sexta-feira, 11 de julho de 2025

A CULTURA MASSACRADA

 

 

As autoridades descobrem a cada dois anos a solução para o centro histórico e Comércio: ocupar os inúmeros imóveis vazios – antes que desapareçam - para moradia popular, uma das emergências sociais de nossa capital. Discursos, manchetes na imprensa, entrevistas na televisão e tudo continua como dantes até que outra vez se anuncie, etc. O lobby da construção civil estaria por trás deste permanente “empurra com a barriga”, como deixou entender recente matéria do G1?

Entretanto, ambos espaços vão se deteriorando, incendiados, caindo em pedaços mortíferos nas calçadas malcuidadas, sob a permanente incúria dos responsáveis, focalizados em obras mais... concretas.

Não adinanta protestar. "Eles" não querem ouvir.

De mãos dadas com esta omissão criminosa, temos outro desastre: o da cultura estatal, nas mãos de quem muito manda e desmanda, mas nada entende, preocupado em colocar os amigos, as comadres, os parentes que mais deveriam fazer tricô ou jogar dominó e parar de destruir aquilo que museólogos, antropólogos e historiadores foram construindo durante décadas.

As únicas formas de cultura hoje prestigiadas são Carnaval, São João e Réveillon.

Acabo de assinar um manifesto contra as políticas equivocadas da Secretaria de Cultura do estado da Bahia, juntamente com outros produtores culturais, cineastas, artistas, gestores, pesquisadores e mestres da cultura popular. Na minha modesta opinião, o problema não é a nível de secretaria, mas muito mais lá em cima, quem mais se preocupa com os jogos de poder do que com a cultura e a memória ora na UTI. Senão, como explicar o Solar Boa Vista arruinado, o Museu do Cacau abandonado.... Não vamos desfiar, mais uma vez, o deprimente rosário das omissões de quem não teria direito nenhum de jamais se omitir.

Posso citar um exemplo? Sendo colecionador de arte popular desde minha chegada em 1975, tem meio século que reclamo, suplico para que seja criado um Museu de Arte Popular da Bahia. Ouvidos moucos. Desejando fazer uma doação de algumas peças excepcionais ao Estado, tentei me comunicar com os órgãos ditos competentes. Sem qualquer êxito. A dita doação seria um interessante contraponto/complemento ao que sobrou da escolha de Lina Bo Bardi nos anos 60. Uma amiga jornalista muito bem relacionada conseguiu falar, com dificuldade, com o secretário do secretário. Que prometeu me contatar. Já se passaram dois meses. Silencio sepulcral.

Desisti de fazer qualquer doação. Agora, quem quiser, que compre.

Enquanto os responsáveis dos órgãos ditos competentes não saírem de sua torre de marfim, o patrimônio continuará desaparecendo, a cultura continuará sendo a Gení da política e os miseráveis sem teto continuarão nas ruas, praças, viadutos e passarelas da tão cantada – e tão cansada - Primeira Capital do Brasil.

 Dimitri Ganzelevitch

A Tarde, sábado 12 de juho 2025

 

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