sexta-feira, 3 de janeiro de 2025

FARRA NA CÂMARA

 


A Câmara Municipal de Salvador firmou contrato para o aluguel de 43 veículos tipo SUV destinados ao uso dos vereadores. Conforme a homologação publicada na quarta-feira (1º), o custo mensal será de aproximadamente R$ 206,4 mil, totalizando quase R$ 2,5 milhões por ano.

O contrato, registrado no Diário Oficial do Legislativo, inclui também manutenção e seguro para atender às necessidades dos parlamentares. A empresa vencedora da licitação foi a Multiplicar.
Os veículos alugados serão do modelo T-Cross, da Volkswagen, versão 2025, motor 1.6 ou superior, zero quilômetro, substituindo os atuais modelos Versa.
Além dos SUVs, o contrato contempla a locação de outros veículos, como um micro-ônibus, uma minivan, uma picape, dois sedãs e 15 carros com motor 1.0. O custo total mensal é de R$ 289 mil, equivalente a cerca de R$ 3,5 milhões anuais.
A Câmara Municipal informou que a substituição dos veículos não alterará o valor anual do contrato com a locadora.

Mauro Marconi
É por ai que cada vereador custa quase 600 mil reais mensais ao contribuinte de Salvador.

MISTY

A VELINHA


 

OVERTOURISM

 Turismo global se recupera, mas há cada vez mais resistência ao 'overtourism'

O setor deve movimentar neste ano US$ 3,4 trilhões (cerca de 3% do PIB global), igualando o recorde de 2019

Por  — Veneza

Se você pretende viajar para o exterior neste final de ano, saiba que terá companhia. Muita companhia. O turismo global em 2024 deve atingir o pico de antes da pandemia de covid-19. Só que essa retomada está gerando tensão e reações pelo mundo. Vários destinos turísticos importantes estão adotando medidas para evitar os problemas causados pelo “overtourism”, o excesso de turistas.

Segundo a UN Tourism, órgão da ONU para o turismo, o número de chegadas de turistas do exterior atingiu 1,1 bilhão entre janeiro e setembro deste ano em todo o mundo, já superando em 11% o mesmo período de 2023, mas ainda 2% abaixo de 2019, ano anterior à pandemia e que registrou o pico histórico. A expectativa é que 2024 iguale ou até supere o recorde de 1,465 bilhão de chegadas de 2019, marcando a recuperação total daquele que foi possivelmente o setor da economia mais atingido pela covid-19.

Essa retomada, porém, é desigual. Segundo o mais recente Barômetro do Turismo Mundial, da UN Tourism, três regiões globais já superaram o pico pré-pandemia: o Oriente Médio (29% a mais de chegadas em relação aos primeiros nove meses de 2019), apesar da guerra em Gaza e no Líbano; África (+6%) e Europa (+1%). A América ainda está 2% abaixo, e a Ásia-Pacífico, 15%.

Vários fatores frearam a recuperação do setor de turismo internacional nos últimos anos. Em primeiro lugar, o mundo empobreceu com a pandemia. Vários países mantiveram por muito tempo restrições à entrada de estrangeiros (a China só retomou a concessão de vistos em março de 2023). Além disso, o período de inflação e juros altos pelo mundo, de 2021 até este ano, também reduziu o poder aquisitivo e tornou as viagens mais caras. O petróleo caro também encareceu as viagens. Em 2022, o preço médio do barril atingiu US$ 96,4, o maior dos últimos dez anos. Já neste ano deve ficar em torno de US$ 80, segundo projeção do FMI.

“O crescimento forte do turismo global é uma excelente notícia para as economias pelo mundo”, disse o diretor-geral da UM Tourism, Zurab Pololikashvili, em relatório da entidade neste mês. Segundo ele, isso “tem um impacto direto em milhões de empregos pequenos negócios, contribuindo para o aumento da arrecadação de impostos pelo mundo.”

O setor deve movimentar neste ano US$ 3,4 trilhões (cerca de 3% do PIB global), também igualando o recorde de 2019. O turismo representa uma fatia importante na economia de vários países. Em Portugal, por exemplo, responde por cerca de 9% do PIB. No México, 8,5%. Na Grécia, 7,1%.

Mas nem todo mundo está satisfeito com a retomada forte da circulação global de turistas. Sob pressão da população local, alguns dos principais destinos turísticos do mundo — especialmente nos países ricos — estão adotando restrições para evitar o chamado “overtourism”, a superlotação de turistas, que causa problemas ambientais e sociais.

