Vivemos uma curiosa época. A divulgação é mais importante que o fato. Exemplo. Uma “famosa” troca de parceiro, o que, a rigor, não tem a mínima importância para você e ainda menos para mim . As redes sociais conseguem que tão insignificante notícia seja veiculada e lida por centenas de milhares de seguidores (sic). O informador virou peça fundamental do quotidiano. Quando se trata da televisão, o patamar chega a nível quase divino.
Anos atrás,
minha casa acabava de ser contemplada com o título de Casa-Museu pelo
Ministério da Cultura. Uma falsa loura que animava um programa de decoração de
interiores me telefona.
“Dimitri!
Vi sua casa na Casa Vogue! É linda! Maravilhosa! Vamos fazer um programa
especial? ” Disfarçando minha ironia, respondi: ”Sim! Claro, querida! Mas me
diga: quanto vão me pagar para filmar minha casa? ”... Silêncio... “Mas pagar?
Como assim? ” conseguiu articular a moça. “Mas evidente. Afinal esta casa é
fruto de anos de trabalho meu. Quanto
vocês ganham com os intervalos comerciais? Nada é de graça nos canais
comerciais. Então, é normal que eu também receba parte da grana”. A falsa loira
desligou quase chorando.
Outra vez,
outra voz, outro canal. Outra falsa loira. “Oi!... Dimitri? Daqui é Fulana. Com
certeza deve assistir a meu programa. Soube de seu concurso de cafezinhos. Você
faz um trabalho fantástico com estes maravilhosos carrinhos! Que fantástico!
Puxa! Que iniciativa legal, genial! Venha cá... Daria para você reunir uns
vinte vendedores, com os carros mais bonitos, claro, na Praça da Piedade, na
próxima quinta-feira ás 13h00? ” Já estou sentindo se aproximar a curtição de
debochar da famosa. ”Sim, claro que posso. Mas vai ter um custo, porque terei
que fazer uma seleção, correr à procura dos escolhidos. Vai ser trabalho para
mim. Para eles, trabalho de graça, mas para seu canal, claro que não. Eles vão
ter que deixar de vender os cafezinhos, portanto também terão que receber um
pró-labore.”. A famosa se engasgando, lá em São Paulo. “Mas não temos verba
para isso! ”. Tive que repetir o mesmo discurso que para o programa de
decoração. Para televisões comerciais, não trabalho de graça, de jeito nenhum.
Aquela
jornalista era morena, jovem e bonita, mas, a serviço da Globo, “se achando”.
No meio do concurso de carros de cafezinhos, nas traseiras do Mercado Modelo,
se permitiu obrigar um concorrente a sair da fila para entrevistà-lo, sem pedir
licença aos organizadores.
Sou de pavio
curto. Rodei a baiana, perguntando com que direito interferia no meu trabalho,
lembrando que o fato é sempre mais importante que sua divulgação. A moça
espumava de raiva, representando naquele momento, só faltando a tiara, a
Monarquia Absoluta New Age.
E como sou
democrata de raiz...
Nenhum comentário:
Postar um comentário