As autoridades descobrem a cada dois anos a solução para o centro
histórico e Comércio: ocupar os inúmeros imóveis vazios – antes que desapareçam
- para moradia popular, uma das emergências sociais de nossa capital.
Discursos, manchetes na imprensa, entrevistas na televisão e tudo continua como
dantes até que outra vez se anuncie, etc. O lobby da construção civil estaria
por trás deste permanente “empurra com a
barriga”, como deixou entender recente matéria do G1?
Entretanto, ambos espaços vão se deteriorando, incendiados, caindo em
pedaços mortíferos nas calçadas malcuidadas, sob a permanente incúria dos
responsáveis, focalizados em obras mais... concretas.
De mãos dadas com esta omissão criminosa, temos outro desastre: o da cultura
estatal, nas mãos de quem muito manda e desmanda, mas nada entende, preocupado
em colocar os amigos, as comadres, os parentes que mais deveriam fazer tricô ou
jogar dominó e parar de destruir aquilo que
museólogos, antropólogos e historiadores foram construindo durante décadas.
As únicas formas de cultura hoje prestigiadas são Carnaval, São João e
Réveillon.
Acabo de assinar um manifesto contra as políticas equivocadas da
Secretaria de Cultura do estado da Bahia, juntamente com outros produtores
culturais, cineastas, artistas, gestores, pesquisadores e mestres da cultura
popular. Na minha modesta opinião, o problema não é a nível de secretaria, mas
muito mais lá em cima, quem mais se
preocupa com os jogos de poder do que com a cultura e a memória ora na UTI. Senão, como explicar o Solar Boa Vista
arruinado, o Museu do Cacau abandonado.... Não vamos desfiar, mais uma vez, o
deprimente rosário das omissões de quem não teria direito nenhum de jamais se
omitir.
Posso citar um exemplo? Sendo colecionador de arte popular desde minha
chegada em 1975, tem meio século que reclamo, suplico para que seja criado um
Museu de Arte Popular da Bahia. Ouvidos moucos. Desejando fazer uma doação de
algumas peças excepcionais ao Estado, tentei me comunicar com os órgãos ditos
competentes. Sem qualquer êxito. A dita doação seria um interessante
contraponto/complemento ao que sobrou da escolha de Lina Bo Bardi nos anos 60.
Uma amiga jornalista muito bem relacionada conseguiu falar, com dificuldade,
com o secretário do secretário. Que prometeu me contatar. Já se passaram dois
meses. Silencio sepulcral.
Desisti de fazer qualquer doação. Agora, quem quiser, que compre.
Enquanto os responsáveis dos órgãos ditos competentes não saírem de sua
torre de marfim, o patrimônio continuará desaparecendo, a cultura continuará
sendo a Gení da política e os miseráveis sem teto continuarão nas ruas, praças,
viadutos e passarelas da tão cantada – e tão cansada - Primeira Capital do
Brasil.

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