domingo, 6 de abril de 2025

O PALACETE TIRA-CHAPÉU


Desde o anúncio da reabilitação do Tira-Chapéu, edifício do italiano Rossi Batista, uma das joias centenárias da Rua Chile – que já foi rua Direita de Santa Luzia e rua Direita dos Mercadores - estava impaciente por me alegrar com o resultado. Poucas semanas depois de abertos, fui conhecer os três restaurantes. Sempre à hora do almoço, já que a idade me aconselha a maneirar as loucuras noturnas.

Dos três sai satisfeito, mas não encantado. Do Pala 7, o tal do francês tão badalado - o Claude Troisgros tem hoje fama nacional - o peixe estava bem grelhado, com tempero de tagine marroquino, o que despertou em mim adormecidas lembranças. A mousse de chocolate, servida com generosidade, veio acompanhada de lascas de amêndoas e molho inglês que pouco acrescentaram. Prazeroso, sem dúvida, mas nada que seja mais excepcional de que uma boa refeição num restaurante normal na França, longe de qualquer estrela Michelin. Posso indicar dez endereços em Paris de qualidade idêntica ou melhor a preços bem razoáveis. O espaço externo, de dia um forno, deve ser agradável à noite, com uma vista bem eclética. Mas até hoje não entendi porque foram necessários sete garçons e garçonetes só para servir o casal. Justificando o trocadilho do nome do estabelecimento?

Do Preta, teria saboreado mais a peixada o cenário fosse menos “cafona chique”. Imensas cortinas azuis, um abominável tríptico azul com veleiros, uma telona onde peixinhos coloridos tentam dar um ambiente marítimo... tudo com ar de solenidade ritualística. Comer tem que, além de restaurar forças, ser uma festa para os cinco sentidos. Ainda bem que a Angeluci está determinada a mudar a decoração. Quanto antes, melhor.

O Casaria, também no térreo, é correto. Mas o serviço, muito gentil como sempre, é de uma confusão dramática. O maitre não vem pegar a encomenda, mas ajuda a tirar os pratos sujos, o sommelier se contenta em colocar talheres e correr de um lado para outro, pagar com pix é um problema e, com a porta abrindo diretamente da rua, multidões a caminho dos outros restaurantes transformam o espaço em corredor.

Vamos colocar estas falhas na conta da imaturidade do belo e muito bem recuperado palacete. Coragem teve o mineiro Antônio Mazzafera em investir polpudas verbas nesta área quando nenhum empresário baiano teria ousado nem meter os pés. Pena não se ter lembrado dos londrinos e sofisticados Claridge e Savoy onde ele se formou, para escapar do atual estilo classe média-média de todas as empreitadas. As ambientações são o talão de Aquiles do palacete. Para concluir esta obra tão importante para o centro histórico, faltou apelar para um ou dois grandes decoradores. Ou estariam em falta nesta terra onde plantando tudo dá?

Dimitri Ganzelevitch

A Tarde, sábado 12 de abril 2025

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