sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

DUAS TONELADAS DE QUEIJOS


Pensava aproveitar este espaço para falar do monte de coisas maravilhosas que nos aguardam em 2019, mas como ficar silencioso frente à permanente omissão do Estado e da prefeitura em tudo o que se refere ao centro histórico de Salvador? Não, as poucas obras pontuais realizadas lá e cá, sem plano diretor, não me convencem. É mais palco para briguinhas entre poderes.
Para focalizar somente um órgão, mais uma vez me vejo obrigado a denunciar a Coelba. Além, de nunca ter retirado os contadores das fachadas do bairro de Santo Antônio, mesmo quando agridem azulejos antigos, a fiação continua uma vergonhosa macarronada que os turistas fotografam ironizando.

E não só. Com o conjunto de salas de cinema do Glauber Rocha, os dois teatros da Fundação Gregório de Matos e os recém-inaugurados hotéis de luxo Fera Palace e Fasano, a Praça Castro Alves hoje pode ser considerada como o prestigioso portão de entrada do centro histórico. Mas continua, assim como a rua Chile toda, com o passeio “ornamentado” por postes que são uma verdadeira agressão visual ao patrimônio da UNESCO. Lembro de uma cerimônia no Glauber Rocha para celebrar a decisão de Rui Costa de recuperar os passeios do centro histórico. Espetáculo medieval de bajulação ao governador por parte de sua corte ajoelhada, precedido pelos desafinados Tambores de Jesus. Três anos depois, os passeios pouco ou nada melhoraram.

Na Rua Direita de Santo Antônio, 306, casa recentemente reformada, a Coelba anuncia 60 dias de espera para fazer a ligação. Inquilinos na escuridão, sem geladeira nem ventiladores durante o Natal e o Réveillon, qual é o problema?

Pior aconteceu na Fazenda Liberdade, no município de Jussari, onde duas toneladas de queijos – mozzarella de búfala, bolinhas, burratas, minas frescal, queijo coalho, provolone e ricota – foram incineradas após onze dias sem energia! “O desrespeito da Coelba, que (...) trata com indiferença e desdém os seus clientes, que não arca com as suas responsabilidades porque se ampara num sistema judiciário conivente pela sua lentidão e que oferece inúmeros recursos para que a mesma continue tranquila e confortável agindo irresponsavelmente (...), por não ter concorrentes e poder agir livremente sem nenhuma preocupação pois não precisa responder por seus atos.(...) São 10 famílias que vão ter que se esforçar para não esquecer o verdadeiro sentido de Natal! ” desabafa Maya Barros, administradora da fazenda. E o aeroporto que ficou impedido de funcionar durante mais de 20 minutos? Roubo de cabos em pleno dia? Você acredita?

O contribuinte pagou este ano mais de 3 trilhões de reais em impostos. Qual a parte que nos cabe neste latifúndio de privilégios e omissões?

Dimitri Ganzelevitch
A Tarde
sábado 29 de dezembro de 2019

2 comentários:

  1. Excelente reflexão...e parabéns por não calar diante do descaso das instituições, e das autoridades para com o Centro Histórico de Salvador...

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  2. Até quando Catilina abusará da nossa paciência?

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