Talvez o maior símbolo do “overtourism” seja Veneza, na Itália. A cidade foi a segunda maior da Europa em meados do século 14 (atrás apenas de Paris) e chegou a ter 190 mil habitantes no século seguinte, segundo estimativas. Hoje, apesar de ter crescido fisicamente, tem menos de 49 mil habitantes. E recebeu 12,6 milhões de turistas em 2023 (mais do que o dobro que o Brasil).

Segundo críticos, essa superlotação gera degradação ambiental e da infraestrutura. Gera também uma alta do custo de vida que expulsa a população local. A locação de imóveis para turistas é muito mais rentável do que para residentes, o que eleva o preço dos aluguéis. O comércio e o serviço priorizam o turismo, e os turistas querem souvenirs, bugigangas, grifes de moda, restaurantes, cafés e lanchonetes. Eles não precisam de eletrodomésticos, ferragens, sapateiros ou petshops. Com isso, a oferta desses produtos e serviços para os residentes diminui e fica mais cara.

Ocorre ainda uma piora da experiência para o próprio turista. A cidade vai aos poucos perdendo as suas características e identidade e passa por uma espécie de disneylandização, tornando-se menos uma cidade e mais um complexo de atrações, com comércio e serviços (mas também vida cultural) voltados prioritariamente para os turistas.

Nos últimos anos, Veneza tem adotado uma série de medidas para tentar reverter essa tendência, mas ainda com pouco sucesso. O turista que quiser pegar um vaporetto (o barco-ônibus) paga 9,50 euros, contra 1,50 euro dos residentes (que é o valor de um ônibus municipal nas demais cidades italianas). Isso ajuda a subsidiar serviços para a população local. Navios de cruzeiro foram proibidos de atracar no centro da cidade. E, neste ano, Veneza começou a cobrar, de forma experimental, uma espécie de ingresso nos dias e períodos de maior lotação, como fins de semana na alta temporada e feriados. O valor em 2025 será de 10 euros por dia por pessoa (para estadas breves), mas o controle ainda é por amostragem e apenas 440 mil pagaram neste ano. O objetivo é principalmente reduzir o fluxo de turistas que passa apenas o dia na cidade, gastando pouco.

Neste ano houve protestos importantes contra o “overtourism” em várias cidades europeias, como Amsterdã, Barcelona, Málaga e inclusive com episódios de hostilidade contra turistas estrangeiros, como os ataques com pistolas de água em Barcelona.

Isso está forçando países e cidades a adotarem mais medidas de restrição de fluxo e aumento de preços, para tentar conter a “invasão estrangeira” e acalmar os residentes, que, ao contrário dos turistas, são eleitores locais.

Uma das medidas que está se espalhando mais rapidamente é a cobrança ou o aumento do valor de taxas de estadia para os turistas. A Nova Zelândia triplicou recentemente a sua taxa.

Outra medida que está se tornando mais comum é a restrição de locação de curto prazo de imóveis por meio de plataformas voltadas para turistas, como o Airbnb. Cidades como Nova York, Berlim, Barcelona, Londres e Cidade do México aprovaram recentemente leis que limitam esse tipo de aluguel. Amsterdã, por exemplo, permite que o proprietário alugue seu imóvel por curto prazo apenas 30 dias por ano. Isso fez despencar a oferta no Airbnb.

Além disso, há uma série de outras restrições sendo adotadas pelo mundo. A capital sul-coreana, Seul, restringiu o horário de acesso ao distrito histórico de Bukchon para o período das 10h até as 17h, após reclamações de residentes de excesso de turistas, de barulho e de lixo nas ruas. Quem for pego fora desse horário é multado.

A cidade de Kioto, no Japão, também restringiu o acesso de turistas a certas áreas do centro histórico, onde residentes estavam com dificuldade de acesso pois as ruelas ficavam congestionadas.

Recém-reaberta após uma reforma e limpeza, a Fontana de Trevi, em Roma, terá limite de 400 visitantes por vez no seu perímetro. Haverá um acesso e saída, e os visitantes não poderão mais se sentar junto à fonte para comer um lanche, como era comum.

Mesmo locais mais isolados estão adotando restrições. Autoridades do Japão e do Nepal limitaram neste ano o número de pessoas que podem subir os montes Fuji e Everest, respectivamente.

Há uma série de críticas ao conceito de “overtourism”, como o fato de a interpretação ser subjetiva e de o problema nem sempre ser o excesso de turistas, mas a ineficiência na gestão das infraestruturas e dos fluxos. Ainda assim, as reações de residentes incomodados estão aumentando, e as restrições também.

Por isso, se você vai viajar ao exterior nestas férias, aproveite. Essas limitações significam que ficará cada vez mais difícil visitar uma série de destinos populares pelo mundo. E mais caro.