Hoje é o dia. A las quatro de la tarde me despedirei do casarão onde passei pouco mais de quarenta anos, momentos memoráveis, mudando-me para a casa ao lado. Menor, por mim construída uns cem e trinta anos depois da primeira, terá a mesma vista sobre a baía, vista sem a qual minha vida não teria mais sentido. Quero seguir o caminho até o último metro, o último centímetro, olhando para esta temperamental senhora, imutável nas suas irrequietas mudanças.
Entre ela e minha poltrona, as palmeiras continuarão a balançar
preguiçosamente suas palmas e eu a espera da explosão estival dos dois
flamboyants. Tudo por mim plantado nesta terra onde...
O cineasta Bernard Attal vai dirigir três excelentes atores -
Rita Rocha, Igor Epifânio e Marcelo Flores – a ler alguns trechos do livro.
Será a melhor forma de me despedir do teatro Elena Rodrigues. Quanta coragem teve
o Bernard ao reabilitar o esplêndido e desprezado Trapiche Barnabé! Ah! Se
outros empresários tivessem a mesma audácia, como seria diferente o Comércio!
Mas não. Aguardam sempre que o estado resolva tudo. O Carlinhos Brown, por
exemplo, depois de usar e abusar, não poderia ter salvo da decadência o
histórico Mercado do Ouro? Um homem de cultura?
Levarei muita saudade do Solar Santo Antônio, mas é bom virar a página.
O novo capítulo começa com o lançamento das 190 páginas de meu livro de
crônicas
O jasmim do qual falo na coletânea de crônicas - "Minha vida de
jasmim" - ainda está lá, no fundo do solar, trepando alegremente por
três andares, a perfumar até as noites frias do inverno.
Desando nestes curtos escritos por mais de oitenta anos de vida, por
montes, mares e rios de quatro continentes, um pouco ao acaso de minha memória.
Não tendo queda pela ficção, me contento com uma realidade subjetiva.
Nunca pretendi ser objetivo. Você se acha objetivo? Ilusão sua.
Falo muito de amizade. Tenho o culto dos amigos. Uns, atacados por
parasitas, acabam caindo da árvore frutífera, mas os melhores permanecem firmes
e sadios a enfeitar um perpétuo natal.
Como esperamos receber uma multidão de amigos e curiosos, quem comprar o
livro pelo valor especial de R$50 com dedicatória, terá acesso ao evento
teatral.
Não ouso gabar o recheio da publicação, claro, mas é um lindo
livro, graças a dois magos: Nildão - a capa que já por si é uma viagem - e
Maria-Helena Pereira da Silva que fez desta edição um belíssimo objeto.
Não vou perder a oportunidade de mergulhar no proselitismo: ressuscitar
a batida, essa divina bebida. Para o evento, meu amigo e vizinho Ademir me
ofereceu duas garrafas de batida de coco destinadas a quem tiver a coragem de
comprar “Minha vida de jasmim”.
Como não reverenciar Deolindo, o amável bruxo das batidas do Rio
Vermelho?
Dimitri Ganzelevitch
A Tarde, sábado 26 de julho 2025
O livro de Dimitri é uma delícia de se ler. Há em suas crónicas uma poesia e um humor delicado. É um dos lançamentos literários mais importantes de2025
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