segunda-feira, 14 de outubro de 2019

ESTRONDO NO TABOÃO

Na manhã de 4 de março de 1890, num dia ensolarado, exatamente às 8 e 15, um estrondo seguido de muita fumaça e uma ensurdecedora gritaria provocou pânico na cidade, em especial no território entre o Pelourinho e Santo Antônio para além do Carmo. Correu logo o boato, mais tarde desmentido pelos fatos, de que uma bala de canhão atingira um prédio da Ladeira do Taboão, imaginava-se uma sublevação militar. Outros boatos davam conta de uma explosão na caldeira do Plano Inclinado e até foi cogitada uma explosão no gasômetro.

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Não era uma coisa, nem outra. A explosão existira de fato provocada por um depósito clandestino de pólvora que funcionava nos fundos da Loja de Silva, Ávila & Companhia, comerciantes de ferragens e outros materiais de construção, localizada bem no meio do Taboão. A polícia apurou que foi um acidente por descuido provocado por um empregado da loja que adentrou no depósito com um fósforo e deixou cair acesso, justo, encima de um dos barris de pólvora do estoque.
O estrondo destruí o casarão da loja, cujo telhado voou centenas de metros, deixando um rastro de destruição inacreditável: sete prédios vizinhos ruíram e dezenas sofreram abalos nas estruturas. As janelas da Igreja do Rosário dos Pretos desapareceram e várias casas do Terreiro de Jesus, tiveram as vidraças quebradas. O fogo demorou a ser debelado, invadindo a Rua do Passo.
Num primeiro momento falou-se em 27 mortos e um número incontável de feridos que encheram as enfermarias da Santa Casa da Misericórdia e outros hospitais da cidade. Mais tarde se falou em 40 mortos. O Intendente da cidade, o industrial Luís Tarquínio, compareceu ao local do sinistro e acompanhou durante todo o dia a retirada dos cadáveres e remoção dos escombros.
O Governador, por sua vez, fez plantão no hospital acompanhando os médicos. Na porta do estabelecimento foi preciso destacar uma força policial extra para conter a multidão que queria verificar se havia entes queridos nas enfermarias. Um episódio que chamou a atenção dos brigadistas voluntários foi o de um africano que, soterrado, estava agarrado a um saco de dinheiro de cobre e não admitia ser salvo sem seus pertences. Provavelmente as economias de muitos anos.
A tragédia do Taboão que já tinha sido cenário de desmoronamentos de terra em inícios do século XIX, foi um dos episódios mais tristes e sofridos da história da cidade. O impacto inicial fez o governo tomar medidas duras em torno do armazenamento de pólvora em áreas residenciais e comerciais. Não adiantou grande coisa. Outros sinistros menores, provocados pela mesma causa, ocorreriam na cidade. Trataremos desse assunto em outra oportunidade. A foto que ilustra este post é do último decênio do século XIX.

Luiz Passos

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