanto, ser de propriedade conjunta de múltiplos Estados
e gerações”.
A pesquisa recomenda mais estudos detalhados “para estabelecer
claramente o direito do povo palestino a seus recursos naturais de forma
separada”.
Entre as outras questões a serem avaliadas estão ainda a participação
legítima destas populações em recursos comuns de propriedade coletiva de
Estados vizinhos da região, incluindo Israel.
Aproximadamente 3,5 mil m² de extensão de orla serão entregues a empresa em projeto de concessão
Foto: Metropress/Leonardo Lima
Por: Laisa Gama no dia 12 de setembro de 2024
Reportagem publicada originalmente no Jornal Metropole em 12 de setembro de 2024
Pensar em Salvador é visualizar praias como principal atividade de lazer, areias lotadas, banhistas se refrescando nas águas mornas de mais de 100 km de orla, um verão eterno, correto? Errado. Há 14 anos, esse cenário deixou de existir na capital baiana. Com a retirada das barracas de praia e principalmente a posterior ausência de alternativa ou alternativas frustradas, boa parte da orla da capital segue submersa a um deserto de banhistas, de atividade econômica, de lazer e cultura.
Agora, 14 anos depois, um projeto promete o “renascimento” da orla. Quem sabe até com o glamour de Copacabana. Com toda essa ambição, a gestão municipal resolveu abrir uma consulta pública para que a comunidade deixe sua opiniões e sugestões para um projeto que planeja transformar trechos da Avenida Octávio Mangabeira. Mas não é só transformar. É entregar nas mãos da iniciativa privada para que ela execute as obras, promova a transformação e explore o local por 30 anos. A famosa concessão, o que acontece com as BR’s 116 e 324 na Bahia, administradas, a trancos e barrancos, pela ViaBahia de 2009 até 2034.
O contrato de concessão vai incluir a reforma e manutenção da orla com 34 novos quiosques e 70 barracas entre as praias da Boca do Rio, dos Artistas e de Pituaçu. Ao todo, são 3,5 mil metros, que serão concedidos a uma empresa. A escolha dela, segundo o edital, será feita por concorrência, cujos critérios serão “melhor técnica” e “maior preço” de outorga - valor pago pela empresa à prefeitura. O edital determina que a concessionária garanta a permanência de permissionários e os 60 comerciantes informais. Mas a preocupação não é só essa. É, na verdade, se haverá finalmente um resgate do local. Afinal, não é a primeira tentativa que mirava a orla carioca e acabou enterrando de vez a soteropolitana e deixando esses comerciantes na mão.
No verão de 2015, o então prefeito ACM Neto anunciou um projeto de requalificação com quiosques em Itapuã, Piatã e Jardim de Alah. As estruturas mais pareciam playgrounds, com vidro e alvenaria, completamente descolados do comportamento do banhista e da estética da orla de Salvador. Via licitação, três empresas construíram e locaram os espaços que nem precisaram de muito tempo para ficar às moscas. A esperança é que a história não se repita.