Prisão de PMs no Rio demonstra importância das câmaras corporais
Elas gravaram pedido de propina apesar de policiais acusados de corrupção terem tentado sabotá-las
A Corregedoria da Polícia Militar do Rio deflagrou na semana passada uma operação que resultou na prisão de 22 PMs acusados de extorquir dinheiro de comerciantes da Baixada Fluminense. Para esclarecer os crimes e obter as provas da corrupção, as câmaras corporais usadas pelos policiais foram fundamentais. O episódio é mais uma demonstração da relevância desses equipamentos, já adotados ou em fase de implantação em dez estados. Explica também boa parte da resistência e dos questionamentos das corporações policiais.
No episódio, apelidado “tour da propina”, policiais do 20º Batalhão (Mesquita) e de outros quartéis deixavam de atender a população para achacar comerciantes de Nova Iguaçu. Na ronda, exigiam não apenas dinheiro, mas também mercadorias como cerveja ou frutas. A extorsão ocorria às sextas-feiras em lojas de material de construção, depósitos de gás, de bebidas ou ferros-velhos. A sirene das viaturas era acionada para avisar os comerciantes. Os PMs acusados de corrupção disputavam os pontos de extorsão. Foram alvos da operação quatro soldados, seis cabos, 11 sargentos e um subtenente. Eles foram denunciados por corrupção passiva, negativa de obediência e associação criminosa.
Os crimes começaram a ser investigados depois de uma denúncia anônima para a Corregedoria. Parte dos acusados tentou danificar as câmaras corporais para não produzir provas contra si mesmos. Não deu certo. Alguns aparelhos deixaram de gravar imagens, mas continuaram a registrar o áudio. Num trecho, um sargento diz com a maior desfaçatez: “Vou usar câmera sempre que não estiver cometendo crime. Eles podem até parar de ficar me olhando, que não adianta. Não vou cometer crime com eles me olhando”.
O grupo criminoso despertou suspeita também pela tentativa de burlar as câmeras corporais, de uso obrigatório no estado do Rio (deixar de usá-las pode resultar em punição ou até mesmo exclusão). De acordo com as investigações, alguns policiais nem sequer pegavam as câmeras no início do trabalho. Outros as escondiam ou destruíam as lentes.
Apesar da resistência de alguns, as câmeras corporais têm sido cada vez mais usadas. Além do Rio, estão presentes em São Paulo, Santa Catarina, Bahia, Minas Gerais, Pará, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Rondônia e Roraima. Na maior parte das ações, não há motivo razoável para policiais se insurgirem contra o monitoramento. Ele é uma garantia para eles e para o cidadão. Nas investigações, podem servir tanto para incriminar quanto para absolver. Como mostra o lamentável episódio do Rio, só deve temê-la quem não honra a farda que veste.
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